O sorriso da predadora

Serena Sinclair, vinte anos, cabelos longos e negros como as trevas, brilhando com um brilho quase sobrenatural, possuía olhos verdes como rubis preciosos. Sua pele era clara e delicada, como a pétala de uma flor. A voz dela era doce, suave e envolvente, capaz de acalmar as mais agitadas das almas. Para todos, era a imagem da pureza, uma menina gentil e de bom coração, digna dos mais exaltados elogios e do amor de qualquer mãe ou sogra.

Ela mantinha uma fiel tradição que todos admiravam: ir à igreja todo domingo pela manhã, onde sua presença parecia trazer um sopro de esperança. Durante as tardes, reservava-se para ajudar os necessitados, dedicando seu tempo a obras de caridade que a tornavam ainda mais adorável aos olhos da comunidade. Morava sozinha em uma cabana simples, mas encantadora, aninhada no coração da floresta, longe da civilização e de suas complexidades.

Quando ela entrava em um ambiente, seu sorriso iluminava qualquer espaço como um sol nascente, deixando um rastro de bem-estar e esperança. Todos acreditavam que ela era a garota perfeita, aquele tipo de filha que qualquer mãe sonharia em ter. Mas sob essa faça angelical, havia um abismo de escuridão que poucos poderiam imaginar.

O que ninguém sabia e nunca poderia suspeitar, era que a verdadeira natureza de Serena era muito mais devoradora — como um lobo disfarçado em pele de cordeiro. Serena não era apenas uma menina; ela era um monstro, uma criatura desprovida de alma e compaixão, moldada pelas cicatrizes de um passado atormentado.

Serena foi abandonada em um orfanato pouco tempo depois de sua chegada ao mundo, onde enfrentou todo tipo de violência, abuso e tortura. Aquela era uma prisão de almas despedaçadas, onde crianças tornavam-se vítimas de suas próprias esperanças e sonhos. Ali, em meio a um mar de diversões quebradas, foi onde ela descobriu sua paixão obscura por sangue. O primeiro gosto da morte lhe foi dado aos seis anos, e sua vítima não foi um ser humano, mas sim um gato, o querido animal de estimação de uma freira.

A freira que deveria protegê-la tinha privado Serena de comida por dois longos dias. Com a mente já distorcida pela fome e pela dor constante, ela decidiu que a culpa do sacrifício recairia sobre aquele pequeno animal inofensivo. Com um brilho maligno em seus olhos, atraiu o gato com petiscos furtivos e o levou para a floresta nos fundos do orfanato. Ali, entre as árvores que pareciam vigiar silenciosamente a cena tragicamente bela, ela estrangulou o pequeno bichano até que os olhos esbugalhados se fechassem para sempre, apagando a chama da vida.

O ato de violência fora quase um ritual. Enquanto as patinhas se debatiam em desespero, Serena sentia um poder crescente, um êxtase visceral que a envolvia. O som dos pequenos ossos quebrando sob suas mãos pequenas a fez rir descontroladamente, como se o mundo tivesse sido iluminado por um raio de pura satisfação. Quando finalmente parou, seu rosto estava sujo, mas seu espírito estava afiado e em foco.

Pegou os restos do animal e os colocou dentro de um saco, preparando-se para a fase final de sua vingança. Com um cuidado meticuloso, escreveu o nome da freira em sangue, o próprio sangue do gato, em uma caixa que ela colocou em cima da cama da mulher. Notou como suas mãos tremiam de excitação quando completou a tarefa, e um sorriso sutil escapou de seus lábios ao caminhar como uma sombra na noite pelo orfanato.

As horas seguintes foram preenchidas com os gritos de desespero daquela mulher, ecoando pelos corredores do orfanato e se tornando a trilha sonora da primeira vitória de Serena. Ela ouvia os lamentos com a boca secando de prazer e um sorriso maligno brotando em seu semblante infantil. Ninguém nunca suspeitou que a bondade poderia ter uma face tão monstruosa.

Com o passar do tempo, novos corpos de animais começaram a surgir, cada um encontrado mutilado de formas tão grotescas que seriam mais adequadas a um filme de terror do que à rotina de um orfanato. As cuidadosas investigações policiais poderiam pensar em um predador Animal, mas aquelas feridas e sangramentos eram assinaturas de algo muito pior — um espírito torturado que encontrou sua alegria na matança.

