O som da porta se fechando atrás de mim foi como o baque de um caixão sendo lacrado. Definitivo. Incontestável.
O mundo que existia do lado de fora já não me pertencia.
O corredor escuro e silencioso parecia se alongar mais do que deveria. Vincent caminhava à minha frente com passos lentos, quase solenes, como se estivesse conduzindo uma procissão fúnebre. Talvez fosse exatamente isso.
Do lado de fora, um carro preto me aguardava. Blindado, janelas com vidro fumê, a pintura tão polida que refletia as luzes da rua como um espelho sombrio. Uma máquina feita para engolir segredos.
Quando a porta se abriu, dois homens de preto — os mesmos que estavam na sala — me indicaram com o queixo para entrar.
Obedeci.
Fui colocada no banco traseiro do carro que seguia atrás do de Vincent. Um dos homens sentou à minha esquerda, o outro à direita. Seus ombros largos encostavam nos meus, seus olhos fitavam o nada, mas sua atenção... estava toda em mim. Eu era um pacote precioso. Ou talvez... perigoso.
O carro arrancou com suavidade, mas a viagem parecia sacudir o pouco que restava da minha alma. Cada quilômetro me afastava mais da única vida que eu conhecia.
Meus dedos se contraíam nervosos no colo, os olhos presos à janela escura que me negava o direito de ver o mundo lá fora.
Por dentro, eu era uma tempestade.
“Será que estou indo para a morte?”
Essa pergunta se repetia como um sussurro cruel dentro de mim, vez após vez. “Será que me venderão? Será que serei entregue a monstros?”
Meu estômago revirava a cada suposição. O coração batia rápido, como se estivesse tentando fugir do peito antes de mim.
“E se for um mercado de tráfico humano?”
“E se ele só estiver esperando a hora certa para me matar e mandar meu corpo de volta em partes para o meu pai?”
“E se ele for um psicopata disfarçado de cavalheiro sombrio?”
Engoli em seco. Minhas mãos ainda tremiam, embora eu as escondesse entre as pernas.
Doía respirar.
Vincent não havia dado nenhuma pista. Nada além daquele olhar cinzento, impenetrável, como concreto molhado prestes a endurecer. Um homem que sorri enquanto assina a sentença de alguém.
Mas talvez o pior de tudo... fosse o vazio.
O vazio no meu peito.
Um buraco escuro onde antes moravam minha família, meus sonhos, meus planos — todos engolidos pelo gesto desesperado de proteger quem eu amava.
E agora... talvez eu nunca mais os veria.
Pensei no meu pai.
Na forma como ele tentou me impedir.
Na voz dele, embargada, ao gritar meu nome.
Em como seus olhos suplicavam para que eu recuasse.
Mas eu não recuei.
“Eu sou tudo que ele tem...”
Era verdade.
Mas agora ele não tinha mais nada.
E os meus avós?
Será que eles entenderiam meu gesto?
Ou me culpariam por sumir daquele jeito, por abandoná-los?
Fechei os olhos, tentando manter as lágrimas presas, mas elas encontraram brechas, escorreram mudas pelas minhas bochechas.
Chorar em silêncio era a única forma de não entregar a dor àqueles homens ao meu lado.
Eles não mereciam minha fraqueza.
“Mas e se eu nunca descobrir quem é Vincent de verdade?”
“E se ele não for só um criminoso?”
“E se houver algo maior, algo mais sombrio por trás disso tudo?”
Eu não sabia.
E o não saber era um tipo de tortura.
Apenas o som dos pneus rolando no asfalto preenchia o ar.
Sem destino aparente. Sem palavras.
Só a minha mente, explodindo em milhares de perguntas sem respostas.
E em meio a esse caos interno, só havia uma certeza:
Eu já não era mais a mesma.
Algo dentro de mim havia morrido naquela sala...
...e algo novo, algo que eu ainda não compreendia, nascia no escuro daquela viagem.
Talvez medo.
Talvez força.
Talvez loucura.
Mas seja o que for, eu precisaria disso para sobreviver ao mundo para o qual estava sendo levada.
Porque agora... não havia volta.
Continua...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 44
Comments
彡 Misaki ZawaZhu-!
Autora, você está me deixando ansiosa demais! Quero mais capítulos agora!
2025-06-04
0