A Ordem no Caos

Segunda-feira.

O relógio ainda nem marcava 7h30 da manhã e o loft já cheirava a limpeza, café fresco… e baunilha.

Ian estava ali.

Sentado impecavelmente no sofá de linho claro, pernas cruzadas, tablet em mãos. Os dedos dançavam pela tela com precisão cirúrgica — reorganizando compromissos, reagendando reuniões, cruzando horários, limpando o que parecia um atentado à logística.

Por dentro, era febre. Por fora, era método.

O sorriso discreto nos lábios não era de alívio, era de escárnio.

Quem era o desgraçado que cuidava da agenda do amor da sua vida antes dele? Um incompetente, claramente. Um inútil. Um obstáculo removido pelo destino. Ian se prometeu que descobriria quem foi… e se certificaria que nunca mais chegasse perto.

Enquanto isso, seguia implacável, anotando, corrigindo, criando pastas por cor e urgência. Estava tão imerso, tão meticulosamente obcecado, que sequer percebeu quando o elevador particular se abriu.

O silêncio foi substituído por presença.

O centro do universo havia chegado.

Min Jae-Hyun.

Atrasado, claro. Mas quem ousaria se importar?

O tempo dobrava ao redor dele.

Ele surgiu com os cabelos ainda úmidos — provavelmente banho recente, talvez de uma noite mal dormida ou bem fodida — vestindo uma camisa preta aberta demais, deixando o peito exposto o suficiente pra distrações. Os olhos acinzentados ainda meio sonolentos, mas atentos.

Na mão, uma caneca de porcelana escura.

Na outra… uma segunda caneca.

— Café? — ele perguntou, estendendo ao novo secretário.

A voz rouca, recém-despertada, penetrou Ian como um suspiro proibido.

O ômega pegou a caneca com as duas mãos. A ponta dos dedos chegou a tremer, mas ele disfarçou com um sorriso fino, quase submisso.

— Obrigado, senhor — respondeu, com a voz doce que ele treinara anos pra ser perfeita.

Jae-Hyun se jogou no sofá ao lado dele, sem cerimônias, como se estivessem no terceiro mês de convivência. Levantou uma sobrancelha ao olhar o tablet.

— Acho que nem preciso estar aqui, hein. Você faz tudo sozinho.

— Só tento facilitar sua vida — Ian respondeu sem tirar os olhos da tela, mas por dentro queria gritar. "Sua vida é minha religião."

Jae-Hyun deu um risinho leve, bebendo um gole do chá.

— O que temos pra hoje, secretário?

“Seu coração” seria a resposta automática na mente de Ian. Mas ele respirou fundo e rolou a tela com precisão profissional.

— Ensaio fotográfico às 10h, almoço com patrocinador às 13h30, treino de postura e passarela às 17h, e evento social no Hotel Fasano às 20h.

— Social? Preciso parecer simpático?

— Precisa parecer desejável. O simpático eu cuido por você — Ian respondeu, calmo, doce, preciso. Um veneno lento.

Jae-Hyun ergueu os olhos, encarando-o por um segundo a mais que o necessário.

Mas não disse nada.

Apenas bebeu mais um gole.

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(Parte 2): A Rotina dos Deuses

E lá foram eles — o Alfa e seu novo satélite.

O carro da agência os esperava na garagem subterrânea do prédio, um sedã preto com vidros fumês, ar-condicionado no ponto, e motorista que já conhecia as manias de Jae-Hyun. Ian entrou no banco traseiro primeiro, tablet em mãos, pastinha de compromissos equilibrada nos joelhos. Jae-Hyun entrou logo depois, se esparramando como se o banco tivesse sido moldado para o seu ego.

10h — Ensaio fotográfico.

O estúdio no bairro da Gávea era um caos criativo: cabos pelo chão, fotógrafos animados demais, estilistas correndo com cabides. Assim que chegaram, todos giraram em torno de Jae-Hyun como satélites desgovernados.

O alfa não disse nada.

Apenas tirou o blazer, largou na mão de Ian sem olhar e foi direto para a maquiagem.

