Eu fiquei sem palavras por um segundo. Aquilo foi a gota d'água.
— Eu? Não estou oferecendo nada, seu doido! O problema de vocês, homens, é que só pensam em putaria! Agora abre esse carro, senão eu vou chamar a polícia! — falei, já abrindo a porta e me levantando.
— Eu? Eu só estava perguntando! Não tem necessidade de tanto estresse — ele respondeu, com um tom completamente inocente, mas eu não caí na conversa.
— Eu estava falando da música, seu tarado! Não tem nada a ver com o que você está pensando! Aqui está o dinheiro. Agora, me deixe sair. — joguei o dinheiro na direção dele e saí do carro sem mais nem menos.
Ele ainda esticou a mão para me dar o troco.
— E o troco, vai querer? — perguntou, tentando me parar.
— Enfia o troco no rabo e some daqui antes que eu chame a polícia! — Eu só não queria mais saber daquele sujeito. Rapidamente, ele foi embora.
Agora, lá estava eu. Sem dinheiro, sem Uber, sem paciência, e ainda com o trabalho pela frente.
Olhei para as ruas ao redor e descobri que estava na rua Kwamis. Pelo menos tinha algo certo nesse dia. Agora, o desafio era encontrar o restaurante.
Fui perguntando pras pessoas até que, enfim, cheguei. O restaurante era bonito por fora e, por dentro, parecia daqueles lugares caros. Tinha sua marca, isso era certo. Caminhei até uma moça que indicava as mesas.
— Bom dia, no que posso ajudá-la? — perguntou, com a educação que toda pessoa tem que ter nessa área.
— Vim pra entrevista da vaga de garçonete. Recebi um e-mail do restaurante… — comecei, mas ela me interrompeu.
— Ah, você deve ser a senhorita Mabelly Houston — disse, olhando no notebook. — Venha comigo, vou levá-la até o gerente. Ele já deve estar te esperando.
Caminhamos por uns cinco minutos até pararmos em frente a uma sala. Ela bateu na porta e entramos juntas. À minha frente, um homem de uns quarenta anos estava sentado à mesa, com uma garota vestida de garçonete ao lado. Eu sabia que ia dar merda,mas que se dane!
— Senhor, essa é a senhorita Mabelly Houston, veio para a vaga de garçonete que está sobrando — disse ela, pedindo licença para sair.
— Claro, estava à sua espera. Pode ir, Gabi. Se eu precisar, chamo — respondeu o tal gerente.
— Pode se sentar, senhorita, para que possamos dar início à entrevista — disse, me olhando dos pés à cabeça.
— Claro, senhor — falei, me sentindo levemente desconfortável com aquele olhar.
— Pode me chamar de Ricardo. Me conte sobre sua carreira profissional e por que quer trabalhar aqui. Já teve experiência como garçonete? — perguntou, olhando direto nos meus olhos.
E foi aí que o clima pesou.
Contei tudo que ele queria saber, mas, sinceramente, não sabia se tinha sido uma boa ideia ir para aquela entrevista. O Ricardo não tirava os olhos do meu corpo e, de vez em quando, soltava aqueles sorrisos safados. Toda mulher conhece esses sorrisos, não é? Aqueles que fazem a gente sentir que foi analisada de cima a baixo, como se estivéssemos nuas.
— Está contratada. Pode começar amanhã. Apareça às 08:00 para pegar o uniforme e acertar o salário — ele disse, levantando-se para me cumprimentar.
— Obrigada. Você não vai se arrepender — respondi, aceitando o cumprimento.
Saí dali sem entender muito bem o que tinha acabado de acontecer, mas, no fundo, estava feliz. Eu consegui! Voltei para casa radiante, como se tivesse conquistado o mundo.
O resto do dia foi calmo, e fui dormir mais cedo para estar pronta para o meu primeiro dia de trabalho.
Ao acordar, olhei para o despertador e quase levei um susto. Não acreditei que tinha acordado atrasada para o meu primeiro dia! Meus vizinhos tinham feito uma festa na noite anterior, e o barulho estava insuportável. As músicas que colocaram... bem, até mesmo prostitutas ficariam com vergonha. Agora, eu estava com dor de cabeça, sono e fome, já que não daria tempo de comer nada. Se tentasse, com certeza iria me atrasar ainda mais. Sai de casa correndo, e para piorar, não consegui pegar o ônibus. Tive que chamar um táxi.
Menos de vinte minutos depois, o taxista chegou para me pegar, mas o dia não estava ao meu favor. Ele dirigia lentamente, e, se continuasse assim, eu iria me atrasar ainda mais. Então, resolvi fazer uma proposta.
— Pode ir mais rápido? Eu pago vinte reais a mais além da passagem — falei, tentando garantir que ele acelerasse.
O homem pisou fundo no acelerador. Estávamos indo mais rápido que os personagens do filme Veloz e Furioso. Se o personagem principal, do filme, estivesse ao meu lado, não conseguiria ser mais rápido. A velocidade era tão grande que eu mal conseguia me manter sentada no banco. Quem já assistiu o filme sabe o quão rápidos eles corriam — principalmente o protagonista careca.
Pelo menos duas vezes eu pensei: "dessa vez, não passo". Aposto que, em cada curva que o carro fazia, um grupo de demônios estava se reunindo, torcendo para o carro bater e minha alma ir para o inferno. No entanto, se eles achavam que eu iria direto para o inferno, estavam muito enganados. Primeiro, passaria pelo purgatório e ficaria um bom tempo lá, para depois descer de vez. Hoje em dia, quem vai pro céu? Ninguém.
Quando o taxista finalmente parou em frente ao restaurante, eu desci do carro tremendo. Senti que meus órgãos estavam todos fora do lugar. Paguei a passagem e o que tinha prometido a ele, e saí dali o mais rápido que pude.
Cheguei à recepção e falei com a mesma garota de ontem, que me levou até uma sala para resolver minha contratação. Vinte minutos depois, tudo estava resolvido. Eu iria receber dois mil reais por mês, muito mais do que eu esperava para um trabalho como garçonete.
Uma garota chamada Paula me levou para trocar de roupa em um quarto de limpeza. Meu trabalho seria servir as mesas, o que achei bom, mas, se fosse escolher, teria preferido trabalhar no caixa.
Paula me ensinou a como não derrubar nada, o que, para mim, seria um grande desafio. Já estava treinando há mais de trinta minutos e não acertei uma vez sequer.
O restaurante logo abriria, e eu contava com a sorte para não derrubar nada em cima de um cliente e ser despedida no primeiro dia. Quem me conhece sabe que sorte e Mabelly não são uma boa combinação. Mas, como dizia minha avó, “vamos que vamos”.
No final do expediente, eu estava simplesmente morta. Nunca pensei que o trabalho de garçonete fosse tão cansativo. Era um vai e vem constante que deixaria qualquer um exausto, com as pernas doendo de tanto caminhar. Mas chega de reclamação, ainda tinha que pegar o ônibus, que certamente estaria lotado. Já podia me imaginar espremida dentro dele.
Chegar em casa depois de um dia longo de trabalho era uma bênção. Só teria sido melhor se os vizinhos finalmente tivessem a decência de abaixar o som. Até o inferno estava mais silencioso.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
LR.THATBOOK
sempre um macho af
2025-07-03
1
Carvalho124
muito bom o capitulo
2025-06-14
0