Corações acorrentados

Todos na cidade viam Serena como um anjo na terra. Onde quer que ela fosse, era reconhecida e cumprimentada, e ela sempre respondia com um doce sorriso, como uma máscara perfeita para ocultar suas verdadeiras intenções. Sua aparência ingênua e doce, com cabelos longos e brilhantes e um olhar gentil, encantava todos que cruzavam seu caminho.

Serena dedicava-se de corpo e alma à floricultura, um espaço que não apenas agradava os olhos, mas também abrigava um lado obscuro dentro dela. Ela não media esforços para ajudar a sociedade, escondendo suas verdadeiras motivações por trás de atos que pareciam benevolentes. A floricultura, cheia de cores vibrantes e aromas envolventes, era a perfeita fachada para as intenções que se moviam, como serpentes em sua mente conturbada.

A tão aguardada liberdade de Thomás estava se aproximando, e isso acendeu uma chama de expectativa e obsessão dentro dela. Ela começou os preparativos para recebê-lo, escolhendo um novo vestido florido, combinando com as margaridas que eram suas preferidas. Foi a um salão para fazer as unhas e o cabelo, cada passo sendo uma construção de uma ilusão em sua mente: assim que Thomás saísse, ele seria dela, eternamente.

Quando o grande dia chegou, Serena vestiu seu novo traje, cada movimento seu carregado de uma ansiedade elétrica enquanto partia em direção à prisão, buquê de margaridas em mãos, pronta para presentear seu "príncipe".

Assim que o viu saindo, um sorriso radiante brotou em seu rosto. Correu em sua direção, pulando em seus braços, envolvendo-o em um abraço apertado, como se quisesse fundir-se a ele. Mas, para sua frustração, Thomás a via apenas como sua pequena irmã adotiva, e rapidamente a colocou no chão, o olhar confuso atravessando suas feições. A sensação de traição subiu como um veneno em suas veias, mas ela rapidamente ignorou, exaltada em seu destino carente ao vê-lo livre novamente, mesmo que a culpa por sua prisão fosse uma sombra concentrada apenas em sua alma.

Ao chegarem à cabana, ela se apressou em apresentar o espaço a ele e, em um impulso ardente, tentou lhe roubar um beijo inesperado. Thomás, mais uma vez, a afastou, confuso.

- O que você está fazendo, Serena? - seu tom era de incredulidade.

- Eu pensei que você havia dito que assumiria a realidade quando saísse - ela respondeu, com um sorriso desarmado tentando ocultar a tempestade que se agigantava em seu interior.

- Acho que você entendeu errado minhas palavras. Eu só quis dizer que cuidaria de você, mas apenas como seu irmão mais velho - explicou Thomás, sua sinceridade tropeçando sobre a compreensão de Serena. As palavras dele a feriram profundamente, fazendo-a sentir-se traída e sozinha. Em sua mente distorcida, ela havia criado a ilusão de que, uma vez livre, ficariam juntos.

Então, a decisão cruel começou a se formar em seu coração endurecido: ela faria de tudo para conquistá-lo, seja por bem ou por mal. Com um sorriso ansioso e sedutor, pediu que ele ajudasse com a floricultura, seu artifício para vigiar cada movimento dele.

Os dias foram se passando, mas Thomás continuava a olhar para ela como a pequena e inocente irmã que sempre fora. O desprezo em seus olhos quando se dirigia a ela a golpeava como um punhal afiado. Serena lutou contra a injustiça que pulsava em suas veias; ela havia feito tanto por ele, sacrificado tanto, e isso não era reconhecido. No fundo, sentia-se como uma rainha ignorada em seu castelo.

A situação se deteriorou ainda mais quando Thomás começou a mostrar interesse por uma jovem cliente que frequentava a floricultura. O coração de Serena se encheu de ódio, uma chama insaciável que consumiu sua sanidade. Ele a pertencia; em sua mente, ela era a única que tinha direito de amar e ser amada.

Movida por esse delírio insano, Serena traçou um plano cruel: drogaria sua comida, fazendo-o cair em um sono profundo e, após isso, ele finalmente seria dela. Quando ele despertasse, não haveria escape.

A manhã chegou, e quando Thomás acordou, descobriu-se acorrentado em seu quarto, a corrente grossa e pesada presa em seu tornozelo, o medo transparecendo em seus olhos. Seu coração disparou, um frenesi de pânico e confusão.

