Novo lar

Acordei cedo, com Mingau pulando na cama, lambendo meu rosto como se soubesse que eu precisava de um pouco de amor. Sorri, coçando atrás das orelhas dela.

— Bom dia, minha pequena. Pronta pra explorar esse lugar? — sussurrei, beijando a cabecinha fofa dela. Mingau latiu, animada, e eu me levantei, vestindo um short jeans e uma camiseta leve. O vestido de noiva estava jogado numa cadeira, um lembrete do pesadelo de ontem. Balancei a cabeça, decidida a não deixar aquilo me engolir.

Desci as escadas com Mingau nos meus calcanhares, o som dos meus tênis ecoando no silêncio da casa. A mansão era ridiculamente grande, com corredores largos, quadros caros nas paredes e móveis que pareciam nunca terem sido tocados. Era bonita, mas fria. Igual ao dono.

Na cozinha, encontrei uma mulher de meia-idade mexendo em panelas. Ela tinha cabelos grisalhos presos num coque e um sorriso gentil que me fez relaxar na hora.

— Bom dia! Você deve ser a nova Sra. Williams — ela disse, limpando as mãos num pano de prato. — Eu sou Rosa, a cozinheira. Quer um café? Fiz pão fresquinho hoje.

— Oi, Rosa! Pode me chamar de Luana, por favor — respondi, sorrindo. — E, meu Deus, esse cheiro tá incrível! Posso ajudar com alguma coisa?

Ela piscou, surpresa. — Ajudar? Minha querida, você é a dona da casa agora. Não precisa sujar as mãos.

— Eu gosto de sujar as mãos — retruquei, pegando uma faca e começando a cortar umas frutas que estavam na bancada. — Minha mãe nunca me deixou cozinhar, mas eu sempre quis. Me ensina aquele pão?

Rosa riu, um som quente que encheu a cozinha. — Você é diferente, Luana. Acho que vamos nos dar bem.

Enquanto trabalhávamos, outro empregado entrou, um homem magro com óculos grandes, carregando uma caixa de legumes. — Bom dia, Rosa! E... quem é essa? — ele perguntou, me olhando com curiosidade.

— Sou a Luana — respondi, estendendo a mão. — A... esposa do Felipe, acho.

— Acho? — Ele riu, apertando minha mão. — Sou o Carlos, jardineiro e faz-tudo. Bem-vinda ao castelo do Sr. Iceberg.

— Sr. Iceberg? — Eu ri alto, quase derrubando uma maçã. — É assim que vocês chamam ele?

— Shhh, não conta pra ele! — Carlos piscou, colocando um dedo nos lábios. — Mas, sério, ele não é má pessoa. Só... não sabe ser gente às vezes.

Rosa deu um tapinha no braço dele. — Para de falar do patrão, seu fofoqueiro! Luana, ignore ele. O Sr. Felipe é só... reservado.

— Reservado é apelido — murmurei, mas sorri. Conversar com eles era como um sopro de ar fresco. Por um momento, quase esqueci que estava presa num casamento sem amor.

Depois do café, decidi explorar a casa. Mingau correu na minha frente, farejando cada canto. No fundo da mansão, encontrei uma piscina enorme, com água tão clara que parecia um espelho. O dia estava quente, e a ideia de nadar me pareceu perfeita. Corri pro quarto, peguei um biquíni simples que trouxe na mala e voltei pra piscina, Mingau latindo como se quisesse mergulhar comigo.

— Calma, pequena, você fica na sombra, tá? — disse, rindo enquanto ela se jogava na grama. Mergulhei na água, sentindo o frescor aliviar o peso no peito. Nadei de um lado pro outro, deixando meus pensamentos se dissolverem na água. Por alguns minutos, eu era só eu. Não a noiva de ninguém, não a filha da Fernanda. Só Luana.

O que eu não sabia era que, do segundo andar, Felipe estava na janela do escritório, me observando. Ele estava com uma xícara de café na mão, o rosto tão sério quanto sempre, mas seus olhos seguiam cada movimento meu. Não era um olhar de desejo, nem de carinho. Era... curiosidade, talvez? Como se ele estivesse tentando entender quem era essa garota que agora levava seu sobrenome.

— Ela é diferente — ele murmurou para si mesmo, franzindo a testa. Diego, seu melhor amigo, que estava sentado no sofá do escritório revisando papéis, levantou o olhar.

— Quem? A sua esposa? — Diego perguntou, com um tom de provocação. — Não acredito que você tá espiando ela, cara. Tá ficando mole?

— Não é isso — Felipe respondeu, seco, virando-se da janela. — Só não entendo por que ela tá tão à vontade. Essa casa não é o lugar dela.

— Ainda — Diego disse, com um sorriso malicioso. — Dá um tempo, Felipe. Ela pode te surpreender. Ou você tá com medo de gostar dela?

Felipe bufou, voltando a atenção pros papéis na mesa. — Não seja ridículo. Isso é só um contrato.

Mas, mesmo enquanto falava, seus olhos voltaram por um segundo pra janela, onde eu ria sozinha, jogando água pra cima. Algo nele se mexeu, mas ele empurrou aquele sentimento pra bem longe.

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De volta à piscina, saí da água e me sentei na borda, deixando o sol secar minha pele. Mingau veio correndo, lambendo minhas pernas, e eu ri alto.

— Você é a melhor companhia do mundo, sabia? — falei, pegando ela no colo. Foi quando ouvi passos atrás de mim. Virei e lá estava Felipe, com as mãos nos bolsos, o rosto impassível.

— Você tá molhando o chão — ele disse, apontando pra trilha de água que eu deixei.

— Desculpa, Sr. Iceberg — respondi, sem pensar, usando o apelido que Carlos deixou escapar. Seus olhos se estreitaram, e eu congelei. *Droga, Luana, por que você fala sem pensar?*

— Sr. Iceberg? — ele repetiu, a voz baixa, mas com um traço de diversão. — É assim que você me chama?

— Não! Quer dizer, não fui eu, foi... — Gaguejei, sentindo o rosto queimar. — Esquece, tá? Não vou molhar mais nada.

Ele me encarou por um momento, e juro que vi um canto da boca dele subir, quase um sorriso. Mas foi tão rápido que achei que imaginei.

— Não se acostume a nadar aqui o dia todo — ele disse, já se virando. — Essa casa tem regras.

— Regras? Tipo o que, não sorrir? — retruquei, cruzando os braços. Ele parou, mas não olhou pra trás.

— Tipo não me irritar — ele respondeu, e sumiu pela porta de vidro.

Eu bufei, abraçando Mingau com mais força. — Ele é impossível, né, pequena? — murmurei. Mas, mesmo com a raiva, não consegui ignorar o jeito que ele me olhou. Como se, por um segundo, eu tivesse feito ele hesitar.

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Mais tarde, sentada na sala com Rosa, que insistiu em me trazer um suco, perguntei sobre Felipe.

— Rosa, ele sempre foi assim? Tão... fechado?

Ela suspirou, mexendo no pano de prato. — O Sr. Felipe teve uma vida difícil, Luana. O pai dele, o Sr. Paulo, nunca foi muito... presente. E depois que a mãe dele morreu, ele se fechou. Mas ele não é ruim. Só precisa de alguém que o faça querer abrir o coração.

— Boa sorte com isso — murmurei, tomando um gole do suco. Mas, lá no fundo, uma parte de mim se perguntava se eu poderia ser essa pessoa. Ou se eu ao menos queria tentar.

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