A lua azul continuava firme no céu de Élarion, agora mais brilhante, quase ofuscante, como se observasse tudo com olhos silenciosos e antigos. O sino ancestral do Santuário ainda ressoava em ondas graves e profundas, cada eco percorrendo os ossos de Cael como um lembrete de que algo havia mudado — não só no mundo, mas dentro dele.
Cael e Lysenn correram pelos corredores do Santuário, acompanhados apenas pelo som das próprias respirações e das runas murmurantes que tremeluziram à passagem deles. As tapeçarias antes serenas agora se contorciam como se alertassem para o perigo. No caminho, mestres arcanos saíam de suas salas, pálidos, murmurando encantamentos de proteção e conjurando selos de contenção nas paredes.
“Para onde estamos indo?” Cael perguntou, desviando por pouco de um círculo de contenção sendo traçado por um velho mago.
“Para o Salão Velado,” respondeu Lysenn com a voz tensa. “Se o selo caiu... precisamos saber o que foi libertado.”
Cael sentia seu corpo reagindo de formas que ele não compreendia totalmente. A mana ao seu redor pulsava de forma errática, como se desejasse escapar do controle. Seus dedos formigavam, e por instinto, ele canalizou energia para as pernas, ganhando velocidade sobrenatural.
Lysenn o notou. “Você está começando a despertar. A mudança está acelerando.”
“É o lobo?”
Ela não respondeu.
Quando chegaram ao Salão Velado, encontraram as portas abertas, escancaradas como uma ferida. O salão era vasto, sustentado por colunas negras cobertas de selos arcanos agora apagados. No centro, um círculo mágico gravado no chão ainda fumegava com os últimos rastros do selo quebrado. No interior do círculo, nada. Apenas o vazio onde algo antes repousava havia eras.
Lysenn se ajoelhou ao lado do círculo e pousou as mãos no chão. Seus olhos dourados brilharam, e ela murmurou em uma língua que Cael não compreendia. Uma brisa fria percorreu o salão, como um sussurro do próprio mundo.
“Algo antigo se libertou,” disse ela. “Mas não foi sozinho. Levou consigo fragmentos daquilo que o prendia.”
Cael se aproximou. “Foi o lobo que vi?”
Ela olhou para ele, séria. “Talvez. Mas se foi, ele não é mais apenas uma lembrança. Ele agora anda entre nós.”
De repente, uma presença se manifestou. O ar ficou denso. Um vulto negro emergiu de uma das colunas — não físico, mas feito de sombra viva. Dois olhos âmbar brilharam na escuridão.
“Cael,” murmurou a sombra com uma voz que parecia vir de dentro da própria mente dele. “Você me sente. Você me conhece.”
O jovem deu um passo à frente, o coração acelerado. “Você é... o que restou de mim.”
“Sou o que você abandonou ao morrer. A memória da fera. A essência do instinto.”
Lysenn lançou um selo protetor ao redor deles. “Não o escute, Cael! Entidades como essa se alimentam do que há de mais instável em nós!”
A sombra uivou, e o som reverberou no salão como um trovão abafado. Cael sentiu algo se contorcendo dentro de si — não medo, mas um chamado. Um apelo à parte de si mesmo que ele havia enterrado.
“Você não é apenas humano agora,” disse a sombra. “Mas também não é apenas fera. Se quiser sobreviver a Élarion, precisará de mim.”
Cael hesitou. Lysenn se preparava para atacar, mas ele levantou a mão.
“Espere,” disse ele. “Se essa coisa é parte de mim, destruí-la seria como negar quem eu sou.”
“Ou abrir a porta para a sua própria ruína,” retrucou ela.
O silêncio caiu por um instante. E então, com uma expressão decidida, Cael deu um passo à frente e encarou o vulto.
“Então prove que posso confiar em você. Mostre o que sabe.”
A sombra sorriu — ou ao menos pareceu sorrir.
“Siga-me até a Floresta de Ossian. Lá, onde a lua azul toca as raízes do mundo, tudo será revelado.”
E com isso, desapareceu.
Cael virou-se para Lysenn. “Eu tenho que ir.”
“Então vou com você,” respondeu ela, sem hesitar. “Se vamos enfrentar os ecos do seu passado, é melhor não fazer isso sozinho.”
E sob a luz da lua azul, ambos partiram em direção ao desconhecido, onde os sussurros de antigos lobos ainda ecoavam entre as árvores ancestrais.
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Atualizado até capítulo 82
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