O carro diminuiu a velocidade e, pela primeira vez em toda a viagem, senti algo diferente: pavor revestido de fascínio.
Através da janela escura, vislumbrei os contornos de portões dourados gigantescos que se erguiam à frente como os portões do próprio inferno. Não havia nada acolhedor ali, apenas imponência. Dois homens em ternos pretos, ombros retos e expressões impassíveis, estavam postados ao lado das colunas do portão. Fuzis pendiam em suas costas, e seus olhos, escondidos por óculos escuros, se voltaram imediatamente para o carro que liderava o comboio — o de Vincent.
O portão se abriu sem um som sequer, suave como um suspiro. Um suspiro... antes do mergulho.
O carro avançou devagar, engolido por aquela propriedade que mais parecia um universo paralelo. O caminho era ladeado por jardins milimetricamente aparados, flores exóticas e árvores de copa larga. No centro da propriedade, uma fonte de mármore branco lançava jatos d’água em formas graciosas, mas aquilo não me trazia paz — era quase como se o som da água fosse usado para disfarçar os gritos.
O caminho de pedras brancas seguia até a entrada de uma mansão imensa. A construção era toda branca, de linhas elegantes, colunas clássicas e sacadas com grades de ferro trabalhado. Uma beleza gélida. Imponente. Assustadora.
Ao redor da propriedade, homens vestidos com trajes formais, camisas negras e coletes à prova de balas, caminhavam atentos. Alguns conversavam em russo, outros se posicionavam em pontos estratégicos com armas nas mãos, e todos, sem exceção, tinham aquele acessório discreto na orelha — comunicadores que tilintavam com ordens em murmúrios. A segurança não era apenas intensa. Era militar.
Quando Vincent saiu do carro, todos pararam o que estavam fazendo. Os que estavam mais próximos se voltaram para ele com respeito absoluto. Inclinavam a cabeça, batiam o punho fechado contra o peito ou diziam palavras baixas — algo entre um cumprimento e uma jura silenciosa de lealdade.
Ele era o rei daquele território branco e mortal.
A porta do meu carro foi aberta sem que eu pedisse. Um dos homens ao meu lado me olhou e disse, com um sotaque carregado:
— Saia.
Minhas pernas hesitaram por um segundo. Depois obedeceram. Eu saí do carro, e o ar que respirei ali fora era mais denso. Quase sólido. Como se a atmosfera da mansão tivesse sua própria gravidade. Um ar pesado, carregado de segredos e sangue.
Vincent me lançou um olhar de soslaio. Nada disse. Apenas caminhou em direção à porta da mansão, e eu fui obrigada a seguir seus passos, como uma sombra perdida atrás da figura que agora governava o meu destino.
A entrada era feita de portas duplas em madeira escura, entalhadas à mão, adornadas por maçanetas douradas que reluziam sob a luz artificial dos postes ornamentais.
Assim que ele empurrou as portas, o mundo lá fora desapareceu.
Dentro da mansão, o silêncio era espesso. Um hall gigantesco se abria, decorado com mármores polidos, lustres de cristal pendendo do teto abobadado, tapeçarias finas nas paredes, e uma escadaria dupla se estendendo como braços prontos para engolir qualquer um que ousasse entrar.
Uma fila de mulheres uniformizadas estava à espera. Eram as empregadas — vestidos pretos com aventais brancos, cabelos presos em coques perfeitos, mãos entrelaçadas à frente do corpo e olhares submissos.
Quando Vincent passou, elas se curvaram com precisão cronometrada. Um gesto treinado, quase ensaiado. Nenhuma sequer ergueu os olhos para encará-lo.
Vincent andou por entre elas como um general inspecionando suas tropas. Seus passos ecoavam nas paredes do mármore como batidas de um tambor de guerra.
Ele parou diante de mim e falou com voz baixa, mas tão afiada quanto uma lâmina:
— Aqui dentro, tudo o que vê... tudo o que ouve... morre aqui dentro.
Seus olhos frios cravaram nos meus.
— Você vai trabalhar. Obedecer. Não perguntar. Não pensar. Se quebrar alguma dessas regras... — ele se inclinou ligeiramente para perto de mim, seu hálito roçando minha pele. — ...não precisarei levantar um dedo. Esta casa cuida dos que quebram as regras.
Meu estômago se revirou.
— A partir de hoje, é minha empregada particular. Vai me servir, vai estar à disposição. E se eu disser "vá embora", você some. Se eu disser "fique", você permanece calada. — Ele virou as costas. — E se eu não disser nada... você espera.
Eu não consegui responder. Nem sim, nem não. Só fiquei ali, com o coração esmagado entre os ossos do peito e o sangue martelando nos meus ouvidos.
Uma mulher de rosto magro e expressão dura se aproximou. Carregava um crachá com o nome "Irina".
— Venha — disse, ríspida. — Eu vou te mostrar seus aposentos e suas obrigações.
Antes de segui-la, olhei para Vincent mais uma vez. Ele já estava de costas, subindo lentamente os degraus da escadaria com a segurança de quem nunca precisou correr.
A mansão era mais do que uma casa. Era uma fortaleza. Um labirinto de silêncio, medo e segredos.
E agora, eu fazia parte dele.
Continua...
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Atualizado até capítulo 44
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