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Despertar amargo

O sol mal atravessava as frestas da janela suja quando Olívia acordou. Seu corpo ainda sentia os efeitos da noite anterior — cada músculo dolorido, cada parte da pele mais sensível do que jamais imaginou. Mas não foi isso que a fez prender a respiração.

Foi a ausência dele.

A cama estava fria ao lado. O travesseiro amassado ainda trazia o cheiro de Lobo, mas ele se fora. Sem palavras. Sem bilhete. Sem um último olhar.

Ela se sentou devagar, sentindo a ardência entre as pernas e o coração pesado no peito. Passou os dedos pelos lençóis, como se ainda pudesse encontrar algum traço dele. Mas tudo o que restava era o vazio.

— Ele avisou — sussurrou para si mesma, tentando não chorar. — Avisou que era só uma noite.

Mas saber disso não tornava mais fácil.

Vestiu a mesma roupa da noite anterior. A blusa amassada, o jeans apertado, e o batom borrado nos lábios serviam como lembretes de que tudo aconteceu. Que ela entregou tudo — e agora era só uma lembrança para ele.

Quando saiu do quarto, o galpão ainda estava silencioso. Alguns motoqueiros dormiam espalhados, e o cheiro de cigarro e gasolina era sufocante. Ela não viu Lobo. Nem sinal dele.

Fingiu força, andou com o queixo erguido até o portão da frente. Ninguém tentou impedi-la. Ninguém notou a dor nos olhos dela.

O caminho de volta para casa parecia mais longo. O táxi que pegou no centro da cidade levava-a em silêncio até o bairro onde morava com a mãe. As ruas pareciam mais cinzentas. O mundo menos colorido.

Olívia queria chorar. Gritar. Mas não tinha direito. Ela escolheu aquela noite. Ela se jogou nos braços do Lobo sabendo que havia espinhos.

Ainda assim, doía.

Chegou em casa e encontrou a mãe na cozinha, preocupada.

— Onde você se meteu, Olivia? Meu Deus, eu quase chamei a polícia!

— Desculpa, mãe. Dormi na casa de uma amiga... perdi a noção da hora.

A mentira saiu fácil, mas por dentro, ela estava desmoronando.

Subiu para o quarto, trancou a porta e finalmente desabou. Chorou até não sobrar lágrimas. E quando o sono veio, foi inquieto, povoado por lembranças da noite que mudou tudo.

Na manhã seguinte, Lobo acordou com a cabeça pesada e o peito apertado.

Estava de volta à sede dos Dark Vultures, mas não no quarto onde estivera com Olívia. Dormiu na oficina, de propósito. Como se quisesse apagar o rastro dela. Como se isso fosse possível.

Seu lençol cheirava a óleo, não a pele macia. E por mais que tentasse, não conseguia afastar o rosto dela da memória.

A forma como ela tremia. Como dizia seu nome. Como se entregava inteira, mesmo com medo.

Ele a tomou sabendo que não poderia tê-la de verdade. Porque Lobo não era um homem de pertencimento. Ele era um sobrevivente. Um líder de gangue. Um pecador que não merecia redenção.

E ela?

Ela era pura demais pra esse mundo.

O silêncio entre eles

Os dias seguintes passaram em um borrão para Olívia. Ela tentou retomar a rotina na faculdade, evitar os amigos e a família, mas tudo parecia distante — como se parte dela tivesse ficado naquelas paredes escuras onde viveu uma noite intensa demais para um coração tão jovem.

No entanto, o silêncio de Lobo era o que mais doía. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum sinal. Como se aquela noite tivesse sido só uma memória que ele preferia apagar.

— Ele não vai voltar — a voz da mãe quebrou o silêncio na cozinha, no terceiro dia. — E você precisa seguir em frente.

Olívia quis acreditar, mas não conseguiu.

Até que uma noite, quando menos esperava, ele apareceu.

Ela estava saindo da aula quando sentiu o olhar penetrante de Lobo atravessando a multidão. O coração disparou, a respiração travou. Ele estava ali, parado a poucos passos, com a jaqueta de couro preta, o olhar frio e inalcançável que a havia marcado para sempre.

— Olívia — a voz dele era rouca, quase um sussurro, mas parecia ecoar dentro dela.

Ela não respondeu de imediato. Seus olhos só conseguiam fixar os dele.

— Precisamos conversar — disse ele, aproximando-se.

O chão parecia fugir sob seus pés, mas ela ficou firme.

— Por que sumiu? — perguntou, a voz trêmula.

Lobo a encarou como se carregasse um peso invisível.

— Porque eu não faço promessas que não posso cumprir. Não sou homem para amores fáceis, mocinha.

— Então por que me beijou? Por que me quis?

Ele engoliu em seco, desviando o olhar por um instante.

— Porque você me fez sentir vivo... Mas não posso ser o que você espera.

Olívia deu um passo para frente.

— Eu não espero nada. Só queria uma noite... Só isso.

Lobo a olhou de novo, dessa vez como se estivesse decidido.

— Isso não vai ser só uma noite, Olívia. Não comigo.

O silêncio que seguiu foi carregado de significado.

Ela queria acreditar nele, mas o medo de se machucar novamente a paralisava.

— Se é assim, então vá embora — disse ela, com a voz baixa, quebrada.

Lobo hesitou, depois virou as costas, sumindo na escuridão da rua.

Olívia ficou ali, com o coração partido, mas com uma certeza crescente: aquela noite era só o começo.

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