Aos dez anos, Serena desenvolveu uma obsessão por flores, especialmente as margaridas que floresciam no desbotado jardim do orfanato. Eram flores simples, mas com um brilho que se destacava no cinza da sua vida repleta de dor e solidão. Cada momento passava observando aquelas flores, flertando com um mundo onde a beleza parecia uma promessa de algo mais. Era nesse jardim que a mente jovem e perturbada de Serena germinava ideias sombrias, alimentadas por suas fantasias deprimentes.
Cada vez que cometia um ato de violência, deixava uma margarida ao lado do corpo como se estivesse assinando sua obra com um toque de pureza, uma ironia perversa que alimentava seu ego. Era uma maneira de transformar o horror em algo que, para ela, poderia ser considerado arte.
Naquela idade tenra, ela já havia ceifado a vida de quatro crianças e sacrificado mais de cinquenta animais de diversas espécies. O orfanato, um lugar que deveria ser um abrigo, tornou-se um palco de terror silencioso, onde os ecos de sua crueldade reverberavam nas paredes como um sussurro apavorante. A atmosfera estava incrivelmente carregada de medo; os adultos falavam em voz baixa sobre os desaparecimentos, enquanto as crianças olhavam umas para as outras com desconfiança, temendo que poderiam ser as próximas.
Com o tempo, rumores começaram a circular. O orfanato, antes vibrante, estava à beira do fechamento, cercado por um mistério sombrio que envolvia o destino de várias crianças. Esse cenário, longe de perturbá-la, instigava em Serena uma satisfação perversa, tornando-a mais cínica em relação ao que estava ao seu redor.
Com apenas onze anos, uma família apareceu no orfanato, em busca de uma doce criança para trazer alegria em suas vidas, uma irmã para seu filho, Thomás. Serena, cujos olhos brilhavam com a antecipação da fuga, vestiu-se com seu mais gracioso vestido - um ato deliberado para enganar aqueles que buscavam a inocência em suas vidas. Ela apertou as bochechas com toda a força, deixando-as rosadas, e esboçou um sorriso angelical, uma máscara cuidadosamente construída.
- Olha, o que temos aqui? - dizia-se para o pai da família, que parecia encantado com a pequena figura que se apresentou à porta. Serena sentiu um calafrio percorrer seu corpo, uma mistura de excitação e adrenalina. A oportunidade de escapar daquele lugar cinzento finalmente se apresentava.
Mas havia muita concorrência; crianças menores, inocentes e mais vulneráveis, disputavam a atenção dos adultos. Serena, percebendo que os olhares não estavam voltados para ela, decidiu intensificar sua performance. Insensivelmente, ela se encolheu num canto, escondendo o rosto nas mãos, deixando escapar uma melodia de lamentos que ecoava nos corredores sombrios.
- Oi, pequena. Por que está chorando? - perguntou a mulher, sua voz cheia de compaixão, uma mistura de preocupação e ternura.
- Eu estou com medo - a pequena Serena sussurrou, a voz trêmula e carregada de emoção. - Toda vez que uma família vem escolher uma criança, sou ignorada. As freiras me trancam em um quarto escuro como castigo. Elas dizem que ninguém me quer porque sou uma menina ruim... - A atuação de Serena era digna de um Oscar, com lágrimas, soluços e uma expressão de vulnerabilidade que poderia derreter até os corações mais gelados.
A mulher, presa pelas teias da empatia, foi completamente capturada pela narrativa que a menina habilmente tecia. Após uma longa discussão com seu marido, a levou para casa como sua nova filha. Serena, em sua mente distorcida, pensava que tinha feito o movimento certo para conquistar não apenas liberdade, mas uma nova vida repleta de possiblidades.
Os primeiros dias foram um verdadeiro espetáculo. Ela se esforçava para ser a filha exemplar, ajudando nas tarefas, mostrando-se sempre solícita e agradável. A rotina incluía ir à escola, um ambiente vibrante que, aos olhos de sua mente maligna, se transformava em um paraíso repleto de novas vítimas. Observando os rostos inocentes com o frescor da juventude, seu coração pulsava de excitação e desejo.
Mas o que mais a fascinava era Thomás. Seu novo irmão, um verdadeiro anjo, era gentil e educado, mas frequentemente sofria bullying por seus colegas. O destino, sádico e cruel, continuava a jogar com o coração puro de Thomás, e a cada lágrima que escorria do seu rosto adolescente, mais combustível era oferecido ao fogo insaciável que ardia dentro de Serena.
