A mansão Vasquez, cercada por colunas de mármore e silêncios pesados, amanheceu com um envelope negro sobre a mesa da sala de jantar. Selado com o brasão prateado dos Moretti — duas serpentes entrelaçadas sobre uma coroa. Um símbolo de poder. E de aviso.
Arturo Vasquez soube, ao primeiro olhar, que aquele não era um convite. Era uma convocação.
— Pai, o que é isso? — Valentina perguntou, aproximando-se com a taça de suco na mão e os saltos estalando sobre o piso de mármore.
Ela usava um robe de seda caríssima, mas o rosto estava pálido de curiosidade.
Arturo abriu o envelope com dedos rígidos. O papel dentro era espesso, perfumado e frio como aço. A leitura foi rápida. Cruel. E definitiva.
— É um contrato — respondeu, a voz baixa. — Uma proposta formal de casamento entre nossa família e a dos Moretti.
Valentina ergueu uma sobrancelha, confusa. Depois, percebeu.
— Eles querem… que eu me case?
Arturo não respondeu de imediato. Caminhou até a janela, observando o jardim que mal era tocado pelos pés de quem vivia ali. Seus olhos estavam distantes. Cansados. Calculando.
— Sim. Querem a união entre os herdeiros.
Seu nome está escrito. Valentina Vasquez, filha legítima.
Ela mordeu o lábio, desconfortável.
— Mas… você sempre disse que a família Moretti não era confiável. Que tinham sangue nas mãos. Que o herdeiro era instável, perigoso.
— Justamente por isso — ele respondeu. — Recusar seria visto como uma afronta.
E nós… não estamos em posição de ofender ninguém.
O silêncio que se seguiu foi mais pesado do que qualquer grito.
Os Vasquez a pesar a fama e da influência não estavam mais no topo. Negócios frágeis, escândalos abafados, perdas discretas. A fortuna estava se dissolvendo, lenta e silenciosamente.
E eles tentavam de tudo para esconder essa verdade do mundo, e Arturo sabia que se os Moretti estendem a mão em sua direção você só tem duas escolhas… aperta. Ou afunda.
— Você vai aceitar — Arturo disse enfim, virando-se para a filha com firmeza.
Valentina recuou um passo, o rosto contraído em algo entre nojo e medo.
— Eu não vou me casar com um monstro, pai. Não com aquele homem. Dizem que ele é frio, cruel… e ainda dizem que sua última noiva preferiu a morte do que se casar com ele.
Arturo se aproximou devagar. Sua voz saiu baixa. Mas havia uma ameaça nela.
— Você prefere viver em ruínas? Ver seu nome afundar junto com o meu? Perder tudo?
As casas, as viagens, os convites, o glamour, os fotógrafos… Tudo isso some se você disser “não”.
Valentina se calou. O medo misturava-se à repulsa. E, de repente, ela disse:
— E… e a outra?
— Que outra? — ele retrucou, com a testa franzida.
— A garota… aquela carta… a bastarda — sussurrou, como se a palavra queimasse na boca. — A gêmea.
Arturo ficou imóvel. A lembrança voltou como um estalo.
A carta. Simples, amassada, sem timbre ou perfume. A caligrafia tremida de uma jovem desesperada. Ele lera apenas uma vez. Depois, jogara no lixo sem pensar duas vezes.
“Meu nome é Elena Vasquez. Sou sua filha. A filha que você recusou…”
— Aquilo foi um erro, essa bastarda já deve estar morta— murmurou, quase para si mesmo.
— E se não for? — Valentina rebateu. — Se ela estiver viva… se realmente for minha irmã… então talvez…
O olhar dela se fixou no pai, uma ideia se formando. Uma ideia suja. Covarde.
— Talvez ainda possamos atender ao contrato. Sem que eu tenha que me sacrificar, afinal se somos gêmeas não seria difícil ela se passar por mim.
Arturo a encarou com olhos frios.
— Você quer que eu entregue ela no seu lugar?
— É sangue Vasquez. O nome está certo no papel. E ninguém mais lembra que ela existe.
Ela cresceu longe, escondida… como um erro.
Deixe que ela pague o preço para que nossa família permaneça no topo.
Houve um longo silêncio entre os dois.
Arturo sabia que aquilo era moralmente repugnante. Mas também sabia o que estava em jogo.
Seu império. Sua reputação. E a sobrevivência dele e de sua filha a única que ele reconhecerá.
Ele se sentou, pensativo. Por fim, disse:
— Ela não aceitaria. Não espontaneamente.
Valentina deu de ombros, com um sorriso frio.
— Então… convença ela.
Faça com que ela não tenha outra escolha.
Arturo olhou para a lareira apagada à sua frente. O nome que ele tentou apagar da própria história agora surgia como sua última chance de salvação.
Elena Vasquez.
A filha que deveria ter morrido com a mãe.
Agora era a única saida para salvar o sobrenome que foi negado a ela no nascimento.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Carolina Luz
se Elena vai ficar no lugar da irmã então Valentina vai ter que sumir pra não causar desconfiança né 🤨🤔
2025-05-25
2
Dulci Oliveira
acho que ela infelizmente não vai ter escolha a não ser aceitar
2025-05-29
0
Mclaudia Oliveira
Dois crápulas 😡😤🐍
2025-05-27
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