roupa Nova e o intruso chamado Jin

Eu já tinha me conformado que limpar essa casa era como fazer milagre com pano de chão. O lugar era bonito, sofisticado, claro. Mas sem alma. Frio. Calculado. A cara do meu novo patrão.

Mas eu tava ali, de joelhos no chão da sala de estar, espanador numa mão, spray multiuso na outra, e fone nos ouvidos. Se era pra limpar, que fosse com estilo. E claro, com trilha sonora. Hoje era dia de nostalgia.

“Linda, só você me fascina... Linda, te desejo e preciso...”

Roupa Nova. Daquelas bandas que soam como abraço em dia ruim. Descobri sozinha, em playlists aleatórias que me salvaram mais de uma vez. Aquela música sempre me dava um calor estranho no peito, como se por um instante o mundo ficasse menos duro.

Eu cantava baixinho, mas com sentimento. Balancei o quadril de leve, limpando a estante, fazendo pose com o espanador como se fosse microfone.

“... ver o teu sorriso é me apaixonar...”

— WOOOW, que show particular é esse?

Me virei num pulo, quase derrubei o spray no tapete caríssimo. Tirei um fone. E dei de cara com... um rosto familiar?

Não. Não era familiar. Era... bonito. Escandalosamente bonito.

— E aí, dona contratada! Eu sou o Jin, o mais bonito, o mais velho, e provavelmente o mais legal que você vai conhecer por aqui.

— Jin? — repeti, tentando lembrar de onde conhecia aquele nome. Talvez eu já tivesse visto em algum lugar... internet, talvez?

— Isso! Kim Seokjin, pra quem é íntimo. Mas pode me chamar só de Jin. Todo mundo chama.

— Uhum... e você é...? — franzi o cenho, tentando entender por que ele falava como se fosse famoso.

Ele deu uma gargalhada.

— Você não sabe quem eu sou? Isso é refrescante! Finalmente alguém que não grita, chora ou me pede autógrafo.

— Desculpa aí por não desmaiar. — ironizei. — Mas se quiser, posso fingir um desmaio cênico só pra não te decepcionar.

— Já amei! — disse ele, jogando os braços pro alto. — Finalmente alguém com personalidade nessa casa!

Ele deu uma volta por mim, observando meu trabalho como um jurado de reality show.

— Olha isso aqui! A sala nunca esteve tão viva. E você canta bem, viu? Roupa Nova? Que clássico!

— Tá de brincadeira? — soltei, dando um leve tapa no ombro dele com o espanador. — Você conhece Roupa Nova?

— Claro que conheço. Eu sou sofisticado, querida. Musicalmente e visualmente.

Eu ri. De verdade. Aquele homem era um furacão. O tipo que chega sem pedir licença e ainda assim faz tudo parecer mais leve.

Falamos de música, de comida — ele era obcecado por ramyeon —, de séries antigas. A vibe bateu de cara. Parecia que a gente já se conhecia de outros carnavais.

Até que, claro, o congelador humano apareceu.

— Jin. — a voz veio seca, cortante como faca.

Eu olhei por cima do ombro e lá estava ele. Min Yoongi. Braços cruzados, expressão de tédio assassino, e aquela postura de “já me arrependi de contratar você”.

— Eu te disse que não queria ninguém aqui. — ele completou, seco.

— E eu te disse que como a minha beleza chegou antes, eu tenho prioridade. — Jin rebateu com um sorriso debochado. — Além disso, eu sou o mais velho. Mando em você.

Yoongi bufou, visivelmente incomodado. A tensão entre eles era hilária. Jin parecia não ter medo de provocar. E eu? Eu só queria voltar pra minha música antes que o clima ficasse pesado demais.

— Jin, sobe. Agora. — Yoongi disse firme.

— Tá bom, tá bom, já entendi. — Jin jogou as mãos pra cima como quem se rende. — Mas ó, Joyce... adorei te conhecer. Vamos cantar juntos qualquer dia desses, viu? Promete!

— Prometido. — respondi, ainda sorrindo, meio sem graça com a bronca que ele tava levando por minha culpa.

Ele piscou pra mim e subiu com toda a teatralidade possível. A escada virou passarela. E eu fiquei ali... com o chefe ranzinza.

Silêncio.

Yoongi me olhou de cima abaixo como se tentasse entender por que diabos Jin tinha gostado tanto de mim em tão pouco tempo.

— Tire os fones. — ele disse.

— Eu tava ouvindo com fone, não tava alto. — me defendi, baixando o volume mesmo assim.

— Não é o volume. É a presença. — ele rebateu. — Você estava... distraída.

— É... chama-se “ter um momento de alegria no meio de uma faxina”.

Ele estreitou os olhos, mas não respondeu. Em vez disso, deu meia-volta e saiu da sala, pisando firme.

Eu voltei a limpar, mas agora com os fones no pescoço. Fiquei pensando.

Yoongi detesta barulho. Detesta invasões. Detesta gente expansiva.

Mas tem um amigo como o Jin?

Curioso.

Tem um amigo que dança no meio da sala, fala alto e canta Roupa Nova com a empregada nova.

Olhei pra escada por onde Jin tinha subido, depois pro corredor onde Yoongi tinha desaparecido.

— Que dupla esquisita... — murmurei, voltando pro meu balde com um sorrisinho de canto.

E lá no fundo, algo me dizia que essa história só tava começando.

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