Veja, a compaixão que surgiu em seu interior ao observar a dor de Thomás era confusa e palpável; a sensação de ver um bom menino se tornar uma vítima a fez sentir-se poderosa. Lá estava ela, não apenas como uma atriz em sua história, mas como a autora de um enredo mais sombrio. Thomás não merecia esse sofrimento, e sua mente distorcida rapidamente associou a presença de infantilidade e bondade a novas formas de vingança.
Com essa nova percepção, um sorriso jardinava seu rosto, e a satisfação iluminou sua mente ao perceber que havia conseguido alcançar novos alvos. Vinte e três crianças, a maioria meninos, prevaleciam em seu mundo; todos mais velhos que ela, mas isso apenas fazia com que Serena planejasse cuidadosamente a execução de seus desejos sombrios.
A primeira vítima foi Josh, um garoto que amava andar de skate à noite na pista da cidade. Ela estudou sua rotina, orinando sobre um mapa mental onde ele era a presa solitária em seu labirinto caótico. Perfeito, ela estava pronta para agir. Para garantir um álibi, disse aos pais que estaria relaxando em seu quarto, absorvendo a luz das histórias de seu livro favorito.
A escapada pela janela foi envolta na escuridão da noite. Quando a lua lançou seu brilho prateado sobre a cidade, Serena caminhou em direção à pista de skate. Ao chegar lá, encontrou Josh distraído, e um sorriso maligno floresceu em seus lábios - ele estava no alto da pista mais perigosa, impulsionando-se na adrenalina da distração. Ela se posicionou nas sombras, observando aqueles momentos de despreocupação e calculando o momento exato para atacar.
Assim que ele começou a descer a rampa com uma velocidade crescente, o coração de Serena pulsava como um tambor de guerra. Avançando em direção a um mero capricho, ela viu uma grande pedra ao seu lado. O golpe que mudaria sua vida estava prestes a ser executado. A pedra, rapidamente lançada, fez Josh perder o equilíbrio. O seu corpo humano se despedaçou ao colidir com o chão, com a gravidade lançando-o em direção ao abismo, mas o destino foi cruel - ele sobreviveu.
Furiosa por ter visto seu plano frustrado, Serena não teve compaixão. O olhar que antes estava carregado de prazer se lançou em um furor descontrolado. Pegou um galho próximo e, decidida, aproximou-se de Josh, que estava caído no chão, sangrando e trêmulo. O aroma do sangue que se espalhava pela pista era um perfume intoxicante, adentrando suas narinas enquanto ela o observava agonizar.
- Será que você vai mesmo sair assim? - sussurrou, uma risada maligna dançando em seus lábios. O galho de madeira, em suas mãos, era agora a extensão de sua vontade. Sem hesitação, ela cravou o galho em seu pescoço, afim de forjar uma cena de acidente. Serena riu para si mesma, ao ver sua obra cruel ao mesmo tempo sofisticada e macabra.
Ela cuidou de não sujar as próprias roupas e foi para casa, onde todos acreditavam que ela estava em seu quarto, na companhia de seu livro. Na manhã seguinte, como se a vida se divertisse à sua custa, chegou a notícia: um aluno havia falecido em um acidente na pista de skate, e a cidade mergulhou em luto.
A tristeza dos outros era apenas uma gota de água em seu vasto oceano de euforia. Serena, ao contrário, decidiu cimentar seu papel na dor coletiva e, como uma serpente em um baile, colocou sua atuação em prática, fingindo se solidarizar com a família que havia perdido o filho tragicamente.
Mas o mundo impiedoso não parou, e, enquanto o luto recuperava a cidade, Serena mantinha sua mente afiada, planejando a próxima fase de sua obra-prima. Havia ainda vinte e dois valentões que continuavam a atormentar a vida de Thomás, e de maneira impiedosa, ela sabia que precisava agir.
Um novo plano formou-se em sua mente distorcida. Um experimento mais elaborado. A ideia de eliminar múltiplas vítimas de uma só vez a deixou intrigada. Ao saber que um evento conhecido como "Labirinto do Terror" aconteceria na cidade, um lugar onde os jovens se reuniriam para aproveitar o medo, ela logo viu ali a oportunidade perfeita para seu próximo ato.
