Aurora observava a cidade pela janela do táxi. O mundo parecia o mesmo, mas ela não era mais aquela garota de antes. E, no entanto, tudo nela ainda carregava resquícios do passado. Cicatrizes em forma de lembrança.
Quando o carro passou pela rua onde ficava o antigo colégio, ela pediu para parar. O motorista estranhou, mas não questionou.
Desceu devagar e se aproximou dos portões de ferro. A escola estava fechada naquele horário, mas os muros, as árvores, até a calçada... tudo estava exatamente igual.
Fechou os olhos.
E o passado veio com força.
Aurora sempre fora a mais admirada da escola. Não só pela beleza que chamava atenção nos corredores, mas pela gentileza rara, a risada fácil, o jeito de quem não precisava humilhar ninguém para ser notada.
Os meninos competiam silenciosamente por um olhar dela. As meninas, ora a amavam, ora a invejavam.
Mas Aurora só tinha olhos para um.
Gustavo.
Alto, seguro de si, dono de um sorriso encantador e das melhores notas. Era o garoto que todos queriam ser — e que ela idealizava como se fosse um herói.
Ele sabia disso.
E usava isso.
— Você é diferente das outras — ele dissera uma vez, ao levá-la até o portão da escola. — É por isso que gosto de você.
Aurora sorriu na época, como se aquelas palavras fossem eternas. Hoje, elas doíam como facas.
Mas havia outro nome. Outro rosto.
Alguém que nunca pediu nada.
André.
Simples, discreto, o tipo de garoto que ninguém notava. Roupas sempre gastas, caderno velho, mas olhos brilhantes de quem observava o mundo com calma. Era inteligente, educado e... invisível.
Menos para Aurora.
Ele era seu amigo. Confidente. Sempre estava lá — nas manhãs de chuva quando ela esquecia o guarda-chuva, nas provas difíceis em que precisava de explicações, nos dias em que Gustavo fingia que ela não existia.
— Um dia, você vai enxergar quem realmente está ao seu lado — ele disse, num tom baixo, após vê-la chorando por Gustavo no último ano do ensino médio.
Ela riu.
— Você fala como se soubesse de tudo.
Ele sorriu de volta, tímido.
— Não sei de tudo. Só sei o que sinto.
Ela não entendeu. Ou fingiu não entender.
O que ninguém sabia — nem Aurora — era que André era neto do homem mais rico do país.
Herdeiro de um império de bancos, empresas e fazendas. Mas o avô o obrigara a viver a juventude como um garoto comum. “Se quiser mandar, aprenda a ouvir primeiro. Quem não vive a base, não sabe construir o topo”, dizia o velho patriarca.
Então André cresceu no silêncio.
Simples por fora, imenso por dentro.
Aurora abriu os olhos e suspirou.
Naquela época, ela só queria o que brilhava.
E por isso, acabou mergulhando na escuridão de Gustavo.
Ignorando o único brilho verdadeiro que esteve o tempo todo ao seu lado.
Agora, com a alma marcada e o coração ressuscitado, ela se perguntava:
Onde estava André?
E, mais do que isso...
Será que ele ainda lembrava dela?
Porque Aurora lembrava.
Com uma dor bonita.
Com uma saudade sem explicação.
E talvez, só talvez... ele fosse mais importante agora do que jamais foi antes.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Glaucia Marques Gomes
a família e amigos de Aurora, ninguém procura por ela??? o que Aurora fez não apareceu nos jornais,redes sociais??? ansiosa por mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais
2025-05-18
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Marilena Yuriko Nishiyama
humm 🤔🤔 será que foi o André que levou ela ao hospital,será que foi ele que a salvou🤨🤨,pelo visto mais mistérios estão rondando a vida da Aurora
2025-05-18
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Graça Araújo
comecei a ler hj 19/5/2025
ainda não tô conseguindo entender a história,tá um pouco confusa pra mim
2025-05-19
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