O relógio marcava sete minutos de intervalo, mas parecia uma eternidade para Luna. Ela andava de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos, tentando esfriar a própria pele, que ainda parecia queimar onde Isabella a tocou.
"Isso não pode estar acontecendo... Isso não pode ser real..."
Tentava convencer a si mesma de que era apenas adrenalina, que era só o estresse da dança, do contato... mas, no fundo, uma parte dela sabia que não era só isso.
Os olhos da professora não saíam da sua mente. A maneira como ela a segurou, como seu corpo pesava sobre o dela, como a respiração das duas parecia sincronizada, como se o mundo tivesse parado por alguns segundos.
E, ao mesmo tempo, tudo isso a deixava furiosa.
— Quem ela pensa que é? — resmungou, chutando levemente uma das barras de alongamento. — Mandona, arrogante, insuportável... e... — respirou fundo — ...e tão...
Parou. Travou no meio da própria frase, sentindo o gosto amargo da confissão não dita.
"Não. Nem morta eu vou admitir isso."
Do outro lado da parede, Isabella se apoiava contra a mesa, braços cruzados, olhos fechados. Respirava fundo, como quem tenta desesperadamente não se afogar em pensamentos que nem deveriam existir.
"Foco. Controle. Você sempre teve controle, Isabella."
Mas aquele controle estava rachando, se despedaçando um pouco mais a cada vez que olhava para Luna.
Era só para ser um ensaio. Só trabalho. Técnica. Mas aquele corpo, aquela presença, aquela energia... pareciam feitos para provocar exatamente o contrário de controle.
E isso a enfurecia.
— Por que ela tem esse efeito em mim? — sussurrou, apertando os próprios braços. — Malcriada, petulante... insuportável... e ainda assim...
Fechou os olhos com mais força, sentindo o estômago revirar.
"Não. Isso precisa parar. Precisa parar agora."
Bateu as mãos na mesa com força, como se aquilo fosse suficiente para calar a própria mente.
O som das palmas ecoou pelo salão, puxando todos de volta do intervalo.
Isabella apareceu, impecável como sempre, fingindo uma compostura que estava longe de sentir de verdade.
— De volta ao trabalho. — anunciou, o tom mais frio do que deveria. — Vamos repetir desde o início.
Luna respirou fundo, ajeitou o top e caminhou até o centro, encontrando o olhar da professora no caminho. Nenhuma das duas falou, mas o silêncio dizia mais do que qualquer palavra.
A música começou novamente.
Dessa vez, os movimentos estavam mais fluidos, mais precisos — e perigosamente mais carregados de algo que nenhuma das duas se atrevia a nomear.
Quando Isabella puxava Luna para o giro, a mão deslizava pela cintura um segundo a mais. Quando Luna apoiava as mãos nos ombros dela, apertava com mais força do que o necessário.
Os corpos se encontravam, se empurravam, se atraíam e se repeliam como imãs descontrolados.
Em um dos movimentos mais intensos, Isabella segurou Luna pela lombar, puxando-a de encontro ao próprio corpo, até que as pernas dela se enrolassem na sua cintura.
O peso, o calor, a proximidade... Tudo parecia errado e certo ao mesmo tempo.
O olhar de Luna queimava.
— Você devia tomar mais cuidado... — sussurrou, com um meio sorriso nos lábios. — Assim vai fazer parecer que gosta de me tocar.
Isabella apertou ainda mais a mão na coxa dela. — E você devia aprender que provocação tem limite, Cavalcanti.
As respirações estavam descompassadas. O peito de uma colado no da outra, subindo e descendo de forma acelerada.
Por um segundo, a boca de Isabella quase, quase roçou a de Luna. Mas ela desviou no último instante, segurando o queixo da aluna com força, forçando-a a olhar em seus olhos.
— Foco. — sussurrou, a voz rouca. — Isso é dança. Só dança.
Luna riu, aquele tipo de riso que provocava, que desafiava, que machucava e instigava ao mesmo tempo.
— Se você diz... professora.
Ambas estavam prestes a quebrar o fio tênue entre profissionalismo e desastre quando o assistente interrompeu.
— Professora... desculpa interromper, mas... tem um jornalista aqui fora querendo falar com você sobre a apresentação.
Isabella soltou Luna imediatamente, como se tivesse levado um choque, e ajeitou a roupa, o coque, qualquer coisa que a ajudasse a parecer minimamente no controle de novo.
— Diga que eu vou em cinco minutos. — respondeu, sem olhar para ninguém. — E vocês, do começo. Não parem até eu voltar.
Saiu às pressas, sem olhar para trás.
O salão ficou em silêncio por alguns segundos, até que uma das colegas de Luna comentou, quase sem voz:
— Eu... não sei se isso é dança ou um campo de batalha.
Luna apenas sorriu de canto, cruzando os braços, tentando parecer indiferente, mas sentindo cada célula do corpo tremendo.
"Se isso é guerra... então eu vou até o fim."
Mal sabia ela... que Isabella estava do outro lado da porta pensando exatamente o mesmo.
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Atualizado até capítulo 45
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