Capítulo 3 – O Começo do Fim

A primeira vez que Elena notou algo estranho foi em uma manhã qualquer.

O cheiro de café fresco enchia a cozinha, como sempre. Mas havia algo de errado na forma como Dona Isabela mexia a colher no açúcar. Seus dedos tremiam, levemente, como folhas presas no vento.

— Vó, tá tudo bem? — Elena perguntou, com o cenho franzido.

— Claro, minha menina. Só um pouco de cansaço.

Mas o cansaço voltou no dia seguinte. E no outro. E começou a se espalhar. Nas mãos trêmulas, nos esquecimentos sutis, no jeito lento de caminhar.

Elena observava em silêncio, como quem assiste uma rachadura crescer numa parede antiga. Pequena no início, mas impossível de ignorar.

— Talvez seja só idade… — tentou se convencer, dobrando as roupas no varal. — Ou o frio…

Mas no fundo, ela sabia. Algo estava errado.

Na semana seguinte, levou a avó ao pequeno posto de saúde do vilarejo. A enfermeira, uma mulher gentil, mas de rosto preocupado, pediu exames com urgência.

Dias depois, a confirmação.

— É degenerativo — disse o médico, com uma voz séria demais para aquele consultório de paredes descascadas. — Neurológico. Avançado.

Ela vai precisar de cuidados constantes. E tratamento especializado.

Em outras palavras: hospital particular, medicação de alto custo e suporte profissional.

Elena saiu da consulta com as pernas trêmulas, a garganta seca e os olhos ardendo. A palavra “avançado” ecoava como um martelo em sua mente.

Naquela noite, Dona Isabela dormiu cedo. E Elena ficou sentada à beira da cama, observando o rosto sereno da única pessoa que a amara verdadeiramente.

Tantas rugas, tantas histórias. Tantos sacrifícios.

Ela lembrava da infância simples, das noites ouvindo histórias sob o cobertor, das vezes em que a avó apertava suas mãos e dizia: “Você é o melhor pedaço da minha filha.”

Agora, o tempo estava cobrando. E ela… ela não tinha como pagar.

Na manhã seguinte, Elena pegou o ônibus para a cidade grande mais próxima, onde havia um hospital com neurologistas. Levava na mochila os papéis dobrados com o diagnóstico, e no bolso o pouco dinheiro economizado da venda de doces e costuras da avó.

Tentou explicar, tentou negociar. Mas os olhos do atendente eram frios e objetivos.

— O plano de saúde de vocês não cobre internação. E o tratamento custa caro.

Muito caro.

Elena saiu de lá com um gosto amargo na boca. Caminhou pelas ruas com passos arrastados, observando vitrines que pareciam de outro mundo. Sapatos brilhantes. Perfumes que custavam mais que todo o salário do mês.

Pessoas apressadas. Ricos entediados. Felicidades compradas.

Ela sentia raiva. Um tipo de raiva que nunca tivera antes. Não da vida… mas da injustiça.

Ela sabia quem poderia ajudar. Sabia o nome. Sabia o rosto.

Arturo Vasquez.

O homem que a rejeitou. O homem que criava Valentina como uma princesa, enquanto ela aprendia a sobreviver com restos. O homem que assinava cheques com o sobrenome que ela carregava como um peso.

Naquela noite, ela escreveu uma carta. Simples. Direta. Sem orgulho.

“Meu nome é Elena Vasquez. Sou sua filha. A filha que você recusou.

A mulher que me criou está morrendo. Preciso da sua ajuda.

Só isso.

Por favor.”

Postou a carta no dia seguinte. O envelope seguiu para o endereço que vira tantas vezes nas colunas sociais. A mansão no alto do bairro mais nobre de Nova York.

Por dias, esperou. No início, com esperança. Depois, com dor. E, por fim, com raiva.

A resposta veio. Mas não em palavras.

Veio em silêncio. Em ausência. Em desprezo.

Ele não respondeu. Não mandou nada. Não moveu um dedo.

Era como se ela não existisse.

E foi nesse silêncio que algo dentro dela morreu.

Não a doçura. Não a compaixão. Mas a ilusão.

A ilusão de que sangue bastava.

A ilusão de que, um dia, ele olharia para ela como pai.

Naquela noite, Elena chorou. Chorou até a garganta doer. Chorou sozinha, no quarto apertado, com o som dos grilos do lado de fora e o coração quebrado por dentro.

Mas ao amanhecer… algo havia mudado.

Havia menos lágrima. E mais aço.

Ela começou a vender tudo que podia. Costurava à noite, vendia pão de manhã.

Mas sabia… que não seria suficiente.

O tempo da avó estava se esgotando. E ela não tinha mais onde correr.

Ainda não sabia, mas em breve, o destino bateria à porta com uma proposta que mudaria tudo.

E para salvar quem amava, Elena cruzaria a linha entre sacrifício e dor.

Entre a filha esquecida… e a mulher que ninguém ousaria apagar.