Depois de um ano de mortes inexplicáveis, o orfanato foi fechado, suas portas trancadas por um segredo obscuro que não poderia mais ser mantido. A cumplicidade do silêncio havia sido rompida, e Serena foi transferida para um novo lar, um esperado refúgio onde poderia continuar a prática do que mais amava: matar. Mas nesse novo lugar, encontrou não apenas a brutalidade de adultos que deveriam cuidar dela, mas também uma jovem um pouco mais velha que começou a transformar sua vida em um inferno.

Durante semanas, a jovem agrediu física e psicologicamente Serena, retirando qualquer fragmento de dignidade que restasse. Cada tapa, cada insulto só serviam para alimentar a fúria que crescia como um fogo em seu peito. Serena, no entanto, permaneceu em silêncio, como uma rocha desgastada pelo alto-mar, suas emoções profundamente enterradas, grudadas em algum lugar sombrio dentro de si mesma. E isso deixou a garota ainda mais furiosa.

Foi em um desses dias de terror que a jovem resolveu arrastar Serena para a floresta, longe dos olhares curiosos e da supervisão dos adultos. Enquanto caminhavam, o coração de Serena pulsava em um ritmo frenético, a expectativa do que viria alimentava suas esperanças distorcidas. O que aconteceu em seguida mudaria sua vida para sempre.

A responsável pela tortura começou a agredi-la sem compreender a fagulha de ódio que brotava em seus ataques. Serena permaneceu em silêncio, o rosto coberto de sangue e feridas, sua expressão endurecida, como uma estátua de pedra. A impassividade dela serviu apenas para aumentar a fúria da jovem, que não conseguia entender como alguém poderia suportar aquilo sem chorar ou suplicar.

Quando a agressora finalmente parou de bater, as duas estavam exaustas e suadas. Essa pausa, porém, trouxe consigo um momento de calma e reflexão que Serena não esperava. Olhou diretamente nos olhos da menina, aqueles olhos que uma vez foram tão poderosos e tirânicos, e sorriu — um sorriso que não tinha nada de inocente. Era um sorriso de predadora.

Num movimento brusco, Serena se lançou adiante, segurando as pernas da agressora e puxando-a para baixo com uma força que não parecia compatível com seu corpo pequeno. A garota colidiu contra o chão com um barulho surdo, surpresa e confusa. Agora, era Serena que estava no controle. Sentando-se em cima da barriga da menina, impediu-a de se levantar, suas mãos agora firmes em torno de seu pescoço, uma pressão necessária, e sua mente em chamas.

Ali, em cima da jovem que havia lhe infligido tanto sofrimento, a doce voz de Serena transformou-se em um sussurro grave e rouco, quase um canto de ninar macabro. — Durma com os anjos, princesa. Com isso, ela pegou uma pedra que havia encontrado, e a cena que se seguiu foi digna dos mais terríveis pesadelos. Com toda a força que conseguiu reunir, começou a golpear a cabeça da garota, cada impacto esmagando não apenas o crânio, mas também a luz da vida que havia, uma vez, de alguma forma, também a ferido.

Quando ficou claro que a agressora estava morta, a adrenalina a dominou. Serena jogou a pedra no chão, sua mão tremendo de excitação à medida que se levantava, permitindo que a realização de seu feito a afligisse. Aquela foi a primeira vez que ela havia tirado a vida de um ser humano, e a sensação era indescritível, um apogeu de sensações que a inundou, uma mistura de satisfação e uma nova consciência do que era realmente capaz.

Ela enterrou o corpo da garota com as próprias mãos, junto com as roupas manchadas de sangue. Sabia que precisaria ser discreta. À medida que o sol se punha, a noite se tornou seu manto protetor. Como uma sombra, Serena retornou ao orfanato, certa de que ninguém perceberia sua ausência. O silêncio ao seu redor tornava-se a sinfonia de seu novo mundo.

Nos dias seguintes, o impulso de matar emergiu novamente, e ela se dedicou a tirar a vida de alguns animais, mas nenhuma morte parecia preencher o vazio que o triunfo anterior havia deixado. Aquilo já não a satisfazia mais, e a lembrança da adrenalina sentida ao esmagar a cabeça da garota se tornou uma chama que não poderia ser apagada. Ela desejava sentir aquilo novamente, mas a notoriedade pelo desaparecimento da jovem criava um obstáculo intransponível em seus planos.

