Capítulo 1 — Dia comum em um inferno particular

Haru bocejou alto, a cabeça afundada nos braços sobre a carteira. A aula de matemática parecia durar três horas a mais que o normal, e o som do ventilador quebrado girando no teto era o único entretenimento.
Ele olhou de canto para o professor, que explicava com empolgação uma equação que Haru já resolvia mentalmente em dez minutos.
Haru
Haru
— "Não sei por que venho pra escola. Já sabia que ia ser uma perda de tempo." — pensou, enquanto traçava desenhos aleatórios no canto do caderno: uma espada pixelada, uma barra de vida, um avatar com cabelo igual ao dele.
Com o corpo largado como um gato ao sol, Haru parecia indiferente, mas seus olhos observavam tudo.
O grupo das meninas no fundo rindo de vídeos no celular escondido.
O casal trocando bilhetinhos.
E o time de futebol jogado nas últimas fileiras — onde ele estava.
Shion Takeda.
Alto. Corpo atlético. Sorriso de comercial de pasta de dente.
E um ego do tamanho do campo de futebol inteiro.
Shion sempre andava como se fosse o dono da escola, seguido por dois ou três bajuladores que riam de tudo que ele dizia, mesmo quando nem fazia sentido.
Haru já tinha até catalogado as piadas ruins de Shion mentalmente.
Estavam na categoria: “infantilóides e desnecessários”.
O sinal bateu.
Haru
Haru
— "Finalmente."
Haru jogou os livros na mochila com lentidão calculada.
Saía sempre por último, evitando empurrões e o corredor lotado.
Mas o universo — ou o azar — parecia decidido a ferrar com ele hoje.
Shion
Shion
— "Ei, Quatro-Olho!"
A voz de Shion ecoou atrás dele, chamando atenção de quem ainda estava na sala.
Haru parou.
Não porque queria.
Mas porque já sabia como aquilo terminava se ele tentasse ignorar.
Virou-se devagar.
Shion
Shion
— "Você derrubou isso." — Shion sorriu com falsa gentileza, mostrando um papel amassado que nem era de Haru.
Haru
Haru
— "Não é meu." — respondeu, seco, tentando sair do caminho.
Shion se colocou na frente.
Shion
Shion
— "Nossa, que falta de educação. Achei que nerds fossem mais... gratos quando alguém se preocupa."
Risos.
Dos amigos dele. De algumas pessoas na porta.
Haru sentiu o estômago revirar.
Ele queria só dormir.
Jogar.
Viver invisível.
Mas Shion não deixava.
Shion
Shion
— "Vamos ver o que tem nessa cabeça de computador. Será que também serve pra reciclagem?"
Antes que pudesse reagir, Haru foi empurrado com força para trás.
Seu corpo bateu contra a lixeira de metal no corredor, o barulho ecoando alto demais.
Pior: Shion o segurou pelos ombros e, sem esforço, o jogou dentro da lixeira.
Shion
Shion
— "Headshot." — Shion disse rindo, como se tivesse marcado um gol.
Haru ficou lá dentro por um instante.
Os papéis fediam.
Havia algo grudento no fundo.
E ele conseguia ouvir o coro de gargalhadas.
Não doía fisicamente. Mas cada risada soava como um soco no peito.
Ele olhou para cima, vendo o rosto de Shion rindo com os outros.
Como sempre.
Haru
Haru
— "Idiotas." — pensou, em silêncio.
Shion virou-se, satisfeito, e foi embora com os colegas, jogando uma última frase por cima do ombro:
Shion
Shion
— "Boa sorte voltando pra casa com esse perfume de lixo, Haru!"
Os risos diminuíram enquanto os alunos iam embora.
Haru ficou ali mais um pouco.
Não porque não conseguia sair.
Mas porque não valia a pena levantar tão rápido.
Não ainda.
Autor...
Autor...
To be continued...
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Comments

aninha_🐱🐱

aninha_🐱🐱

eu tô na porta da sua casa cotando tudo pra dona neide, ela vai amar saber isso

2025-05-26

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