— Posicionem-se. — Isabella disse, fria, arrastando uma das lonas do chão para abrir mais espaço no centro do salão. — A base do dueto começa no contato. Precisamos alinhar movimentos, respiração... e confiança.
Luna bufou. — Confiança... — repetiu, cruzando os braços. — Que ironia vindo de você.
Isabella a olhou de cima a baixo, com aquele típico olhar de desprezo misturado com algo que nem ela mesma sabia nomear.
— Acredite, Cavalcanti, a confiança que eu preciso é só na sua capacidade de não estragar meu tempo.
O salão inteiro assistia em silêncio. Era como presenciar um duelo à beira de um vulcão prestes a explodir.
— Vamos. — Isabella se aproximou, ficando perigosamente perto. — Dê-me sua mão.
Luna hesitou por um segundo. Aquela mão estendida, tão fria, tão firme... parecia mais uma armadilha do que um convite. Mas não ia recuar. Não na frente de ninguém.
Segurou a mão dela. E o choque veio imediato.
Era como tocar fogo e gelo ao mesmo tempo. As pontas dos dedos se encaixaram, e, por um breve segundo, ambas se olharam, e o tempo pareceu dobrar, parar, respirar junto delas.
— Primeiro movimento — Isabella quebrou o instante, voltando ao tom profissional. — Giro lateral, conexão pelo ombro, condução pela lombar.
— Pode repetir? — Luna arqueou uma sobrancelha, fingindo desentendida. — Me distraí.
O olhar de Isabella virou navalha. — Você é insuportável.
— Só estou me aquecendo. — respondeu Luna, mordendo o lábio, cínica.
Sem mais palavras, Isabella tomou a iniciativa. Deslizou pelo lado de Luna, puxando-a pela mão, girando-a de costas, e levando a outra mão diretamente à base da lombar dela — o toque era firme, quente, mais demorado do que precisava ser.
— Cuidado. — Luna sussurrou, olhando-a de canto. — Isso quase parece carinho.
Isabella segurou o queixo dela com os dedos, fazendo-a olhar diretamente em seus olhos.
— Você não saberia reconhecer carinho nem que ele te atropelasse. — respondeu, seca, mas com a voz levemente falha.
O coreógrafo assistente pigarreou do outro lado da sala, forçando ambas a soltarem-se rapidamente.
— Do início! — Isabella disparou, mais ríspida do que antes.
A música começou. Uma melodia intensa, cheia de tensão, que subia e descia como ondas nervosas.
O corpo de Luna se movia com uma mistura perfeita de raiva e desejo. Seus pés deslizavam, os braços cortavam o ar, e, sempre que Isabella se aproximava para conduzir um movimento, a pele parecia acender, eletrificar.
Isabella, por sua vez, lutava contra o próprio corpo. Cada vez que segurava o pulso de Luna, que encaixava sua mão na cintura dela, que girava o corpo dela contra o próprio, sentia algo que jamais deveria sentir.
"Controle. Controle, Isabella. É só técnica. Só técnica..."
Mas não era. Nunca foi.
Em um dos movimentos de aproximação, Isabella puxou Luna para mais perto do que deveria. Seus rostos ficaram a centímetros. As respirações colidiram. O peito de ambas subia e descia, e por um instante, o salão inteiro deixou de existir.
— Você precisa se soltar mais... — Isabella sussurrou, e aquilo soou perigosamente fora do contexto da dança.
— Difícil... — Luna respondeu, olhando para os lábios dela. — ...quando quem tenta me prender é você.
Por um segundo, tudo poderia ter desabado ali. As mãos de Isabella apertaram a cintura de Luna, e ela sentiu, claramente, os dedos pressionarem com força demais, como se tentasse segurar não apenas o corpo... mas o próprio desejo.
Mas o equilíbrio quebrou. Literalmente.
— Aí! — Luna tropeçou no próprio pé, desequilibrando-se, e Isabella, num reflexo, segurou-a antes que caísse.
Ambas foram ao chão. Um emaranhado de pernas, braços, e corpos ofegantes.
O salão explodiu em risadinhas contidas, murmúrios, olhares chocados.
Luna estava deitada, Isabella praticamente sobre ela, uma mão apoiada no chão, a outra cravada na coxa de Luna.
— Dá pra sair de cima? — Luna arquejou, tentando parecer irritada, mas o rosto inteiro ardia.
— Dá. — Isabella respondeu, seca, mas não se moveu imediatamente. Seus olhos percorriam o rosto de Luna como se buscassem algo que não fazia sentido.
Quando percebeu, levantou-se abruptamente, limpando a roupa, o rosto voltando ao habitual gelo.
— Intervalo. Dez minutos. — disparou, fugindo para o escritório antes que qualquer outra coisa acontecesse.
Luna ficou ali, deitada no chão, olhando para o teto, tentando entender o que diabos estava acontecendo consigo mesma.
"Isso não é só dança. Isso não é só raiva. Não pode ser."
Do outro lado da porta, Isabella trancou-se no escritório, apoiou-se na mesa e levou a mão ao peito, como se tentasse controlar o coração disparado.
"Respira. Respira, Isabella. É só... é só uma maldita dança."
Mas ambas sabiam, no fundo, que estavam começando a perder essa guerra.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 45
Comments