— Café sem açúcar. Agora. — soltou no ar, como se estivesse pedindo para Siri.

Ian obedeceu com um sorriso.

Desviou das pessoas, conseguiu o café, voltou e esperou de pé até ele terminar a maquiagem. Quando Jae-Hyun estendeu a mão sem falar nada, o ômega já estava entregando a caneca. Nem um segundo de atraso.

Durante o ensaio, Jae-Hyun parecia outra criatura. Dono da câmera. Dono da luz. Dono do mundo. Ian assistia como um devoto silencioso, anotando tudo, corrigindo falas dos produtores, avisando mudanças de figurino, oferecendo água quando necessário — mesmo sem que ninguém pedisse.

Quando o ensaio acabou, o alfa sequer olhou para Ian. Só jogou uma sacola com as roupas usadas pra ele e seguiu andando.

Ian segurou o cheiro de Jae-Hyun preso nas peças com dedos trêmulos.

Sorrindo.

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13h30 — Almoço com o patrocinador.

Restaurante francês, salão reservado.

O patrocinador era um alfa velho e desagradável, olhos pequenos e sorriso lascivo. Jae-Hyun não fazia a menor questão de disfarçar o tédio, e deixou Ian conduzir quase toda a conversa, apenas interferindo com comentários secos ou gracejos de duplo sentido que deixavam o patrocinador rindo feito um idiota.

Quando a sobremesa chegou, Jae-Hyun mexia no celular com a perna cruzada, e chutou de leve a canela de Ian por baixo da mesa.

— Vai, dá um jeito de encerrar isso logo. Quero sair daqui antes de morrer de sono. — disse, sem sequer levantar os olhos.

Ian apenas sorriu e, como um mágico, encerrou o almoço com diplomacia e charme.

O patrocinador saiu satisfeito.

Jae-Hyun saiu primeiro.

Ian pagou a conta.

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17h — Treino de passarela e postura.

Uma sala espelhada, som alto, uma treinadora rígida como concreto.

Jae-Hyun chegou com 20 minutos de atraso, usando óculos escuros dentro do ambiente fechado.

— Não vou tirar, minha cara tá inchada. E não vou andar com essa postura idiota que você quer. Já sou lindo, querida.

A treinadora revirou os olhos. Ian teve que intervir, pedindo “paciência” e “respeito pelo talento” de Jae-Hyun — mesmo sabendo que o alfa só queria tirar uma soneca num canto qualquer.

Quando finalmente decidiu andar, Jae-Hyun desfilou três vezes e se jogou no banco, dizendo:

— Ian, água com gás. Gelada.

— Sim, senhor. — respondeu, como se fosse o maior prazer do mundo.

E talvez fosse.

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20h — Evento no Hotel Fasano.

Tapete vermelho. Luzes. Sorrisos ensaiados.

Jae-Hyun parecia uma entidade. Vestia um terno branco creme, pele alva em contraste, olhos ocultos atrás de lentes douradas. Ian andava dois passos atrás, organizando a sequência de fotos, cuidando para que os fãs não o tocassem demais, controlando o acesso de jornalistas.

Quando um repórter se aproximou demais, Ian o impediu com um gesto elegante.

Jae-Hyun, no reflexo, olhou pra ele com um brilho curioso.

— Tá me protegendo agora? — perguntou com desdém.

— Sempre estive. — Ian respondeu, firme, sorrindo.

O alfa ficou em silêncio por um instante.

Depois riu.

Aquela risada baixa e perigosa.

Mais tarde, no lounge reservado, Jae-Hyun jogou a gravata fora, soltou dois botões da camisa e tombou no sofá como se não houvesse amanhã.

— De todos os incompetentes que já trabalharam comigo, você é o mais... conveniente.

Ian, ao invés de se ofender, apenas ajeitou os óculos no rosto.

— Fico lisonjeado.

E ficou mesmo.

O dia foi infernal.

Ele carregou sacolas, recebeu patadas, limpou o suor de outra pessoa, levou culpa por atrasos que não cometeu.

Mas dormiu com um sorriso no rosto naquela noite.

O amor da sua vida estava de volta.

E agora… ao alcance da mão.

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