A porta do elevador fechou atrás dele, e o silêncio de dentro foi quase um alívio.
Quase.
Seungmin encostou-se no canto, sem saber se era para não cair ou para se esconder. A luz branca piscava sutilmente, imperceptível para a maioria, mas para ele era como um flash constante. Sua respiração começou a ficar rasa, e ele apertou os olhos com força.
“Três vezes. Respira três vezes.”
Inspirou. Expirou. Tentou de novo.
Mas o som do Chan ainda vibrava dentro da cabeça. A acusação. O desprezo. O cheiro da sala. A presença dele. Aquilo tudo atravessava Seungmin como agulhas de vidro.
Um homem entrou no elevador, e o barulho dos passos duros no piso de mármore ecoou como marteladas. Seungmin apertou os olhos de novo. Seu corpo inteiro implorava por um lugar seguro, por silêncio, por tempo.
Ele estava perto de uma crise.
Mas não podia. Não ali. Não agora.
Saiu do prédio em passos curtos, rígidos, o corpo todo em modo de contenção. O celular vibrava no bolso, talvez uma mensagem da escola — ou do filho. Não olhou.
Caminhou até um banco de praça próximo e se sentou, as mãos no colo, apertando e soltando os dedos em padrões rítmicos. O ritual o ajudava. Era familiar. Era dele.
Mas ainda assim não bastava.
O peso era grande demais.
“Eu preciso... preciso ver alguém. Alguém que ainda lembre de quem eu era. Que entenda.”
A ideia surgiu sem força, mas se fixou. Um nome. Um lugar.
Jisung.
Será que ainda morava no mesmo apartamento? Ainda tocava teclado de madrugada? Ainda ria até cair no chão?
Seungmin não sabia. Mas era melhor tentar do que se perder sozinho.
Levantou-se.
♪ ♪ ♪
A vizinhança não parecia ter mudado muito. A rua onde Jisung morava ainda tinha a mesma padaria de esquina e o poste quebrado que piscava à noite. Seungmin parou em frente ao prédio, os olhos fixos no interfone. O prédio parecia menor agora. Tudo parecia menor — menos o medo.
Ele hesitou. Estava suado. O cabelo fora do lugar. Ainda tremia um pouco.
Mas apertou o botão mesmo assim.
Han jisung
Han jisung
— Alô?
A voz rouca e familiar do outro lado fez seu peito apertar.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Jisung… é… sou eu. Seungmin.
Silêncio.
Depois, o som do portão destravando.
♪ ♪ ♪
Quando a porta do apartamento abriu, Jisung estava ali, parado, com os olhos arregalados e os cabelos bagunçados — parecia que tinha acordado de um cochilo.
Han jisung
Han jisung
— Seungmin…? É sério?
Kim seungmin
Kim seungmin
— É. Eu… posso entrar?
Jisung puxou-o para um abraço antes que ele terminasse a frase.
Seungmin ficou tenso por um segundo — o contato físico ainda o desregulava um pouco — mas relaxou aos poucos. Jisung sempre foi uma exceção. Sempre respeitou o tempo dele. O espaço.
Han jisung
Han jisung
— Eu achei que você nunca mais ia voltar
Jisung sussurrou.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Eu também.
Seungmin se afastou, ainda com os olhos baixos, e entrou no apartamento que tantas vezes tinha sido o refúgio deles. Era igual. O cheiro da canela no ar. As almofadas no chão. A bagunça controlada. Tudo era memória.
Han jisung
Han jisung
— O que aconteceu?
Jisung perguntou, gentil, mas atento
Han jisung
Han jisung
— Você tá tremendo.
Seungmin hesitou. Passou a mão no cabelo preso e disse, com voz baixa:
Kim seungmin
Kim seungmin
— Eu encontrei o Chan hoje. Na entrevista.
O ar ficou mais pesado.
Han jisung
Han jisung
— Merda. E aí?
Kim seungmin
Kim seungmin
— Ele me odeia. Não sei se… se dá pra consertar.
Han jisung
Han jisung
— Você quer consertar?
Seungmin olhou pro lado. O coração ainda batendo estranho. As luzes da sala mais suaves do que no prédio de vidro. O barulho do ventilador girando em ritmo constante. Tudo ajudava. E Jisung… só estar com ele já aliviava a tensão do mundo.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Eu não sei
Respondeu sincero
Kim seungmin
Kim seungmin
— Mas… antes de pensar nisso, eu só queria lembrar quem eu era. E com você, com o Hyunjin, com o Felix… eu lembro.
Jisung sorriu, emocionado
Han jisung
Han jisung
— Então fica. Fica hoje. Amanhã a gente liga pro Hyunjin. E depois a gente caça o Felix. O resto… a gente dá um jeito. Juntos.
Seungmin assentiu. Ainda tremia um pouco. Mas pela primeira vez no dia, respirou fundo — e funcionou.
Han jisung
Han jisung
— Fica hoje
Jisung repetiu, com um sorriso esperançoso.
Han jisung
Han jisung
— A gente pede comida, te dou uma camiseta velha minha, e você dorme no sofá, como nos velhos tempos.
Seungmin riu fraco, mais pelo esforço de acompanhar a empolgação do amigo do que por realmente se permitir relaxar. A mente ainda processava tudo. Chan. O olhar. A raiva. A dor. O passado.
Mas algo o puxou de volta à realidade como um estalo seco.
Kim seungmin
Kim seungmin
— O meu filho
Murmurou, os olhos arregalando um pouco
Kim seungmin
Kim seungmin
— Eu tenho que buscar ele na escola.
Olhou o relógio no celular: 16h22. Tinha tempo ainda. Mas não muito.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Eu devia ter ido direto pra casa me trocar… ele odeia quando chego atrasado
Começou a se levantar, os gestos precisos e apressados.
Jisung também se levantou, acompanhando-o até a porta.
Han jisung
Han jisung
— Espera, eu te levo de carro. É mais rápido que o metrô. Você me passa o endereço.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Não precisa, eu…
Han jisung
Han jisung
— Minnie. Deixa eu te ajudar.
A voz de Jisung foi firme, mas sem invadir. Uma âncora.
Seungmin hesitou só por um segundo antes de ceder. Estava exausto.
No caminho, o silêncio no carro não era incômodo. Jisung não pressionava, apenas deixava que Seungmin controlasse o tempo — como sempre fez. E isso… isso era ouro.
Quando chegaram à escola, ainda havia algumas crianças no pátio, mas o olhar de Seungmin encontrou seu filho rapidamente: sentado no banco, abraçado à mochila, os olhos varrendo a entrada do portão com atenção.
O menino viu o carro, e a expressão se acalmou.
Seungmin desceu primeiro, correu até ele e se abaixou:
Kim jehun
Kim jehun
— Você tá bem?
Kim jehun
Kim jehun
— Tá com a cara estranha.
Seungmin sorriu cansado.
Kim seungmin
Kim seungmin
— Só cansado. Mas agora que você tá aqui, tô melhor.
O menino o abraçou, e Seungmin fechou os olhos por um instante. Aquilo era tudo que ele precisava.
Jisung observava à distância, do carro, sorrindo ao ver a cena.
O reencontro com Chan o quebrara por dentro. Mas ali, com o filho nos braços e Jisung esperando no carro, havia um fio de esperança costurando tudo de volta.
Continua
Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!