Ninguém merece acordar às 6:00 da manhã.
— MÃE, abaixa esse alarme! Que porra, nem parece um despertador, tá mais pra som de paredão! — falei, me enrolando toda para tentar abafar o barulho, mas não adiantou nada. Era uma peste mesmo.
Eu estava mais irritada do que nunca. Acordar cedo para uma entrevista e ainda com aquela bagunça na cabeça, que só fazia aumentar a raiva. Nem me lembrava como tinha caído na cama na noite anterior. Só sabia que fui dormir quase meia-noite assistindo um filme, e parecia que o despertador tinha sido armado contra mim. Tomei banho, mas a água estava mais gelada que o Alasca. Como não sou nenhuma Frozen, liguei o chuveiro elétrico. O frio me fez despertar um pouco, mas o cansaço me consumia. Eu precisava estar bem arrumada para a entrevista no restaurante.
— Porra, que som alto é esse? Não é possível que seja aqui em casa esse baile funk — desci as escadas, irritada, pra ver o que estava acontecendo. Não precisava nem de muito esforço para adivinhar de onde vinha o barulho.
Entrei em todos os cômodos e não encontrei minha mãe. Ela sempre estava em casa, mas hoje... estranhei. Caminhei até a cozinha, e meu café já estava pronto. Em cima da mesa, encontrei um bilhete dela dizendo que já tinha ido trabalhar, mas tinha deixado tudo pronto pra eu não sair com fome. Essa minha velha me conhece mesmo. Se ela soubesse o tanto que eu estava sem paciência, teria me deixado um bilhete dizendo "não vá de mau humor", mas eu não podia culpar ninguém. O dia já estava assim desde cedo.
Tomei meu café e o som não parava. Agora, parecia um disco arranhado tocando a mesma música repetidamente:
…Seu gostoso, gostoso aí eu olhei pra ela e falei assim gostosa é você de quatro na minha cama pedindo bota, pedindo soca nessa xoxota/ rebola e bota tudo nessa xoxota…
O que está acontecendo com a humanidade? Como se, em pleno século XXI, fosse aceitável uma música tão… vulgar? Não que eu fosse puritana, mas essa linguagem? Isso estava mais pra "boca de rua" do que para uma letra de funk. E o pior, "xoxota"? Gente, por favor. Eu apostava que, se o autor da música estivesse vivo, ele com certeza mudaria a letra para "buceta", que pelo menos fazia mais sentido. O que será que passava pela cabeça dele quando escreveu essa porcaria?
Resolvi ir de ônibus, mesmo sem saber direito onde ficava o restaurante, não me lembro detalhamente de todos os lugares que sai entregando meu currículo, certamente já deveria ter uns 2 meses que entreguei currículos em restaurante. Podia perguntar pro motorista, ele deve conhecer todas as ruas. Só que o ônibus estava longe, e eu não tinha paciência para esperar. Decidi andar até o ponto e talvez a caminhada me fizesse esquecer o barulho do funk.
Quando passei em frente à casa de onde vinha o som, notei que não morava ninguém ali. Mas agora, parecia que a casa tinha sido comprada ou alugada. Era uma casa enorme, aparentemente vazia, mas dava pra ver uns dez rapazes e cinco garotas, dançando e bebendo. Eles não me viram, mas eu sentia o olhar deles, como se estivessem me julgando de longe. Isso me incomodava. Fui até o ponto de ônibus, quando, de repente, alguém me chamou.
— Ei, gostosa! Vem aqui, vem!
Não olhei. Não queria me estressar. Eu estava decidida a não ser mais uma vítima de gracinhas na rua. Mas ele não desistiu.
— Você tá surda? Não tá ouvindo eu te chamando? Vem cá, que você não vai se arrepender!
Foi aí que meu temperamento se alterou. Olhei para ele e, sinceramente, não vi o que me faria perder tempo com aquele rapaz. Não era feio, mas também não fazia o meu tipo. Ele parecia um daqueles caras que acham que qualquer mulher vai se derreter só porque fala com uma voz sensual e usa uma camiseta com um pouco de ousadia. Era um erro dele achar que eu caíria nessa.
— Garoto, vai se foder e me deixa em paz, seu projeto de homem! Antes de falar comigo, vê se cresce o pinto primeiro — falei, minha voz saindo mais seca do que eu queria.
Saí dali furiosa. Não era apenas a música que estava me irritando. Era a falta de respeito de algumas pessoas e a forma como agem como se fossem donos do mundo. A vontade de seguir o caminho mais fácil — pegar o ônibus — desapareceu. Resolvi chamar um Uber. Sim, eu estava ciente de que estava gastando dinheiro que não tinha, mas já não tinha mais paciência para lidar com tudo. Eu precisava chegar naquele restaurante com um mínimo de dignidade.
Quando o Uber chegou, entrei sem pensar muito, pedi o endereço e fui me acomodando no banco. Parecia que o universo queria continuar me testando, pois o motorista estava ouvindo exatamente a mesma música da qual eu tinha acabado de fugir. A música da xoxota. Eu não conseguia mais. Era um absurdo. Como é que alguém pode estar tão envolvido com esse tipo de música?
Decidi fazer uma experiência. Já que estávamos falando de "xoxota", por que não perguntar para o motorista o que ele achava disso?
— Moço, posso te fazer uma pergunta? — falei, tentando manter a conversa descontraída, mas com um toque de curiosidade.
— Claro, senhorita. No que posso ajudar? — ele respondeu, sorrindo.
— Você parece gostar muito desse tipo de música… funk — comentei, só para testar se ele estava ciente do que estava ouvindo.
— São as minhas preferidas — respondeu ele, tranquilo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Ah, que bom. Já que você curte tanto, você não acha que "buceta" seria melhor do que "xoxota" nessa música? — perguntei, com a esperança de que ele fosse entender onde eu queria chegar.
Ele ficou em silêncio por um momento, como se não tivesse certeza do que eu estava perguntando.
— Como assim? Não estou te entendendo — ele disse, visivelmente desconfortável.
Eu não podia acreditar que ele estava assim tão perdido. A música estava tão clara em nossa volta que ele devia entender a comparação. Ele parecia um pouco nervoso.
— Olha, você não acha que "buceta" é mais apropriado? Porque hoje em dia, os jovens estão mais pra essa palavra, e "xoxota" já parece coisa de avó — falei, tentando não parecer grosseira, mas sinceramente curiosa.
— Ah, sim! No tempo atual, eu prefiro mulher do que homem, mas não julgo ninguém. Cada um com suas preferências — ele respondeu, me dando um olhar estranho pelo retrovisor.
— Hã? Não estou entendendo… você não está me dizendo que prefere mulher, né? — perguntei, desconfiada. Ele me olhou de novo e percebi o jeito como me observava. Algo estava estranho.
— Não é isso. Eu pensei que você estava me oferecendo a sua “amiguinha” — disse ele, com um sorriso malicioso, que eu sabia exatamente o que significava.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
LR.THATBOOK
A conversa tomou um rumo estranho realmente haha
2025-07-03
1
roseli rosa martins floriano
Você começou seu dia errado , respira e vê se para de ser tão ranzinza
2025-06-03
0
roseli rosa martins floriano
Bater boca com um delinquente não é uma boa idéia.
2025-06-03
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