Nada Além de Silêncio

A casa estava mergulhada em um silêncio estranho depois que as crianças saíram para a escola. Larissa se arrastou até a pia e começou a lavar a pouca louça suja do café da manhã. A água fria mordia os dedos e as mãos rachadas denunciavam os dias de trabalho sem descanso.

De repente, a porta do quarto se abriu, e Sérgio apareceu, com os olhos inchados e o rosto amassado de sono. Ele passou a mão pela cabeça, reclamando de dor.

— Que droga de ressaca… — murmurou, se arrastando até a cozinha e se jogando de qualquer jeito na cadeira.

Larissa tentou controlar a expressão. Pegou o pouco de cuscuz que ainda restava na panela e colocou no prato dele. Era quase nada, mas era o que havia.

Assim que Sérgio viu o prato, franziu a testa e começou a reclamar.

— Mas que merreca é essa, Larissa? Tá de brincadeira comigo?

Ela, com a voz quase inaudível, sussurrou:

— É tudo o que tem na casa…

Mas a frase só serviu para atiçar mais ainda a raiva dele.

— Claro que é o que tem! Tu deve ter comido tudo antes de eu acordar, né? Por isso tá desse tamanho. Vive engordando e me fazendo passar vergonha! Aposto que guardou pra comer escondido depois.

Sérgio se levantou de repente, caminhou até a panela e abriu a tampa. Encontrou só o restinho que Larissa tinha deixado, suficiente para mais meia porção. Ele então pegou tudo e despejou no próprio prato, enchendo o garfo.

— Você não vai comer nada, Larissa. Já comeu mais que o suficiente pra esse corpo aí. Se quiser ser bonita, tem que passar fome mesmo.

Aquelas palavras fizeram algo dentro dela ferver. O estômago embrulhou, mas não era de fome — era de ódio.

Pela primeira vez em muito tempo, Larissa não se calou.

— A casa tá assim porque você gasta tudo em cachaça, Sérgio! É por isso que não tem comida! As crianças mereciam mais… e eu também.

Ele largou o garfo no prato, se levantando num pulo. Os olhos vermelhos de raiva.

— Tá achando ruim? Vai trabalhar então, sua inútil! Não serve pra nada, só pra gastar o pouco que eu ganho. Você nunca fez nada que preste na vida.

Cada palavra era como um soco. Larissa sentiu as lágrimas descerem sem controle, mas manteve a postura, mesmo tremendo.

Sérgio então pegou o prato e, num ato cruel e debochado, virou a comida inteira no lixo.

— Vou sair. Prefiro comer lavagem de cachorro do que essa porcaria. E vê se some da minha frente quando eu voltar.

Pegou as chaves com violência e saiu de casa, batendo a porta com força.

Larissa ficou ali, imóvel, com as lágrimas descendo, até que as pernas fraquejaram. Se ajoelhou no chão da cozinha, encostou a testa no piso gelado e desabou.

O choro veio alto, cortado, desesperado.

Por quê?

O que eu fiz pra merecer isso?

Será que fui uma pessoa tão ruim assim pra estar pagando desse jeito?

Era a mesma pergunta que a acompanhava todas as manhãs, todas as noites, no silêncio e no grito.

A única certeza de Larissa naquele instante era que a vida dela tinha se tornado miserável, e se algo não mudasse… ela se afogaria ali, naquele vazio.

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Comments

Danielle Pereira

Danielle Pereira

autora 😡 faz ela sair dessa casa 🏠 com os filhos é muita humilhação deveria sumir com o filho ir pra outra cidade isso não é amor é uma prisão

2025-05-27

1

Sandra Camilo

Sandra Camilo

que horror, acorda som dessa casa com seus filhos

2025-05-28

1

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