O caminho até o Santuário foi silencioso, quebrado apenas pelo som ritmado dos passos sobre a terra fofa e pelos sussurros do vento entre as folhas de árvores gigantescas. A floresta parecia viva, como se observasse os dois viajantes com olhos invisíveis. Cael seguia ao lado de Lysenn, absorvendo a estranha beleza daquele mundo novo. O céu permanecia em tons de púrpura e lilás, com pequenas luzes esvoaçantes que dançavam entre os galhos — não vagalumes, mas pequenas criaturas mágicas que cintilavam como estrelas em miniatura.
Ele ainda tentava processar tudo o que ouvira. Havia morrido. Havia sido invocado para outro mundo. E, acima de tudo, havia perdido o lobo que por tanto tempo fizera parte de sua identidade. Aquilo o deixava vazio, como se tivesse deixado um pedaço importante de si para trás.
Lysenn lançou-lhe um olhar de lado. Seus olhos dourados pareciam examinar não apenas sua aparência, mas algo mais profundo — sua essência, sua alma. Ela finalmente quebrou o silêncio com a mesma voz calma e melodiosa de antes:
“Você disse que era um caçador. O que exatamente caçava?”
“Sombras,” respondeu ele, após um momento de reflexão. “Demônios. Monstros que se escondiam nas sombras da cidade. Criaturas que se alimentavam do medo e da dor das pessoas. Eu... usava o que era para proteger quem não podia se defender.”
Ela assentiu com um leve movimento de cabeça. “Aqui, as sombras também existem. Mas tomam outras formas. Corrupções mágicas. Espíritos enfurecidos. Criaturas nascidas do desequilíbrio entre os elementos. E nem todos que enfrentam tais horrores retornam inteiros.”
Cael sentiu um peso nas palavras dela, como se falasse por experiência própria. Ele observou o ambiente ao redor: as árvores tinham folhas translúcidas que pareciam captar a luz ambiente e projetá-la de volta. Pequenos animais com pelagens azuladas e olhos brilhantes corriam pelas raízes entrelaçadas no solo. Havia beleza, sim, mas também um ar de melancolia.
“Esse lugar... Élarion... parece mágico,” comentou ele, ainda absorto na paisagem.
“Élarion é mágico,” respondeu Lysenn. “Mas a magia aqui não é apenas um poder. É parte da própria vida. Flui em tudo — nas plantas, no vento, nos rios, até mesmo em você agora. A travessia da sua alma para cá o alterou de maneiras que ainda não compreendemos.”
Eles alcançaram o topo de uma pequena colina, e então Cael teve a primeira visão do Santuário de Thalor. Era imenso. Torres espiraladas se erguiam para o céu colorido, conectadas por pontes suspensas e varandas de pedra entalhada. As cúpulas eram feitas de vidro azulado que refletia a luz ambiente como cristais, e todo o complexo parecia pulsar com um brilho sutil, como se estivesse vivo.
“Seja bem-vindo ao seu novo lar,” disse Lysenn, com um sorriso breve. “Pelo menos, por enquanto.”
Cael permaneceu em silêncio por um tempo, observando o santuário. Havia algo reconfortante e, ao mesmo tempo, inquietante naquele lugar.
“Por enquanto?” questionou.
Ela virou-se para ele, séria. “Você foi invocado por um ritual proibido. Trouxemos sua alma por necessidade, mas nem todos os mestres de Thalor estão de acordo com sua presença. Ainda há quem questione se foi certo ou não corromper os véus do além.”
“E o que acontece se decidirem que não foi?”
“Isso depende de você,” disse Lysenn, com sinceridade. “Se provar que pode ajudar Élarion, que não é uma ameaça... talvez encontre um propósito aqui. Mas se não...” Ela desviou o olhar. “Talvez precise partir. Ou ser desfeito.”
A palavra ecoou dentro de Cael como um trovão abafado. “Desfeito.” Era uma ideia pior que morrer — ser apagado completamente.
Mas então, algo dentro dele se inflamou. Não a fúria do lobo, mas uma centelha de determinação humana. Ele havia perdido muito. Um mundo. Um corpo. Uma parte de si. Mas ainda tinha vontade. Ainda tinha força.
“Então me mostre como lutar aqui,” disse ele, encarando Lysenn. “Me mostre como sobreviver.”
Ela o fitou por um longo momento, e então sorriu, dessa vez com genuína admiração.
“Você tem o olhar de alguém que já perdeu tudo. Talvez por isso ainda tenha algo a ganhar.”
E juntos, desceram a colina rumo ao Santuário de Thalor, onde o destino de Cael começaria a ser escrito nas páginas vivas da magia de Élarion.
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Atualizado até capítulo 82
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