Depois de um dia exaustivo no escritório, Milena chegou em casa com os ombros pesados e o corpo implorando por descanso. Mal teve tempo de largar a bolsa antes de se jogar na cama, ainda vestida. Suspirou fundo. Fechou os olhos por alguns segundos, até ser despertada pelo toque insistente do telefone.
— Alô? — atendeu com a voz sonolenta.
— Mih, oiii... é a sua maravilho...
— ...minha maravilhosa prima! — interrompeu Milena, rindo ao reconhecer a voz de Luiza.
— Isso mesmo! — disse Luiza entre risos. — Preciso que venha ao aeroporto de Lisboa. Acabei de desembarcar e não tem ninguém pra me buscar.
— Luiza! Você ficou maluca? Lisboa fica a três horas daqui. Por que não avisou antes? Eu teria saído mais cedo do trabalho pra te pegar.
— Justamente por isso — respondeu Luiza com um tom enigmático. — Eu precisava de tempo. Tem alguém que preciso ver por aqui, e o tempo que você levar até chegar vai ser perfeito pra isso.
Milena franziu a testa, intrigada.
— Quem é essa pessoa, hein? Você me conta quando eu chegar aí. Tô saindo agora! — disse, já se levantando.
— Ei, não grita comigo, dramática! Demora o quanto quiser, rs. Vou estar no restaurante Tavares esperando por você.
— Tudo bem, mas me espera pra pedir a comida, ouviu?
— Combinado. Beijos — disse Luiza antes de desligar.
Milena foi até os pais e avisou da chegada surpresa da prima. Em pouco tempo, já estava na estrada, enfrentando os 340 quilômetros até Lisboa. A noite era calma, e a estrada parecia mais longa do que o habitual. Havia algo reconfortante em rever Luiza, ainda mais depois dos dias turbulentos que vinha vivendo.
Ao chegar ao restaurante indicado, Milena entrou e avistou a prima sentada, com uma taça de vinho nas mãos e um sorriso largo no rosto. Aquele sorriso familiar que sempre trazia lembranças da infância.
— Ah, que saudade de você, Mih!
— A minha saudade era ainda maior, Luh — respondeu Milena, se jogando em um abraço apertado.
Logo o garçom se aproximou, elas fizeram os pedidos e, quando ficaram a sós, Luiza puxou assunto:
— E aí, me conta, como anda Paris? Tá gostando?
— É linda, Mih... Um lugar encantador, quase mágico. Você precisa ir comigo um dia. Sem falar que é a cidade mais romântica do mundo, né? — disse com uma piscadinha.
Milena sorriu.
— E você conheceu alguém por lá, claro. Conta.
— Conheci sim. Mas ele é... complicado. Muito ocupado, sabe? A gente se viu pouco. Mas e você? Depois daquele desastre amoroso, alguém novo no seu caminho?
— Passei três anos evitando qualquer coisa. Mas há dois dias... conheci alguém.No aniversário da Solfi, filha da Layla.
— Eita! Quem é? Me conta tudo.
— O nome dela é Eny.
— Dela? Eny é... uma mulher? — Luiza arregalou os olhos, mas sorriu em seguida. — Não acredito! Você se sentiu atraída por ela?
Milena respirou fundo.
— Eu acho que sim. Quer dizer... é estranho, mas não no mau sentido. Quando olho pra ela, meu coração dispara. Sinto um calor nas bochechas, um frio no estômago... Como se tudo ficasse diferente, mais leve, mais bonito.
Luiza a encarou com ternura.
— Mih... você está apaixonada.
Milena desviou o olhar, pensativa.
— Tenho medo. Não é algo que foi crescendo... Foi como um raio. Repentino. E isso me assusta. E se for só um encanto passageiro?
— Não se prenda ao medo — respondeu Luiza suavemente. — Às vezes o amor não precisa de tempo pra nascer. Só precisa de espaço pra florescer. E depois do que você viveu, você merece sentir o que há de mais bonito.
— Você sempre sabe o que dizer, Luh.
O garçom trouxe os pratos, e as duas seguiram entre garfadas, risadas e confissões. Quando já era tarde, pagaram a conta e seguiram para o carro.
— Só te peço uma coisa — disse Milena ao entrar no carro. — Fica acordada na viagem, por favor. Preciso de companhia desperta.
— Claro! Vou te contar tudo sobre meus colegas em Paris. Você não vai piscar!
No entanto, minutos depois de deixarem Lisboa, Milena ouviu o silêncio tomar conta. Olhou ao lado e viu Luiza dormindo, profundamente. Riu sozinha, ajeitou o volume do rádio e seguiu pela estrada rumo ao Porto.
Ao chegarem em casa, Milena acordou a prima com cuidado e a conduziu até o quarto. Em seguida, tomou um banho quente, vestiu seu pijama e, antes de deitar, olhou o celular.
"Queria saber como você está... Se sua noite está sendo boa. Se está pensando em mim."
Seus pensamentos estavam cheios de Eny. Sentia saudade, mesmo sem saber ainda como nomear aquilo. E com esses sentimentos bagunçados no peito, adormeceu.
Na manhã seguinte
Milena foi acordada por sua irmã, Joyce, que entrou no quarto quase berrando.
— Você nem contou que a Luiza vinha! Que abuso, Milena!
— Calma, Joyce! — disse Milena, sonolenta, sentando-se na cama. — Ela avisou de última hora, eu nem tinha chegado em casa quando ela ligou.
Joyce saiu do quarto resmungando, e Milena foi ao banheiro escovar os dentes. Desceu para o café e encontrou a família em festa pela presença de Luiza. Após o café, subiu novamente para o quarto e pegou o celular.
Ligou para Eny. A voz dela do outro lado da linha fez seu coração apertar de leve.
— Milena! Está tudo bem?
— Sim... queria ter te ligado ontem, mas minha prima me ligou bem na hora que saí do trabalho, pedindo pra buscá-la em Lisboa. Só cheguei por volta das três da manhã. Não quis te acordar.
— Fiquei preocupada, mas entendo — respondeu Eny, carinhosa.
Conversaram por cerca de quarenta minutos, entre risos e silêncios que não precisavam de palavras. Antes de desligar, Milena perguntou:
— Acha que conseguimos nos ver hoje à noite?
— Ah, Mih... hoje não posso. Preciso viajar com meu pai para uma reunião. Mas... e domingo à noite?
— Domingo, às 20h? No restaurante perto da sua casa?
— Combinado — respondeu Eny. — Mal posso esperar.
— Nem eu — disse Milena, e a ligação se encerrou com um sorriso bobo nos lábios de ambas.
Logo depois, Luiza entrou no quarto, debochando:
— Nossa, achei que vocês iam passar a manhã toda no telefone!
Milena revirou os olhos, mas riu da provocação.
— Vai se arrumar, Mih! Hoje vamos passar o dia pela cidade... e quero provar os melhores vinhos do Porto!
— Luh... você sabe que aqui os vinhos são quase irresistíveis, né?
As duas se arrumaram e saíram para o passeio, leves, sorridentes, com o dia pela frente e o coração de Milena... cada vez mais entregue.
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Atualizado até capítulo 38
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