A manhã já tinha passado quando Aurora entrou num café antigo do centro, com janelas amplas e poucos clientes. Escolheu a mesa mais afastada, pediu um chá de hibisco e abriu o notebook. Não era mais tempo de lágrimas. Agora, era tempo de cálculo.
Ela começou pelas câmeras de segurança do hospital. O enfermeiro havia anotado o horário exato: 03h42 da madrugada. Com esse dado, ela acessou fóruns de vigilância urbana, tentou contato com grupos online que compartilhavam gravações públicas de segurança. Tinha uma chance pequena, quase mínima, de encontrar imagens daquela noite. Mas se conseguisse… veria o rosto de quem a salvou.
Enquanto aguardava respostas nos fóruns, abriu uma nova aba.
Gustavo Duarte — Empresário, CEO do Grupo Duarte.
As notícias o pintavam como um homem exemplar, um jovem líder de negócios. Matérias sobre parcerias, eventos beneficentes, jantares de gala ao lado de… Sabrina Martins, a melhor amiga da noiva traída.
Aurora respirou fundo. Estavam juntos publicamente em diversos eventos mesmo antes do casamento. Tão perto, tão descarado. E ela… cega.
Clicou em uma galeria de fotos. Em uma delas, tirada dois meses antes do casamento, Gustavo e Sabrina sorriam lado a lado num evento da empresa. Atrás deles, um homem desfocado, olhando para a câmera.
Aurora deu zoom.
Era o mesmo moletom.
A mesma postura.
E o detalhe mais gritante: a perna esquerda, levemente flexionada — ele mancava.
— Você… — sussurrou, tocando a tela com os dedos.
Quem era ele?
Por que estava ali?
Um funcionário? Um desconhecido? Um cúmplice que traiu os traidores?
Salvou a imagem e anotou a data e o nome do evento. Descobrir a identidade daquele homem tornara-se mais do que um objetivo. Agora era um farol no meio da escuridão. Ele era a chave de tudo. Talvez o único que conhecesse a verdade inteira.
Naquela noite, voltou ao hotel e não ligou nenhuma luz. Deitou-se com o celular na mão, observando o vazio do teto.
Recebeu uma notificação.
Nova mensagem — Número desconhecido
"Você não deveria estar fuçando o que ficou enterrado."
O sangue gelou.
Por um segundo, pensou em Gustavo.
Ou Sabrina.
Mas não… aquilo soava como outra voz. Mais crua. Mais direta.
Respondeu:
Aurora:
"Você está com medo que a verdade apareça?"
Leu e esperou. Nenhuma resposta.
O celular ainda estava em sua mão. A luz da tela se apagava e acendia, como se esperasse por mais. Mas não havia resposta.
Aurora se levantou da cama devagar, como se o quarto estivesse sendo observado. Foi até a cortina e espiou por entre as frestas. Nenhum movimento suspeito do lado de fora. Apenas a rua vazia, a chuva começando a cair e o som distante de buzinas impacientes.
Respirou fundo.
Ela sabia que não seria fácil.
Mas não esperava que alguém já estivesse vigiando seus passos.
Voltou ao notebook, agora com uma nova prioridade: identificar o evento da foto. Era uma cerimônia de premiação empresarial organizada por uma rede de investidores, com lista de convidados publicada online. Rolou até o fim da página até encontrar o que procurava: credenciados e equipe técnica.
Lá estava: Ricardo Matos, assistente de som e vídeo.
Perfil discreto, nenhuma rede social ativa. Mas seu rosto… combinava com o homem do moletom.
Aurora anotou o nome.
Ricardo Matos.
Se fosse ele o homem que a salvara, por que nunca a procurou? Por que sumiu? E por que estava naquele evento ao lado de Gustavo e Sabrina?
Ela precisava encontrá-lo. Antes que ele fosse silenciado — ou fugisse.
No dia seguinte, seguiu até a produtora de eventos responsável pela cerimônia. Se apresentou como jornalista investigativa, buscando fontes para uma reportagem sobre escândalos corporativos e bastidores.
— Ricardo Matos? — perguntou à recepcionista, tentando parecer casual. — Ele ainda trabalha com vocês?
A mulher franziu o cenho.
— Ricardo? Não… Ele saiu há um tempo. Bem antes do casamento do… como é mesmo o nome daquele empresário famoso?
— Gustavo Duarte?
Ela assentiu, mexendo nas unhas.
— Isso. Depois daquele evento, o Ricardo sumiu. Disseram que sofreu um acidente. Bateu a cabeça, ficou dias desacordado. Quando saiu do hospital, pediu demissão e desapareceu.
Aurora congelou.
— Que tipo de acidente?
— Uma queda de escada, disseram. Mas ninguém sabe direito. O chefe na época comentou que acharam estranho ele não lembrar de nada depois. Só uns flashes. Ele parecia… com medo.
Ela engoliu seco.
Se aquilo fosse verdade… alguém tentou silenciar Ricardo.
Talvez ele tivesse visto demais. Talvez ele soubesse do que Gustavo e Sabrina eram capazes. E por isso pagou o preço por ter salvado a mulher errada.
Agora a urgência crescia.
Se Ricardo ainda estivesse vivo, ela precisava encontrá-lo antes que alguém o encontrasse primeiro.
No fim da tarde, Aurora entrou num cybercafé e contratou um detetive particular. Não deu muitos detalhes — apenas o nome, a produtora onde ele trabalhava e a data do evento. Pediu discrição total.
— Se ele estiver vivo, quero encontrá-lo. Mas antes que qualquer outra pessoa chegue perto.
O homem anotou tudo sem perguntar demais.
— Vai ter notícias em até 48 horas.
Aurora assentiu.
Saiu do local com passos rápidos e o coração disparado.
Ela sabia que estava entrando num território perigoso.
Mas agora já não havia volta.
Porque a verdade tinha um preço.
E ela estava disposta a pagar cada centavo.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Marsane
Agora minha cabeça bugou.. Não entendi: se voltou no tempo, não aconteceu ainda, como ela vai ao hospital a procura de coisas que não aconteceram ainda?!?!?!? Por favor autora me dá uma luz!!!!!
2025-05-18
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Marilena Yuriko Nishiyama
será que alguém está seguindo a Aurora para mandar mensagem só porque ela está voltando a mexer no passado,creio que é melhor ela tomar cuidado principalmente com esse Gustavo e a mocréia da Sabrina 🤨🤨
2025-05-18
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