Oliver
O som abafado do celular vibrando no bolso do meu paletó interrompeu o silêncio no camarim. Matteo ajeitava minha gravata, mas parou.
Ele sabia. Pelo toque.
Era Hugo.
Meu tio.
O homem que me criou depois que meu pai morreu. Que assumiu o império da máfia francesa quando tudo desmoronou. Frio por fora, mas com um código interno inquebrável: família acima de tudo.
Atendi.
— “Oliver... precisamos conversar.”
A voz dele soou firme, com o tom que eu conheço bem. Aquela combinação letal de frieza e decisão já tomada.
— “Fale.” — respondi, direto.
— “O conselho está pressionando. Dizem que você já devia estar casado. Um nome como o seu precisa de estabilidade. Uma esposa.”
Inspirei devagar, observando meu reflexo no espelho à frente.
— “Tenho o controle de alianças, acordos e territórios. Meu nome já sustenta respeito. Casamento não vai mudar isso.”
— “Vai sim. Não por poder. Por tradição. Você sabe como as coisas funcionam.”
Sim, eu sabia.
Porque eu cresci vendo o preço de não seguir o jogo.
Naquela manhã, meu pai saiu de casa para levar minha tia, esposa do meu tio Hugo, a uma consulta de rotina da gravidez.
Ela estava no oitavo mês de gestação.
Minha mãe iria acompanhá-los, mas acordou indisposta, com febre, e acabou ficando em casa.
A carona foi um favor. Um pedido feito por Hugo, que teve que viajar às pressas a trabalho naquela semana.
Mas eles nunca chegaram ao consultório.
O carro foi interceptado e explodido antes de dobrar a próxima esquina.
Meu pai morreu na hora.
Minha tia também.
Com ela, o bebê que ainda carregava no ventre.
O plano era matar os três.
Mas o destino — ou o acaso — fez minha mãe ficar viva.
O que deveria ter sido o fim de toda uma linhagem... falhou por pouco.
Hugo enlouqueceu por dentro.
Não descansou até encontrar quem armou o atentado.
E quando encontrou, eles tiveram o fim que mereciam.
Porque uma coisa ficou clara desde aquele dia:
Ninguém toca na família Armand... e continua vivo pra contar.
— “E se eu não quiser casar?” — perguntei, ainda olhando para o espelho.
— “Você não tem escolha. O conselho deu um prazo. Três meses.”
Três meses.
— “Ou você escolhe alguém... ou eles escolhem por você. Estão cogitando uma das herdeiras da Cosa Nostra.”
Ótimo.
Além de tudo que já carrego, agora tenho que sorrir para uma futura esposa imposta.
— “Entendido.” — finalizei e desliguei.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
Matteo me observava como sempre: atento, calado, leal.
— “Vai cumprir?” — ele perguntou, sabendo a resposta.
— “Vou.” — disse com firmeza.
— “E já tem alguém em mente?” — ele provocou com um meio sorriso.
Sem querer, minha mente puxou a imagem dela.
Luara.
O olhar direto.
O jeito calmo, quase desafiador.
Como se não se importasse com quem eu era.
Como se... enxergasse além.
Ela podia ser um risco.
Mas talvez...
A melhor jogada de todas.
Suspirei.
Melhor eu parar de pensar nisso e me preparar para a palestra — já está quase na hora.
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Oliver
A sala de eventos da General Motors estava impecável. Luzes estrategicamente posicionadas, pessoas importantes em cada canto e um ar de expectativa no ambiente. O tipo de atmosfera que eu domino com facilidade.
Meus passos ecoaram no palco de madeira escura enquanto o mestre de cerimônias me anunciava.
— “Senhoras e senhores, com vocês, Oliver Armand, CEO da O.L Armand e referência internacional em negócios e inovação.”
Aplausos.
Muitos.
Mas já estou acostumado com isso. Não me movem.
Ajeitei o terno preto sob medida, caminhei até o centro do palco e olhei para a plateia. Era automático. Um escaneamento rápido. Medir cada reação, cada olhar.
E ali estava ela.
Luara.
Sentada na segunda fileira, ao lado de outros funcionários. Elegante, centrada... mas havia algo nos olhos dela. Um brilho. Curiosidade? Desconfiança?
Não sei.
Só sei que aquilo me prendeu por mais tempo do que eu gostaria de admitir.
Inspirei e comecei.
— “Boa noite. Negócios são como guerras. Os mais bem preparados vencem, os mais fracos se adaptam... ou somem.”
Pausa dramática. Funcionou.
Continuei, alternando entre inglês e português, com traduções simultâneas no telão. Falei sobre inovação, sobre liderança estratégica, sobre como transformar riscos em oportunidades. Falei de números. De crescimento. De poder.
E mesmo com toda a minha experiência em palestras ao redor do mundo, algo naquela sala estava... diferente.
Ou melhor, alguém.
Luara não tirava os olhos de mim. E o curioso é que ela não tinha aquela admiração comum de quem vê um magnata falando — ela analisava. Me estudava. Como se tentasse entender o que havia por trás da fachada.
Boa sorte com isso.
Finalizei a palestra com uma frase que gosto de usar quando quero deixar impacto:
— “Não existe sucesso sem controle. Quem não domina o jogo, será sempre uma peça.”
Aplausos. De novo. Mas dessa vez... não olhei para mais ninguém.
Olhei direto para ela.
E ela sustentou o olhar.
Fria. Inteligente. Desafiadora.
Perigosa.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
bete 💗
demais ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-06-22
1