O interior do Santuário era ainda mais impressionante do que Cael imaginava. O chão era feito de mármore claro com cristais azulados que brilhavam suavemente sob os pés. Salões vastos se conectavam por arcos encantados e portas que se abriam com o simples toque da presença mágica. Nas paredes, vitrais mágicos retratavam eventos antigos — guerras elementais, pactos arcanos e figuras imponentes com olhos brilhantes e roupas cerimoniais.
Cael seguia Lysenn em silêncio, absorvendo cada detalhe. O lugar parecia respirar poder. Não o mesmo tipo de poder bruto e selvagem que conhecia, mas uma força mais sutil, controlada — quase viva. A magia parecia observá-lo, estudar cada passo, como se o próprio Santuário decidisse se ele era digno de estar ali.
“Você dormirá no Salão dos Convidados,” disse Lysenn, levando-o até uma porta de madeira esculpida com runas. “Não costumo trazer forasteiros aqui. Então, evite vagar sozinho. Este lugar tem... vontades próprias.”
Cael entrou e encontrou um quarto simples, mas confortável. Havia uma cama de madeira escura, uma pequena lareira acesa, uma escrivaninha com pergaminhos, e uma janela aberta para a floresta mágica. Ele suspirou e sentou-se na cama, tentando compreender o turbilhão de eventos recentes.
“Lysenn,” chamou ele, antes que ela se afastasse. “Você disse que minha essência foi... purificada. Mas por que ainda sinto algo estranho dentro de mim?”
Lysenn hesitou. “Porque parte do lobo pode ter cruzado com você. Talvez não em forma, mas em eco. Algo adormecido. Algo que pode despertar.”
“Isso é um problema?”
“Pode ser.”
E ela se foi, deixando Cael com perguntas demais e respostas de menos.
Durante horas, ele permaneceu acordado, observando o luar púrpura entrar pela janela. Tentou sentir algo — magia, espírito, fúria — mas havia apenas o silêncio do novo mundo. Então, quando finalmente adormeceu, os sonhos vieram.
Ele se viu correndo por uma floresta, mas não com pés humanos. Suas patas esmagavam folhas mágicas, e o ar estava impregnado de poder. A lua azul brilhava acima, cheia e silenciosa. E então, ele uivou. Um som poderoso, ancestral, que rasgava o céu como trovão. Era ele, mas não era. O lobo estava lá, dentro do sonho, vivo.
Cael acordou suando, o peito arfando. Estava diferente. Mais... desperto. Aproximou-se da escrivaninha e se encarou no espelho de prata. Seus olhos, por um instante, pareciam ter mudado de cor — do castanho para um âmbar intenso.
“Está acontecendo de novo?” murmurou.
Bateram na porta. Era Lysenn, séria.
“Você sentiu, não é? A magia em você está se agitando. O eco do lobo não foi completamente apagado.”
“Então ele ainda vive?”
“Não como antes. Mas sim, vive. E isso pode ser sua ruína... ou sua salvação.”
Ela entrou e entregou-lhe um cristal azul.
“Este é um foco de energia. Vamos treinar sua conexão com a mana de Élarion. Se você não aprender a controlar o que resta dentro de si... outros perceberão. E nem todos aqui serão compreensivos.”
“Você está com medo de mim?” perguntou Cael, encarando-a.
“Estou com medo do que você pode se tornar,” respondeu ela. “Mas também... do que pode despertar aqui se o lobo renascer.”
Cael fechou os olhos por um momento, segurando o cristal. Sentiu a energia vibrar, e com ela, algo dentro dele respondeu. Um fragmento antigo, primitivo, mas não cruel — um poder que dormia, mas ansiava por viver.
A guerra entre o lobo e o mago estava apenas começando. E Cael sabia que, se quisesse sobreviver, teria que descobrir quem realmente era agora — homem, fera, ou algo novo.
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Atualizado até capítulo 82
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