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Comments

Carolina Luz

Carolina Luz

esse verme não deve ser humano mesmo ele não a quis como filha mas algo me diz que no futuro vai querer ser o "pai"😠

2025-05-25

1

Mclaudia Oliveira

Mclaudia Oliveira

Desgraçado 🤬😤

2025-05-27

0

Dulce Gama

Dulce Gama

Que paí perverso tomara que o reinado dele caia e ele vá pedir ajuda da filha rejeitada AFF 🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️👍👍👍👍👍

2025-05-24

1

Ver todos
Capítulos
1 Prólogo — O Preço de um Nome
2 Capítulo 1 – A vida com a avó
3 Capítulo 2 – O Nome que Nunca Foi Chamado
4 Capítulo 3 – O Começo do Fim
5 Capítulo 4 – A Gêmea Esquecida
6 Capítulo 5 – A Escolha Cruel
7 Capítulo 6 – Roubada de Si Mesma
8 Capítulo 7 – A Primeira Máscara
9 Capítulo 8 – O Silêncio das Sepulturas
10 Capítulo 9 – A Nova Casa da Noiva
11 Capítulo 10 – O Começo da Caçada
12 Capítulo 11 – Provocações em Silêncio
13 Capítulo 12 – O Jogo Começou
14 Capítulo 13 – A Assinatura
15 Capítulo 14 – A Queda
16 Capítulo 15 – Luto
17 Capítulo 16 – Aliança
18 Capítulo 17 – A Ascensão da Esposa Perfeita
19 Capítulo 18 – A Impostora Real
20 Capítulo 19 – Quem é a Impostora ?
21 Capítulo 20 – Nas Palavras do Silêncio
22 Capítulo 21 – o preço do poder
23 Capítulo 22 – A Verdadeira Senhora Vasquez
24 Capítulo 22 – A Tempestade por Vir
25 Capítulo 23 – A Primeira Investida
26 Capítulo 24 – A Farsa Exposta
27 Capítulo 25 – Ecos da Queda
28 Capítulo 26 – Ruínas e Aliados
29 Capítulo 27 – Jogadores Ocultos
30 Capítulo 28 – A Outra Versão
31 Capítulo 29 – Efeito Dominó
32 Capítulo 30 – O Último Andar
33 Capítulo 31 – Entre o Perdão e o Fim
34 Capítulo 32 – O Legado Vazio
35 Capítulo 33- Rainha ou peão?
36 Capítulo 34- Dália
37 Capítulo 35 — O Brinde
38 Capítulo 36 – Fronteiras
39 Capítulo 37 – Testemunha
40 Capítulo 38- Farpas de ouro
41 Capítulo 39- Elena Vasquez
42 Capítulo 40 – Os Primeiros Estalos da Queda
43 Capítulo 41 – O Infiltrado
44 Capítulo 42 – A Máscara Cai
45 Capítulo 43
Capítulos

Atualizado até capítulo 45

1
Prólogo — O Preço de um Nome
2
Capítulo 1 – A vida com a avó
3
Capítulo 2 – O Nome que Nunca Foi Chamado
4
Capítulo 3 – O Começo do Fim
5
Capítulo 4 – A Gêmea Esquecida
6
Capítulo 5 – A Escolha Cruel
7
Capítulo 6 – Roubada de Si Mesma
8
Capítulo 7 – A Primeira Máscara
9
Capítulo 8 – O Silêncio das Sepulturas
10
Capítulo 9 – A Nova Casa da Noiva
11
Capítulo 10 – O Começo da Caçada
12
Capítulo 11 – Provocações em Silêncio
13
Capítulo 12 – O Jogo Começou
14
Capítulo 13 – A Assinatura
15
Capítulo 14 – A Queda
16
Capítulo 15 – Luto
17
Capítulo 16 – Aliança
18
Capítulo 17 – A Ascensão da Esposa Perfeita
19
Capítulo 18 – A Impostora Real
20
Capítulo 19 – Quem é a Impostora ?
21
Capítulo 20 – Nas Palavras do Silêncio
22
Capítulo 21 – o preço do poder
23
Capítulo 22 – A Verdadeira Senhora Vasquez
24
Capítulo 22 – A Tempestade por Vir
25
Capítulo 23 – A Primeira Investida
26
Capítulo 24 – A Farsa Exposta
27
Capítulo 25 – Ecos da Queda
28
Capítulo 26 – Ruínas e Aliados
29
Capítulo 27 – Jogadores Ocultos
30
Capítulo 28 – A Outra Versão
31
Capítulo 29 – Efeito Dominó
32
Capítulo 30 – O Último Andar
33
Capítulo 31 – Entre o Perdão e o Fim
34
Capítulo 32 – O Legado Vazio
35
Capítulo 33- Rainha ou peão?
36
Capítulo 34- Dália
37
Capítulo 35 — O Brinde
38
Capítulo 36 – Fronteiras
39
Capítulo 37 – Testemunha
40
Capítulo 38- Farpas de ouro
41
Capítulo 39- Elena Vasquez
42
Capítulo 40 – Os Primeiros Estalos da Queda
43
Capítulo 41 – O Infiltrado
44
Capítulo 42 – A Máscara Cai
45
Capítulo 43

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