Mas então, Serena viu um garoto. Ele era mais velho, mas também era um alvo fácil. Mais que isso, ele era um agressor, um eco da tortura que ela havia sofrido na infância e que agora impunha a outras criaturas inocentes. A vingança estava-se moldando, e a ideia ardia em sua mente como uma chama voraz. Contudo, ela sabia que um confronto físico não acabaria bem. Certa noite, enquanto caminhava de forma furtiva pelo orfanato, notou o zelador colocando comida envenenada para os ratos. Nesse momento, uma ideia maquiavélica começou a florescer em sua mente, brotando como uma flor sombria em um campo de suas fantasias.

Esperou o zelador sair, em seguida apanhou a comida envenenada com a destreza de uma ladra. Em um canto isolado do orfanato, começou a separar meticulosamente cada grão de veneno, guardando-os como tesouros preciosos em seu bolso. Com o passar do tempo, observou a rotina do garoto agressor, cada movimento dele registrado em sua memória. Desde o horário em que ele se sentava para comer, até os momentos em que estava sozinho, permitindo que um sorriso malévolo brotasse em seus lábios. Finalmente, encontrou a oportunidade perfeita.

O garoto estava sozinho no refeitório, comendo um sanduíche enquanto desenhava. Serena entrou como se fosse uma mera espectadora, uma simples ruína que passava, mas com a intenção de tropeçar nele. Ele se abaixou para pegar um lápis caído, um momento de vulnerabilidade que Serena não poderia deixar passar. Com uma ação rápida e precisa, ela levantou o pão do sanduíche e despejou todos os grãos de veneno que havia coletado. Quando ele se levantou, seu olhar frio e calculado encontrou os olhos dele, um sorriso de desculpas em seu rosto, enquanto saía do local como se nada tivesse acontecido.

Pouco tempo depois, voltou para verificar se seu plano havia funcionado. Ao entrar, seu coração disparou. O garoto estava caído sobre a mesa, espumando pela boca, suas convulsões eram a sinfonia que serenava suas tormentas internas. Serena, hábil como uma atriz em um palco, escondeu seu sorriso de satisfação e colocou no rosto uma máscara de desespero, gritando como se o mundo estivesse desabando ao seu redor. Suas lágrimas fluíam como um rio caudaloso, cada gota carregando o peso de uma atuação digna de aplausos.

As pessoas correram imediatamente, alarmadas com o que tinha acontecido, e trataram-na como se isso fosse um verdadeiro trauma. Entretanto, no interior de Serena, ela dançava uma celebração silenciosa. O alvoroço em relação ao sofrimento e à morte daquele garoto era apenas mais uma camada de emoção a ser colecionada em sua coleção de histórias macabras.

As sombras na vida de Serena se tornavam cada vez mais densas à medida que ela avançava nesse mundo que criara para si mesma. Vidas se apagavam sob seus pés, e com cada ato de violência, ela se sentia mais viva, mais forte, mais poderosa. Sua identidade não era mais a inocente garota que todos conheciam; era a predadora que aprendeu a saborear as oportunidades que surgiam em seu caminho escuro e retorcido.

Serena Sinclair, a doce, a gentil, foi completamente consumida pela escuridão, e a sensação de controle que vinha com a morte de outros se tornou uma droga irresistível. E, à medida que seu passado mostrava suas garras terríveis, ela se preparava para um futuro onde a linha entre caça e caçadora se tornaria ainda mais tênue, um território feito de sangue e morte, onde ela reinaria suprema.

Com o tempo, cada nova vida que se perdia se tornava uma nota em sua sinfonia maligna, a música de sua vida, uma experiência que marchava para um clímax inevitável. O ciclo estava apenas começando, e Serena estava decidida a não parar até que todos em seu caminho sentissem o peso do que ela agora chamava de "justiça".

Assim, na escuridão da floresta, o eco das risadas e dos gritos de dor se misturavam, criando uma melodia que a seguia, e em cada balançar das folhas, ela ouvia a sinfonia da vida, a promessa de que seu reinado sombrio estava apenas começando.

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