Dessa vez, seu álibi seria o próprio Thomás. Com um sorriso doce, ela o convidou para irem juntos se divertir, e os pais, ignorantes do que estava por vir, apoiaram a decisão, acreditando que era uma ótima maneira de fortalecer os laços familiares. No labirinto, a visão de cinco daqueles valentões fulminou qualquer hesitação que ainda pudesse existir dentro dela, e o pavor nos olhos de Thomás ao avistá-los explorou ainda mais sua determinação.
Enquanto eles se divertiam, a mente de Serena vibrava com um plano astuto. O labirinto feito de madeira seria facilmente inflamável, e, à medida que se sentia mais à vontade em seu ambiente, analisou os funcionários que ali estavam para certificar-se de não causar dano a verdadeiros inocentes. Disfarçando suas intenções sombrias atrás de um sorriso inocente, ela observou cada um deles, avaliando os olhares, as intenções, e estava pronta para agir.
O primeiro funcionário possuía uma energia maliciosa que a incomodava, o segundo parecia envolver-se em algo ilícito e, por último, havia uma valentona do último ano do colégio que a fazia rosnar de fúria apenas ao vê-la. A única delas que escapou da atenção de Serena era uma jovem que, sem saber o perigo ao seu redor, havia ajudado uma criança a amarrar o cadarço, e assim, foi a única que não atraiu a ira dela.
Assim que os valentões e os funcionários entraram no labirinto, Serena se preparou para executar seu plano. Para retirar a jovem e Thomás de imediato, pegou um colar que considerava seu tesouro e o lançou em um canto distante, pedindo a ajuda deles para encontrar o "presente especial" que sua nova família havia lhe dado. Sua atuação funcionou como um feitiço, e quando viu que eles estavam distraídos o suficiente, correu para os fundos do labirinto.
Com um fósforo que sempre carregava, Serena observou ao redor, para se certificar de que não havia ninguém por perto e com um movimento ágil, começou a riscar o fósforo contra a caixa, sua chama dançante iluminando seu rosto em um brilho maligno. Assim que o fósforo tocou a madeira, uma sensação de poder a dominou. Ela olhou em volta, sua mente fervilhava com a ideia de que em breve, todo o horror que ela havia alimentado seria liberado.
O fogo espalhou-se rapidamente, consumindo tudo ao seu redor. Serena se afastou, satisfeita. Assim que o pânico começou a se espalhar entre os jovens, ela se jogou nos braços de Thomás, fazendo-o acreditar que ela também estava apavorada. No fundo, a ideia de que ele se tornasse um escudo para seu egoísmo a enchia de prazer, e ela se aninhava em seu abraço enquanto ele tentava acalmá-la.
Horas mais tarde, quando os bombeiros chegaram e apagaram as chamas, e ao entrarem para investigar, encontraram nove corpos completamente carbonizados. A notícia varreu a cidade como um incêndio, e um luto devastador envolveu a comunidade. Ao ouvir, Serena abraçou Thomás, escondendo seu rosto enquanto um sorriso maquiavélico surgia em seu rosto, pulsando de satisfação sob a inocente impressão que ele ainda tinha de sua irmã menor.
Assim que chegou em casa, trancou-se em seu quarto, ligou a televisão no volume máximo para abafar o som de suas risadas, que brotavam de um canto obscuro de sua alma. Era a primeira vez que ela testemunhava a cena trágica de corpos carbonizados, um espetáculo que paralisava a maioria, mas para Serena, aquilo era apenas uma declaração triunfante de sua obra-prima. O horror que consumia o mundo ao seu redor alimentava suas fantasias mais profundas, e a mente da menina mais sombria continuava a se enredar em um labirinto mais obscuro a cada dia que passava, amplificando seu desejo de deixar sua marca neste mundo caótico.
O ciclo de terror estava longe de terminar; ele havia apenas começado. Com a aeronáutica das estrelas brilhando sobre sua vida cada vez mais, uma nova era de vingança se aproximava. A flor mais escura, a margarida, já estava em plena florada em sua mente perversa, pronta para ser plantada em meio aos corpos e destroços daquela jornada sinistra. Serena estava apenas começando sua jornada insana, e cada risada que ecoava por trás da porta do seu quarto era acompanhada pela certeza de que novos episódios de horror estavam por vir, então ela se entregou à escuridão com um sorriso malicioso no rosto.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 24
Comments