Quando o segurança me chamou de novo, eu tava sentada na beirada do sofá da sala enorme tentando entender em que mundo paralelo eu tinha caído. Min Yoongi, o próprio, já me tinha medido dos pés à cabeça como se eu fosse um inseto interessante demais pra ser ignorado. Mas agora era hora de conhecer meu “novo lar”.
— A senhorita vai ficar por aqui, — ele disse, me guiando por um caminho lateral que passava por um corredor envidraçado no meio do jardim. Sim, jardim. Porque claro que a casa tinha um jardim interno. — Fica bem afastado do quarto principal, por ordens do patrão.
— Já deu pra perceber que ele não é muito de socializar, né? — soltei com um sorrisinho, tentando puxar papo.
Ele apenas tossiu de leve, desconversando. Tranquilo, segurança misterioso, continue no seu silêncio.
A gente chegou até uma porta branca, embutida em uma parede cheia de trepadeiras. Quando ele destrancou, achei que fosse um quartinho escuro de vassouras, mas não. Era... uma mini casa. Simples, mas completinha.
— Tem cama, banheiro com chuveiro elétrico, uma mini cozinha com geladeira, fogão e micro-ondas. Roupeiro no canto. Aqui é o espaço reservado pros funcionários.
— Pros funcionários ou pra mim, a praga da vez? — murmurei com ironia.
Ele não riu. De novo.
— Os produtos de limpeza ficam naquele armário ali do lado de fora. E esse armário maior tem os utensílios, como vassoura, rodo, panos... O patrão costuma gostar de tudo no lugar.
— Nossa, que inusitado, o “gênio da música” é fã de limpeza. — revirei os olhos, entrando no espaço. Era aconchegante até. Pequeno, mas bem distribuído. A decoração era neutra, quase impessoal, mas nada que me incomodasse.
O segurança me deu mais algumas instruções e foi embora. Não deu nem cinco minutos e ouvi passos firmes no cascalho do jardim. Virei pra porta, ainda ajustando a mochila nas costas. A figura dele apareceu ali. Camisa preta, calça social escura, cabelo arrumado demais pra quem deveria estar compondo músicas sozinho no estúdio.
— Vamos direto ao ponto. — ele disse sem cerimônia. — Primeira regra: não entre no meu quarto.
— Boa tarde pra você também, chefe.
Ele me ignorou solenemente.
— Segunda: só limpe o estúdio quando eu pedir. Não apareça lá enquanto eu estiver compondo.
— E se eu quiser virar cantora? Não posso nem bisbilhotar a criação?
O olhar que ele me lançou me faria evaporar se fosse possível. Sério, aquele homem tinha o dom de matar com os olhos.
— Terceira: não mexa em nada do escritório. Nenhum papel, nenhum armário, nenhum computador. Nada.
— Ok, vou resistir à tentação de abrir a gaveta dos segredos obscuros. Pode confiar.
Ele respirou fundo, e por um instante achei que ele fosse virar as costas e me mandar embora ali mesmo.
— Quarta: silêncio. Vinte e quatro horas por dia. Especialmente quando eu estiver no estúdio.
— Silêncio? — ergui as sobrancelhas. — Em coreano, português ou linguagem de sinais?
— Quinto: não fale absolutamente nada sobre a sua rotina aqui fora desta casa. O que acontecer aqui, morre aqui.
Fiz uma pose dramática, colocando a mão no peito.
— Juro solenemente não espalhar que você canta de pantufas. Nem que você ronca.
Ele me lançou um olhar de puro ódio. Mas o toque final veio logo em seguida, o que me fez explodir em riso, mesmo contra a vontade.
— E acho que posso inventar mais uma. — Ele parou, me encarando com nojo disfarçado. — Pare de sorrir demais. Isso é irritante.
— Ah, mas isso é natural, patrão. Eu nasci sorrindo, pergunta pra minha mãe.
— Você começa agora.
E virou as costas, como se tivesse acabado de assinar uma sentença de morte. Eu fiquei parada na porta do meu quartinho-casulo, tentando processar tudo. Quando dei por mim, estava abrindo o armário dos produtos de limpeza.
Pano. Rodo. Balde. Veja. Desinfetante. E um espanador com cara de aposentado.
— Que maravilha, agora sou a Cinderela versão brasileira, só falta o rato costureiro.
Entrei na casa principal com cautela. Apesar de me achar desastrada — e realmente sou, tenho talento pra tropeçar no próprio pé —, eu sabia analisar o ambiente. À primeira vista, parecia uma casa impecável. Mas olhando com olhos de quem cresceu limpando casa de família rica, já saquei: fio de TV mal enrolado, rodapé empoeirado, marca de dedo no aço escovado da geladeira. Era aquela famosa organização “de fachada”.
— Isso vai dar trabalho... — sussurrei, jogando o cabelo pra trás e prendendo num coque alto. — Mas nada que eu não tire de letra.
Fui até a cozinha, abri a torneira e enchi o balde. E ali, com as mãos na água fria e pano molhado na outra, olhei em volta e pensei:
— Joyce, você não tá numa casa. Você tá num quartel general de um astro do K-pop que tem TOC, aversão a sorrisos e zero carisma.
Respirei fundo.
— Vai ser uma longa estadia... que Deus me ajude.
E com isso, comecei a esfregar o chão, dançando sozinha no ritmo da minha própria sanidade indo embora.
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Atualizado até capítulo 28
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