O Alfa e o Ômega

Era terça-feira, e o relógio da recepção da agência S.M. acabava de marcar exatamente 14h quando Ian entrou no prédio. O ar-condicionado central soprava um vento artificialmente elegante, e o lugar exalava perfume caro e poder disfarçado sob sorrisos plásticos. Ian vestia-se como se o mundo fosse uma vitrine: calça social bem passada, camisa clara com os punhos dobrados até o antebraço, sapatos discretos e o rabo de cavalo usual, preso com precisão quase cirúrgica.

Por dentro, no entanto, um furacão pulsava febril. O amor da sua vida — aquele mesmo que havia cuspido nele anos atrás com palavras cruéis, com tapas, com olhares de nojo e desprezo — agora era o motivo de sua respiração ritmada e foco absoluto. Ian estava ali por ele. Para ele.

A recepção era decorada com quadros de campanhas publicitárias — todas com modelos que pareciam semideuses. Mas, para Ian, todos pareciam pálidos demais perto de um nome: Min Jae-Hyun.

Cinco pessoas aguardavam a entrevista, incluindo ele. Ian se sentou de forma ereta, mãos sobre os joelhos, um leve sorriso educado nos lábios e o cheiro doce e fresco de seu feromônio começando a se espalhar quase imperceptivelmente.

Foi quando ela entrou.

A mulher era uma presença em si. Jovem, talvez 25 anos. Terninho justo, salto fino, maquiagem afiada como navalha e curvas tão ensaiadas quanto suas palavras. Ela era o tipo de mulher que usava o cargo como palco para o próprio ego — e fazia questão de mostrar isso.

— Ah... um ômega. Que fofo. E você acha mesmo que vamos colocar um ômega sensível e passivo ao lado do nosso modelo mais temperamental? — disse, encarando Ian como quem analisa um bicho exótico.

Outros candidatos riram, alguns apenas desviaram o olhar com constrangimento. Ian permaneceu calmo. Tão calmo quanto um chá de camomila servido em taça de cristal.

Mas o sangue borbulhava.

Ela continuou, em tom de escárnio:

— Nem que seja um gênio. Sabe como esses ômegas são… emocionais demais, não é? E francamente, já temos problemas demais com fãs obcecadas.

Antes que o veneno escorresse com ainda mais força… a porta da sala se abriu.

E ele apareceu.

Min Jae-Hyun.

Vestindo uma camisa de linho preta com os dois primeiros botões abertos, terno de alfaiataria impecável, cabelo levemente bagunçado e aquele olhar cinzento como aço recém-lapidado. A presença dele invadiu a sala antes mesmo de se pronunciar — como uma onda quente e selvagem de feromônio amadeirado, apimentado e possessivo.

Todos se levantaram. Era instintivo. Natural.

Ian também. Mas com um motivo diferente. Seus joelhos vacilaram por dentro, mesmo que o corpo permanecesse firme.

Jae-Hyun olhou a sala como quem analisa um aquário entediante. Então, voltou o olhar para a mulher:

— O que está acontecendo aqui? — sua voz era baixa, firme, preguiçosa. Como se estivesse perguntando por tédio, não por real curiosidade.

A mulher arregalou um sorriso forçado.

— Apenas... selecionando os candidatos, sabe como é. Um perfil como o seu exige certa triagem.

Mas ele a cortou. Sem erguer a voz.

— Não estou falando disso. Estou falando da sua falta de profissionalismo. Da sua opinião pessoal misturada com o trabalho. — Ele deu um suspiro, impaciente. — Se você quer se sentir importante, vá dar entrevista. Aqui, a gente contrata com base em competência. Não em preconceito.

Silêncio. Tenso. Cortante.

Jae-Hyun fez menção de sair, mas antes apontou para a porta entreaberta da sala:

— Seja quem for o primeiro, entra logo. Não tenho o dia todo.

E entrou.

A mulher, claramente desconcertada, engoliu o orgulho como um comprimido amargo. Murmurou “o primeiro, por favor”, sem encarar Ian — que já estava em pé antes que ela terminasse a frase.

Ele caminhou com passos leves até a sala. A porta fechou-se atrás dele.

O ar ali dentro era denso. Quente. Saturado do cheiro dominante de Jae-Hyun. Ian sentiu os pelos da nuca arrepiarem, o estômago dar voltas, o coração apertar.

Mas sentou-se.

E foi irretocável.

A fala era firme, articulada. Suas qualificações, impecáveis. Experiência, formação, conhecimento técnico e emocional. Ele não só conhecia o mercado — ele compreendia a lógica por trás das decisões. Apresentou-se como alguém essencial, sem soar desesperado.

Tudo isso enquanto, por dentro, seu coração gritava:

Ele me defendeu. Ele me protegeu. Ele… ainda tem algo dentro dele. Mesmo que não saiba. Mesmo que não se lembre.

Porque era claro: Jae-Hyun não o reconhecia.

Olhou para ele como olha para qualquer outro rosto — bonito, educado, invisível.

E isso doeu mais do que qualquer tapa.

Mas Ian sorriu. De canto. Porque o que o Alfa não sabia... era que agora, ele iria conhecê-lo. De verdade. De perto. Todos os dias.

E aquela indiferença…

Ele transformaria em necessidade.

Nem que levasse o mundo inteiro ao colapso.

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