Depois que Irina me mostrou a mansão e os meus afazeres ela me levou até onde seria meus aposentos e Apartir daquele momento minha vida nunca mais séria a mesma aquele era meu destino agora viver sobre o teto de um homem que a qualquer momento acabaria com a minha vida em um piscar de olhos na menor brecha possível
Quando a porta se fechou com um clique seco.
Fiquei parada, encarando o quarto à minha volta como se fosse uma cela de luxo. As paredes em tom creme, a cama arrumada com lençóis de algodão branco impecável, o guarda-roupa ornamentado e uma penteadeira antiga compunham um ambiente que deveria passar conforto. Mas ali, tudo parecia ter sido decorado para camuflar o cárcere. Um cárcere de silêncio.
Irina havia deixado o uniforme dobrado sobre a cama antes de sair. Disse, com a voz cortante, que eu deveria acordar antes do chefe. "Ele detesta esperar", ela alertou, sem sequer me encarar. E então se foi, me deixando sozinha — com meus pensamentos e meu medo.
Soltei o ar devagar, tentando ignorar o nó crescente na garganta. Caminhei até o banheiro, que era tão impecável quanto o resto da mansão. A água quente correu sobre meu corpo, mas não me aqueceu. Era como se a temperatura lá dentro não pudesse tocar meu coração.
Vesti uma roupa confortável que encontrei dobrada numa gaveta — uma blusa de algodão larga e um short simples. Sentei-me na beira da cama, sem saber o que fazer com o peso no peito. O quarto estava em silêncio absoluto, mas dentro de mim, o barulho era ensurdecedor: saudade, medo, desespero... e a certeza de que eu nunca mais veria minha família.
Deitei. O colchão era macio, mas meu corpo parecia feito de pedras. O travesseiro absorveu minhas lágrimas até ficar encharcado. Eu chorei a noite inteira, em silêncio, mordendo o lençol para não gritar. O tempo passou devagar, como se a noite nunca fosse acabar.
Mas acabou. E o amanhecer chegou como uma sentença.
**
O alarme que Irina havia deixado tocou às 5h30. Me levantei com os olhos ardendo e a cabeça pesada. Peguei o uniforme.
Quando o vesti, percebi de imediato que não era do meu tamanho. O tecido preto e justo marcava demais as minhas curvas. O decote era alto, mas a parte do tronco apertava tanto que me deixava ofegante. O avental branco mal escondia a cintura fina. A saia, um pouco acima do joelho, moldava meus quadris como se tivesse sido desenhada para chamar atenção. Senti-me exposta. Desconfortável. Mas não havia outra opção.
Meus cabelos ruivos — lisos com ondas suaves nas pontas — estavam presos em um coque como exigido. Olhos verdes como esmeraldas,agora manchados de vermelhidão pelo choro da noite. Lábios rosados, carnudos, tremendo de nervoso.
Assim que desci, percebi os olhares. As outras empregadas me fitaram com expressões que misturavam julgamento e veneno. Não houve sorrisos, nem boas-vindas. Apenas cochichos e olhares atravessados. Uma delas, uma loira de olhos puxados chamada Mila, aproximou-se.
— Vincent toma o café às seis. Leve isso para ele. — estendeu uma bandeja com xícara de porcelana branca, uma pequena jarra de leite, e um açucareiro. — Seja pontual.
Havia algo de errado no tom dela. Mas peguei a bandeja e subi as escadas, tentando controlar o tremor nas mãos.
A porta do quarto dele estava entreaberta. Bati duas vezes, hesitante.
— Entre. — sua voz soou do outro lado, firme.
Empurrei a porta com o cotovelo e entrei. O quarto era escuro, as cortinas pesadas bloqueavam a luz. Vincent estava de pé junto à janela, vestindo apenas calça preta e uma camisa aberta, revelando o peito definido e a tatuagem que subia pelo pescoço. Ele se virou lentamente, seus olhos me analisando da cabeça aos pés.
— O que é isso? — perguntou, sem se mover.
— Seu café, senhor... Mila pediu que eu trouxesse.
Coloquei a bandeja sobre a mesa lateral e recuei um passo. Ele pegou a xícara e levou à boca.
Um segundo depois, cuspiu violentamente o líquido no chão.
— O que você fez?! — rosnou, os olhos agora acesos como os de uma fera.
Antes que eu pudesse explicar, ele atravessou o quarto com um movimento ágil demais para o tamanho dele. Suas mãos se fecharam ao redor do meu pescoço. Fui erguida do chão, os pés balançando no ar. Tentei falar, mas o aperto impedia. A pressão era imensa, os olhos dele queimavam os meus.
— Você ousa me envenenar? — rugiu. — Você acha que pode brincar comigo? Eu deveria cortar sua língua agora mesmo.
As lágrimas começaram a escorrer do canto dos meus olhos, os braços se debatiam inutilmente. Eu sufocava.
— Eu... não... fui... eu... — tentei dizer, a voz saindo em pequenos gemidos entrecortados.
Ele me olhava como se eu fosse um inseto. As veias de seu pescoço estavam saltadas, e o cheiro de café derramado ainda pairava no ar, misturado ao de medo.
— Eu deveria matar você agora. Uma lição. Um exemplo.
Meu corpo já não reagia direito. As mãos agarraram o braço dele com força, implorando por ar.
— Foi... Mila... — consegui sussurrar, quase inconsciente. — Ela... ela me deu...
Vincent congelou. Seus olhos fitaram os meus, como se procurassem traços de mentira. Por um segundo eterno, nada se moveu. E então, ele me soltou.
Caí no chão como um saco de ossos, arfando, puxando o ar em golfadas. A garganta ardia como se mil lâminas tivessem passado por ela. Tremendo, encolhi-me no chão, sentindo o gosto do terror na boca.
Vincent se afastou, caminhando até a mesa.
— Da próxima vez, não explicarei duas vezes. Eu mato. — disse sem sequer olhar para mim. — Levante-se. Saia. E diga a Mila que irei falar com ela... pessoalmente.
Eu me ergui com dificuldade, as pernas fracas como papel. A visão embaçada pelas lágrimas. Cambaleei até a porta, ainda ouvindo a respiração pesada dele atrás de mim.
E entendi, enfim, a profundidade daquele lugar.
Ali, qualquer erro podia ser o último.
Continua...
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Atualizado até capítulo 44
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