Noam não fazia ideia por onde começar.
Ele nunca foi bom com palavras — pelo menos, não com as que importavam. Sabia discursar para investidores, dobrar reuniões com olhares firmes e estratégias afiadas. Mas quando se tratava de Oriana, tudo nele falhava.
Não porque ele não sentisse. Mas porque nunca aprendeu a expressar.
E agora, com o abismo entre eles crescendo um centímetro a cada silêncio mal resolvido, Noam decidiu fazer diferente. Não com promessas. Mas com atitude.
Na segunda-feira, ele acordou antes do despertador. Pela primeira vez em meses, levantou da cama devagar para não acordá-la. Ficou alguns segundos observando-a dormir, o rosto virado para o outro lado, os ombros levemente tensos até no descanso. Oriana já não dormia em paz.
Ele desceu e foi para a cozinha. Não sabia fazer muita coisa, mas lembrava que ela gostava de café forte, pão integral tostado e o suco precisava ser fresco — nunca de caixinha.
Demorou trinta minutos. Queimou a primeira torrada. Espremeu as laranjas com força demais. Mas arrumou tudo com cuidado. Até uma flor do jardim de Asher ele colocou ao lado da xícara.
Oriana desceu em silêncio.
Viu a mesa posta.
Não disse nada. Mas seus olhos se demoraram um pouco mais na flor.
Noam não comentou. Apenas beijou a testa de Asher, vestiu o paletó e saiu para o trabalho com um “bom dia” suave.
Na terça, ele levou Asher ao berçário pessoalmente. Saiu mais cedo do escritório, comprou o suco preferido da esposa e o deixou na geladeira sem bilhete, sem anúncio. A noite, ajudou no banho do filho sem ser chamado.
Na quarta, chegou do trabalho sem o celular na mão. Lavou a louça do jantar. O silêncio entre ele e Oriana era espesso, mas havia algo diferente agora. Menos defensivo. Menos frio.
Na quinta-feira, ele recusou o convite dos amigos para uma rodada de cerveja. Ficou em casa, mesmo sabendo que Oriana não lhe dirigiria mais que cinco frases. Ele se sentou ao lado de Asher, leu uma história, riu, fez vozes engraçadas.
Oriana, do corredor, observou a cena com os braços cruzados. Uma parte dela se enternecia. Outra parte se protegia, ainda desconfiada. Já tinha visto boas intenções durarem pouco.
Na sexta, foi a vez de dar espaço de verdade.
Oriana queria sair sozinha. Ele apenas assentiu. Sem perguntas. Sem “com quem?”, “a que horas volta?”, “vai demorar?”.
Quando ela retornou, a casa estava arrumada, Asher dormia, e Noam estava na cozinha, lavando o copo do filho com um cuidado quase solene.
Ela não disse nada. Mas sentiu. Tudo. Cada gesto. Cada silêncio. Cada escolha.
Mais tarde, naquela mesma noite, já no silêncio do corredor, ela o encontrou saindo do quarto de Asher.
— Você tem agido diferente — ela disse, num tom neutro.
Noam se virou. Parou ali, perto dela, sem se aproximar demais.
— Estou tentando — ele respondeu. — Mas não por obrigação. É porque eu preciso crescer. Porque eu errei muito. Porque eu te machuquei. E porque eu não quero que o nosso filho cresça vendo o pai dele como um homem que só destrói o que ama.
Oriana engoliu seco.
— E se for tarde demais?
Noam hesitou. Depois, respondeu com sinceridade:
— Eu não sei. Mas, mesmo que seja... eu ainda quero ser digno de vocês. Nem que seja só como pai do Asher. Nem que você nunca me olhe como antes.
Ela não respondeu.
Mas, pela primeira vez, não virou o rosto.
O silêncio entre eles ainda era denso. Mas não era o mesmo de antes.
Agora, era um silêncio onde algo brotava.
Talvez esperança.
Talvez arrependimento.
Talvez só o reconhecimento de que recomeçar exige tempo, e, acima de tudo, humildade.
E Noam, pela primeira vez, parecia disposto a esperar.
O sol mal tinha começado a esquentar quando Noam já estava de pé. A rotina que vinha adotando se tornava cada vez mais natural, embora seu esforço ainda lhe consumisse mais energia do que gostaria de admitir.
Na cozinha, ele preparava o café da manhã com a atenção de quem aprende a cada erro. O cheiro do pão tostado tomou conta da casa e Oriana, ainda com a cara amassada de sono, apareceu para o encontro matinal.
— Bom dia — disse ele, sorrindo levemente e colocando o prato de panquecas com frutas frescas à frente dela.
Ela o olhou surpresa, mas aceitou sem dizer nada, sentindo uma pontada de calor no peito.
Asher já estava acordado, pulando de um lado para o outro. Seus olhos brilhavam de energia, e ele não demorou a exigir a atenção dos dois pais.
— Vamos no parque? — perguntou, com o jeitinho que só as crianças têm para persuadir.
— Depois do almoço, campeão — respondeu Noam, com um sorriso genuíno.
Durante a manhã, Noam recusou dois convites para reuniões sociais. Uma festa importante com clientes e outra com os amigos do escritório. Sua resposta era clara e firme:
— Hoje é dia de família.
Os empregados da casa, acostumados com o estilo de vida agitado e imprevisível do magnata, começaram a notar as pequenas mudanças. O mordomo, Sr. Ricardo, comentou com a governanta:
— Está estranho, não acha? O patrão está mais presente. Passa as manhãs jogando bola com o menino e não sumiu na última festa do grupo.
— Você viu ontem? — respondeu a governanta. — Ele até ajudou na louça depois do jantar. Nunca vi isso acontecer antes.
Enquanto isso, Asher aproveitava o tempo para fazer suas perguntas inocentes, que, sem querer, deixavam os adultos em situações embaraçosas.
No parque, entre risadas e corridas, Asher soltou sem perceber:
— Papai disse que vai ficar mais em casa e que a mamãe tá meio triste, mas ele quer deixar ela feliz de novo!
Noam e Oriana trocaram olhares rápidos, surpresos com a sinceridade do garoto.
Noam sorriu de canto, abraçando o filho com força.
— É verdade, filho. Papai está tentando.
Mais tarde, ao voltar para casa, o jardineiro, que ouvia a conversa, comentou para o motorista:
— Acho que o patrão está mudando mesmo. Tá mais calmo e parece mais feliz quando está com a família.
O motorista assentiu, intrigado:
— Tomara que seja pra valer.
O sábado terminou com uma janta simples, feita em conjunto por Noam e Oriana. Não houve discussões, nem silêncios desconfortáveis. Apenas o som da família tentando se reencontrar.
Noam foi para o quarto cedo, cansado, mas satisfeito.
Ele sabia que não havia garantias.
Mas naquele sábado, uma coisa era certa: ele estava disposto a tentar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 38
Comments