Luxúria Em Silêncio
Era janeiro. Janeiro de um novo ano. Janeiro abafado, úmido, pegajoso. Janeiro carioca, como só o Rio sabe ser — um misto de promessas recém-nascidas e ressacas mal curadas. Eram seis da manhã, talvez cinco e cinquenta e dois, talvez seis e dez. O céu ainda não havia decidido se clarearia ou se manteria na penumbra quente e úmida da madrugada, mas os galos dos morros já cantavam como se o sol estivesse alto, os ônibus gemiam pelas ladeiras e o ar... o ar parecia respirar por si mesmo, denso, carregado de suor invisível.
Dentro do pequeno apartamento, onde cada centímetro quadrado contava uma história de economia, adaptação e sobrevida, o silêncio imperava. Um silêncio tímido, respeitoso, quase cúmplice. O espaço era pequeno, modesto, mas absurdamente organizado. Nada fora do lugar, nada sem propósito. As paredes brancas, amareladas em pontos pela umidade insistente, seguravam prateleiras com livros ordenados por cor, cadernos rotulados à mão, potes com etiquetas minúsculas na cozinha minúscula. Uma planta murchava na janela da sala, uma cortina transparente balançava sem vento.
E no quarto — que era mais uma extensão da sala do que um cômodo próprio — havia uma cama. E na cama, um corpo.
Ian Monteiro dos Santos dormia.
Dormia como quem fugia. Como quem se escondia dentro do próprio corpo, enrolado num cobertor fino, manchado de lavanda e sonho antigo. Estava virado para a parede, encolhido como um segredo, os dedos longos enroscados na barra do tecido. O pijama, de um tecido quase translúcido, leve, com flores pequeninas bordadas no peito, ondulava com o vaivém da respiração calma. A luz que entrava pelas frestas do mundo lá fora tocava seus cabelos acinzentados, dando a eles um brilho pálido, quase rosado, etéreo. Os fios caíam sobre o travesseiro como névoa. E seus cílios, longos e escuros, tremiam levemente.
Sonhava.
E no sonho, como sempre, havia ele.
Era o pátio da escola. A quadra rachada, o muro com nomes pichados, o sol do meio-dia batendo forte no cimento. O cheiro de suor adolescente, perfume barato e desespero hormonal pairava no ar. Ian, magro demais, sempre com os livros apertados contra o peito, óculos escorregando no nariz, estava no centro de uma roda. A roupa amassada, os joelhos ralados, os olhos baixos.
Jae-Hyun ria.
Ria com a crueldade leve de quem não via maldade em sua própria crueldade. Alto, bonito demais, olhos de aço e dentes perfeitos. As mãos dele empurravam, arranhavam, puxavam o cabelo de Ian, jogavam o caderno longe. E cada palavra — nojento, aberração, ômega ridículo, viado safado — vinha com o gosto do desprezo puro, cristalino, de quem se achava deus entre pecadores.
“Você acha que eu ia querer alguém como você? Eu tenho nojo.”
E Ian... oh, Ian...
Ele olhava.
O rosto quente, os olhos úmidos, a respiração acelerada. Dor, humilhação, vergonha — tudo aquilo o queimava por dentro. Mas também o acendia. Porque Jae-Hyun estava ali. Tocando nele. Dizendo seu nome. Gritando, empurrando, rindo... mas presente. Ele existia para o Alfa. Ainda que como alvo, ainda que como escárnio. Era visto. Era lembrado.
E aquilo era amor.
Era amor, mesmo quando era dor.
Principalmente quando era dor.
Foi quando, entre um grito abafado e o som longínquo da buzina de um caminhão lá fora, Ian acordou.
Seus olhos se abriram devagar, como pétalas úmidas em um dia nublado. Piscou duas, três vezes, ajustando a visão à claridade pálida do novo dia. O rosto sereno, quase angelical, moldado pela fragilidade dos ossos finos e pela maciez da pele clara, tingida de um rosado natural nas bochechas. Seu pijama franzia nas laterais do corpo, leve como gaze, revelando o contorno delicado da clavícula e a curva suave da cintura.
Ele espreguiçou-se devagar, com movimentos fluídos, felinos, como se cada osso precisasse de permissão para se mover. Os cabelos soltos caíram sobre os ombros. Um dos óculos, pendurado na cabeceira, foi pego com os dedos ainda sonolentos e encaixado no rosto com um gesto automático.
E então, ele sorriu.
Um sorriso leve, quase imperceptível.
Talvez por ter sonhado com ele.
Talvez por ainda doer.
Talvez por nunca ter deixado de amar.
Mesmo depois de tudo.
Mesmo agora.
