Oriana hesitou. As mãos segurando a xícara começaram a tremer levemente.
— Eu não sei mais, Eli. Eu não sei. E o pior… é que eu não quero acreditar.
— O que você quer dizer com isso?
Ela fechou os olhos, tentando organizar os pensamentos.
— Se eu acreditar nele, eu preciso admitir que o problema somos nós. Que ele nunca me traiu, mas que o nosso casamento está desmoronando mesmo assim.
Mas se eu acreditar que ele mentiu… pelo menos isso me dá uma razão para ir embora. Uma desculpa. Um ponto final.
Eli suspirou do outro lado.
— Você está cansada, Ori. Isso transborda da sua voz. Você ama esse homem. Você já tentou fazer esse casamento funcionar mais do que qualquer contrato previa.
— Eu me apaixonei por alguém que não existe, Eli. Pelo homem que ele mostra ser quando está com Asher… ou quando sorri do nada, quando está distraído. Pelos fragmentos.
Mas ele nunca me deixou ver tudo. Nunca se abriu de verdade.
— E você? Se abriu?
Oriana engoliu em seco.
— Eu tentei. Mas sempre que me aproximava… ele recuava. E depois de um tempo, a gente aprende a parar de tentar.
A água do chá ferveu e ela se levantou para servir. Fez tudo no automático. O aroma da camomila invadiou a cozinha, mas nem o calor da bebida conseguia acalmar o vazio que crescia dentro dela.
— Eu estou presa, Eli. Entre o que eu sinto… e o que eu mereço sentir. Eu quero alguém que fique. Que escolha ficar. Que não precise ser lembrado de que tem uma família.
— E você acha que Noam não é capaz disso?
— Não sei — ela sussurrou. — Mas, sinceramente? Eu tô começando a não querer mais esperar pra descobrir.
E pela primeira vez em muito tempo, Oriana deixou uma lágrima escapar. Silenciosa. Solitária. Como ela.
O som do clique da porta fechando atrás dele ainda vibrava em seus ouvidos como um tiro surdo.
Noam caminhou até o escritório no andar de baixo sem acender nenhuma luz. Conhecia aquele espaço de cor e tato — cada livro alinhado, cada garrafa de whisky esquecida na prateleira de vidro, a cadeira de couro que rangia discretamente quando ele se jogava nela como agora.
O peso do corpo era leve comparado ao que carregava por dentro.
Passou as mãos pelo rosto. As palmas ásperas arranharam a barba malfeita que crescia nas margens do seu controle. Ele estava exausto, mas mais do que isso: ele estava perdido.
Serena.
Como diabos ela sempre aparecia nos momentos errados?
Não foi proposital. Nunca seria. Quando a viu no evento, sentiu o desconforto imediato, como se parte de um passado que ele tentava enterrar tivesse voltado para rir da sua tentativa de ser alguém melhor. Ela se aproximou, conversaram brevemente — educados, nada mais. Mas a imprensa tinha talento para distorcer e pintar histórias que vendem.
E agora Oriana achava que ele tinha feito o que ele mais desprezava.
Traí-la.
— Merda — murmurou, jogando a cabeça para trás na cadeira.
Ele nunca a traiu. Nem mesmo quando teve a oportunidade. Nem mesmo quando o casamento era só papel e presença em jantares corporativos. Nem mesmo quando os sentimentos pareciam não existir — e depois, quando eles começaram a existir, menos ainda.
Ele nunca a traiu, porque pensava em Asher.
Toda vez que uma mulher se aproximava com mais intenções do que palavras, ele via o rosto do filho. E via Oriana. Não como esposa por contrato, mas como mãe do seu menino. Como mulher que, mesmo sem exigir amor, se entregou a uma vida que não era a dela.
Noam sabia que era imaturo.
Ainda gostava do barulho dos eventos, da adrenalina das decisões de última hora, das madrugadas movidas a vinho e conversa fiada com investidores estrangeiros. Sabia que deixava Oriana sozinha mais do que deveria. Sabia que fugia de conversas importantes e preferia se esconder no silêncio quando era confrontado.
Mas também sabia que não queria perder aquela família.
Aquilo que ele nunca pensou em construir, mas que, de alguma forma, acabou se tornando a única coisa que importava de verdade.
Fechou os olhos e se lembrou de quando Asher nasceu. Da primeira vez que segurou o filho nos braços e sentiu o peito apertar de um jeito que ele nunca tinha sentido antes — como se finalmente existisse algo que o tornasse humano. E ao lado da maca, Oriana, com os olhos marejados, o observando como se esperasse por alguma reação que ele não soube dar.
Desde então, ele vinha falhando em gestos pequenos.
Estava presente, sim. Nunca perdeu um aniversário, uma apresentação, uma consulta médica. Mas não sabia amar como ela merecia. Não com palavras. Não com constância.
Noam pegou o celular. Pensou em mandar uma mensagem. Em dizer não houve nada, eu juro.
Mas sabia que palavras, naquele momento, eram como copos em uma casa já trincada: frágeis demais para sustentar qualquer coisa.
O que Oriana precisava era de um homem que soubesse estar. Que soubesse ser.
E ele não sabia ainda se conseguia ser esse homem.
Mas sabia o que não queria.
Ele não queria ver aquele olhar outra vez — aquele olhar quebrado, cheio de mágoas, que ela lhe lançou antes de subir para o quarto. Não queria dormir em quartos separados. Não queria ouvir Asher, no futuro, perguntando por que a mamãe e o papai não moram mais juntos.
Ele não queria perder o que nem sabia que tinha até agora.
E era essa a maior tragédia de Noam Villeneuve:
Ele só aprendia quando já estava prestes a perder.
...Oriana...
...Noam...
...Asher...
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Atualizado até capítulo 38
Comments
TRAIÇÃO NÃO TEM PERDÃO
Fosse Comigo Já Teria Ido Embora Não Seria o Primeiro Casamento a Se Separar e Nem O Primeiro Filho Ter Pais Separos
2025-07-15
0
Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca
idiota escroto miserável vai si arrepender tomará que ela vai embora para bem longe dele
2025-07-14
1
Fbiana De Santos
tomara que ela encontre um amor verdadeiro
2025-07-14
2