- Serena, o que está acontecendo? Me ajuda a tirar isso! - implorou, enquanto tentava arrancar as correntes que o prendiam.

Ela entrou no quarto, seu sorriso iluminando a escuridão que agora cercava Thomás. A malícia em seu olhar fez seu sangue gelar.

- Ah, meu querido Thomás. Finalmente você é só meu. Prometo que cuidarei de você para sempre - disse ela, acariciando o rosto de Thomás, que rapidamente a afastou, aterrorizado.

- Espera, foi você que fez isso? Por quê? Você está louca? - ele gritou, sua voz carregada de desespero.

- Meu amor, eu fiz isso porque eu te amo! Essa foi a única forma de ter você para mim, eternamente - a expressão de Serena era de crueldade pura, como se estivesse revelando seu único desejo.

- Serena, por favor, me solte. Vamos conversar - ele implorou, mas sua súplica caiu em ouvidos surdos. Serena simplesmente sorriu e saiu, trancando a porta.

Thomás passou o dia todo gritando por ajuda, mas de nada adiantava, pois não havia ninguém por perto a quilômetros. Enquanto isso, Serena estava na cozinha, tranquila, preparando o jantar como se tudo estivesse normal, como se não estivesse aprisionando a própria vida de seu irmão em uma jaula construída de suas obsessões.

- Querido, hora do jantar - disse Serena com uma doçura que mascarava a tempestade de sentimentos que fervilhava dentro dela ao abrir a porta.

- Me solta daqui, sua louca! - Thomás gritou, já em completo desespero.

- Ei, cuidado com o linguajar! Sente-se para jantar - respondeu Serena, sem se abalar. Quando tentou levar a colher em direção à boca dele, Thomás acertou sua mão com um tapa, fazendo-a derrubar a colher no chão. Esse ato desafiador a deixou furiosa.

Retirou um taser do bolso e o usou contra ele, o choque o fazendo cair deitado no chão, gemendo de dor.

- Acho bom você se comportar, meu amor. Eu não quero ter que te ferir novamente. Então, sente-se aqui e coma ou o próximo será pior - disse Serena, seus olhos mudando de cor, tornando-se sombrios e sem alma, uma criatura da noite em busca de controle.

Thomás se levantou, ainda sentindo o efeito do choque, e finalmente obedeceu. A satisfação encheu o peito de Serena; ela conseguiria o que queria, finalmente.

Após alimentar Thomás, Serena saiu do quarto e o trancou novamente, desejando-lhe uma boa noite de sono. Quem consegue dormir sabendo que a psicose está solta do lado de fora?

Na manhã seguinte, ela foi até o quarto novamente, levando-lhe o café da manhã. Mas ao abrir a porta, Thomás tentou atacá-la com um abajur, a fúria emanando de seus olhos. Serena desviou-se rapidamente, atingindo-o mais uma vez com o taser, fazendo-o cair de dor no chão.

- Meu amor, será que você ainda não aprendeu? Vou ter que te castigar por essa atitude - disse ela, jogando o prato no chão e puxando-o pela corrente até o banheiro, onde encheu a banheira e o forçou a entrar.

Com um sorriso distorcido de prazer, começou a afundar sua cabeça na água, observando-o debater-se. Fazia isso repetidamente, sentindo a satisfação crescer a cada vez que ele lutava por ar. Ela só parou quando sentiu que a provocação estava completa, quando se sentiu satisfeita com seu castigo.

- Você vai fazer isso novamente? - Ela o segurou pelos cabelos, e ele apenas balançou a cabeça em resposta. - Você vai ser um bom menino a partir de agora? - perguntou, apertando seu cabelo com mais força.

- S-Sim. Sim, v-vou ser u-um bom g-garoto - ele respondeu, sua voz embargada, tremendo de dor e medo.

- Bom menino, é por isso que eu te amo tanto! - Serena exclamou, beijando-o à força, um sorriso insano brotando de seus lábios, enquanto o frio na espinha de Thomás crescia.

Após isso, ela o lavou e o vestiu, antes de voltar à cozinha para preparar outro lanche para ele. Pobre Thomás, ele mal sabia que aquele era apenas o começo de sua trágica vida, aprisionado sob a sombra implacável de uma mente insana.

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...Thomás antes de Serena:...

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