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Ficha dos Personagens;
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Ficha de Personagem – Ômega
Nome completo: Ian Monteiro dos Santos
Dinâmica: Ômega
Idade: 22 anos
Cidade natal: Rio de Janeiro (Cristo Redentor aos pés de casa)
Origem familiar: Pai Alfa (trabalhador braçal) e mãe Beta (doente, afetuosa e superprotetora)
Classe social: Baixa
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Aparência física:
Altura: 1,76m
Peso: 61 kg
Porte físico: Magro, com postura ereta e leveza nos movimentos, quase felina
Cabelos: Longos, lisos e acinzentados com um brilho rosado em certas luzes, normalmente presos em um rabo de cavalo desleixado
Olhos: Castanho-acinzentados, cobertos por óculos finos de armação redonda
Pele: Clara, com leve rosado natural
Traje comum: Camisa social branca larga, geralmente com a gola aberta; estilo intelectual e “limpo”, contrastando com sua natureza oculta
Marca registrada: Um par de óculos de grau sempre meio escorregando no nariz + um sorriso de canto que pode significar qualquer coisa
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Feromônios:
Cheiro: Aroma fresco e extremamente adocicado, com notas de baunilha e orvalho matinal — um cheiro que causa dependência emocional e desperta instintos de proteção e possessividade em alfas (mesmo os mais racionais).
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Traços encantadores:
Extremamente inteligente e articulado, com uma fala calma, mansa e envolvente
Fiel a quem ama (até demais), observa tudo e todos com atenção obsessiva
Físico andrógino, beleza sutil que passa despercebida à primeira vista, mas inebria quem o conhece de verdade
Cuida da mãe com carinho absurdo — o que revela um lado genuinamente sensível e humano
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Traços doentios:
Amor doentio travestido de devoção — é o tipo de pessoa que nunca esquece ninguém, muito menos quem o feriu
Não distingue amor de obsessão — confunde presença com afeto e controle com carinho
Capacidade de manipular pessoas com gestos pequenos, olhares e palavras escolhidas meticulosamente
Stalker habilidoso, com um dossiê mental (e físico) sobre o Alfa desde a adolescência
Guarda fotos, lembranças, prints e gravações com justificativas internas como “memórias inofensivas”
Nunca deixou de amar seu agressor — e agora que cresceu, acredita que tem o direito de "reivindicá-lo"
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Ficha de Personagem – Alfa
Nome completo: Min Jae-Hyun (민재현)
Dinâmica: Alfa
Idade: 23 anos
Cidade atual: Rio de Janeiro (vive em um loft de luxo na Zona Sul)
Origem familiar: Família coreana, se mudou para o Brasil quando Jae-Hyun tinha 3 anos. Cresceu com apoio incondicional da mãe (que investia no sonho de vê-lo famoso) e um pai mais ausente, frio e extremamente exigente.
Classe social: Média na infância, alta na fase adulta (graças à carreira de modelo)
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Aparência física:
Altura: 1,87m
Peso: 78 kg
Porte físico: Atlético e definido, com ombros largos e postura naturalmente dominante
Cabelos: Pretos, lisos e levemente bagunçados de forma intencional — visual sempre calculadamente “desleixado”
Olhos: Aço-acinzentado, intensos, com um olhar que transita entre tédio e ameaça
Pele: Alva, fria ao toque, sempre muito bem cuidada
Traje comum: Camisas parcialmente abertas, ternos caros, óculos escuros, vibe “playboy perigoso”
Marca registrada: Um olhar de desprezo acompanhado de um sorriso torto que derrete ou destrói (depende de quem recebe)
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Feromônios:
Cheiro: Um aroma marcante e selvagem, mistura de madeira escura, pimenta negra e couro.
Extremamente dominante e territorialista, seu cheiro costuma marcar presença antes mesmo dele chegar — e pode causar intimidação, submissão involuntária em outros ômegas e até provocar disputas entre alfas.
Usa seu feromônio como arma: em ambientes de trabalho para reafirmar status, ou em disputas de ego no meio da elite. Pode “pressionar” o ambiente só com sua presença.
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Traços encantadores:
Extremamente bonito e fotogênico, com uma aparência naturalmente sedutora
Descolado, confiante, vive como se o mundo girasse ao redor dele — e às vezes gira mesmo
Carismático com a mídia e fãs, sabe se comportar como um príncipe quando está sendo visto
Apesar de tudo, tem lapsos de humanidade — brechas onde se nota um certo vazio, um cansaço com tudo que conquista
Tem um carinho secreto pela mãe, mesmo tentando parecer indiferente
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Traços sombrios:
Frio, impulsivo e inconsequente com sentimentos alheios — coleciona ômegas e esquece nomes no dia seguinte
Arrogante até o limite: acha que todos querem algo dele e nunca baixa a guarda
Em negação sobre sua sexualidade — se envolve com mulheres por conveniência, mas nunca se sentiu realmente satisfeito
Odeia que o desafiem ou tentem controlar seu espaço (o que o Ian, ironicamente, vai fazer sem ele perceber)
Guarda um vício silencioso por sentir controle — mas esse vício pode virar contra ele com o tempo
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Atualizado até capítulo 30
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