A Maldição da Floresta

Desde o desaparecimento de Jennie, a floresta nunca mais foi a mesma.

Não que alguém a conhecesse de verdade, mas agora... ela parecia respirar mais fundo. Observar mais de perto.

Moradores próximos começaram a ouvir coisas à noite. Passos entre as árvores, mesmo sem vento. Choros abafados que vinham e iam como brisa cortante. Vozes conhecidas que chamavam seus nomes. E sempre às mesmas horas: pouco depois da meia-noite, quando a lua brilhava mais forte.

O sussurro havia voltado.

Mas agora... era diferente. Mais denso. Mais frio. E não vinha de uma única boca. Era um coral macabro. E entre eles, alguns diziam reconhecer a voz de Jennie. Outros... a de Gabriel. Mas ninguém tinha coragem de confirmar.

A trilha da floresta, antes usada por jovens, aventureiros e caçadores, virou território proibido. Cercada de placas improvisadas, rezas murmuradas e promessas feitas a meia voz. Mas, como toda maldição antiga, não adiantava avisar. Sempre haveria alguém que não acreditava. Que ria. Que provocava o silêncio.

Foi o caso de cinco jovens que decidiram acampar ali no fim do verão.

Não eram de fora. Tinham crescido ouvindo as histórias da floresta, mas nunca acreditaram. “É só lenda”, diziam. “Coisa de gente velha pra assustar criança.” Eram amigos inseparáveis e se achavam invencíveis.

Na tarde em que entraram na trilha, tudo parecia normal. Riram, brincaram, gravaram vídeos para postar depois. Levaram fogos de artifício, alto-falantes e lanternas potentes. Não temiam a floresta. Mas a floresta… estava em silêncio.

Um silêncio diferente. Não natural.

Era o tipo de silêncio que te observa antes de decidir o que fazer com você.

Ao anoitecer, montaram as barracas, acenderam a fogueira e contaram histórias de terror para zombar das lendas. Um deles até imitou o grito da criatura que Jennie dizia ter visto. Os outros riram.

Mas, à meia-noite, a fogueira se apagou sozinha.

O som da floresta cessou de uma vez. Nem grilo. Nem vento. Nem folhas.

E então, o primeiro sussurro:

— Por que você veio...?

O grupo riu nervoso, acreditando ser uma brincadeira. Um deles — Lucas — apontou a lanterna para a mata. Nada. Mas o som veio de novo, agora mais próximo:

— Vai me deixar também?

Eles se calaram. Um medo gelado subiu pelas costas. As lanternas começaram a falhar. As pilhas novas não resistiam. Os celulares perderam sinal. E no meio da escuridão, silhuetas começaram a surgir.

Eram muitos.

Alguns pareciam pessoas. Outros, sombras tortas. Os olhos brilhavam como brasas apagadas, e suas bocas... estavam sempre abertas. Como se o sussurro viesse de dentro de seus corpos.

— O que é isso…? — alguém murmurou.

— Corram — foi tudo que Lucas conseguiu dizer.

Eles correram. Um tropeçou. Outro gritou. Mas ninguém voltou para ajudar.

Um a um, foram se perdendo na escuridão.

Na manhã seguinte, apenas Lucas saiu da floresta. Descalço, enlameado, os olhos vazios, a pele fria. Repetia apenas uma frase:

— Eles não queriam nos assustar… só queriam não ficar sozinhos…

Levado para o hospital, Lucas não falava mais nada. Passava o tempo desenhando nas paredes: árvores, rostos gritando, bocas abertas, olhos sem fim. E no centro de tudo... uma figura de cabelos longos e negros, com o colar de Jennie no pescoço.

Dizem que, à noite, ele conversa com ela.

Em sussurros.

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