Mesmo que o Tempo Passe CHANMIN
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Com o tempo, Bang Chan se tornou a minha rotina favorita.
Ele sabia que mudanças inesperadas me deixavam inquieto. Sabia que o som das conversas cruzadas no refeitório me causava ansiedade, que às vezes o tecido da minha blusa me irritava ao ponto de eu querer arrancá-la. Ele sabia… e mesmo assim, nunca me apressava. Nunca me cobrava.
bang chan
— Quer comer fora hoje?
Ele perguntava com aquele sorriso tranquilo.
E eu hesitava. Porque sair da rota era desconfortável.
bang chan
— Então vamos ao de sempre
Completava, me aliviando antes que eu precisasse responder
seungmin
— Com sua comida de sempre… e seu mesmo copo de sempre.
E ainda ria, com aquele brilho nos olhos, passando o polegar com gentileza pela minha bochecha.
bang chan
— Isso não me cansa, Minnie. Me acalma.
Ele dizia essas coisas como se fossem simples. E pra mim, eram tudo.
Chan não tentava me “consertar”. Não se irritava quando eu repetia frases em contextos diferentes. Quando eu travava. Quando fugia do contato visual. Ele só me entendia. E esse tipo de entendimento… era raro.
Lembro da primeira vez que ele segurou minha mão em público.
Estávamos no festival da escola. Muita luz. Muita gente. Muito barulho. O cheiro de algodão-doce e fritura misturado ao som agudo de vozes me fez tremer. O tecido da minha camiseta já coçava mais do que eu podia suportar. Minha respiração começou a falhar. Eu só queria fugir. Me esconder.
Mas ele percebeu. Antes de qualquer colapso.
bang chan
— Olha pra mim, Seungmin.
Se ajoelhou na minha frente. No meio de todo mundo. E eu tentei. A visão embaralhada, o peito apertado, mas tentei.
bang chan
— Respira comigo. Um… dois… três… isso… quatro… cinco…
Ele ficou ali, contando comigo até o mundo desacelerar.
Depois segurou minha mão com firmeza e a colocou sobre o peito dele.
bang chan
— Sente? Tá rápido. Igual ao seu. Mas é por você.
Baixinho. Ele não se assustou. Só me abraçou, com um cuidado que me fez querer ficar ali pra sempre.
Os meses passaram. Tivemos dias bons e dias difíceis. Às vezes eu ficava em silêncio por horas. Às vezes chorava por estímulos que nem eu conseguia explicar. Mas Chan nunca reclamava. Nunca me fazia sentir errado.
Com ele, ser eu mesmo era seguro.
Até o dia em que descobri a gravidez.
Naquela noite, subi sozinho até o terraço do colégio. O céu estava nublado, e o vento de inverno cortava a pele. Me abracei, tentando raciocinar. A sensação estranha no estômago não era apenas medo. Era vida. Dentro de mim.
E quando o teste deu positivo pela segunda vez, não tive mais como negar. O medo me engoliu. Não por mim. Mas por ele. Por Chan.
Eu sabia o que isso significaria para a família dele.
Dois dias depois, fui chamado discretamente. Pensei que fosse algum professor. Mas não. Era ele.
pai do chan
— Vamos conversar, Kim Seungmin.
Só o som da voz dele já me paralisou.
pai do chan
— Eu sei do seu estado.
Ele se sentou à minha frente com frieza.
pai do chan
— E vou ser claro. Você vai desaparecer da vida do meu filho. Hoje.
pai do chan
— Não finja surpresa. Você sabe o que está fazendo. Quer se aproveitar do nome da nossa família? Do dinheiro? Não vai acontecer.
pai do chan
— Você vai sumir. E se não quiser que o filho que carrega se torne motivo de tragédia… vai fazer isso agora. Sem carta. Sem adeus.
Meus dedos tremiam. A garganta doía. E eu soube — ele não estava blefando. Não era um pai assustado. Era um homem poderoso. Capaz de tudo.
Não deixei bilhete. Não fiz mala. Apenas fugi.
Fui embora da cidade, do colégio, dos amigos… dele.
Levei comigo a única coisa que importava: nosso filho.
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