Capítulo 5 - Sora

Ele entrou na sala como se fosse dono do lugar.

Min Jae.

Gravata impecável, aquele sorriso que parece debochar até do silêncio, e os olhos direto nos meus. Como se nada tivesse acontecido. Como se o beijo de ontem não tivesse me desmontado por dentro. Como se eu não tivesse saído correndo feito um idiota.

— Bom dia — ele disse, calmo demais. — Dormiu bem?

Fingi que não ouvi.

Mas ouvi.

Claro que ouvi.

Aquela pergunta carregava veneno. Porque ele sabia. Sabia que eu passei a noite em claro, revivendo cada segundo daquele beijo, tentando apagar da memória o som que ele fez quando me puxou pela gravata, o jeito como o corpo dele se encaixou no meu.

Mas não deu.

Não dá.

A sala de reuniões estava cheia. Diretores, coordenadores, gente demais falando de metas e orçamento como se o mundo fosse feito só de gráficos. E eu ali, do lado dele, tentando fingir que éramos apenas colegas. Apenas dois profissionais.

Mentira.

Eu sentia a presença dele como se fosse uma corda esticada entre nós, prestes a arrebentar. O calor do braço dele perto demais do meu, a respiração tranquila, os dedos que tocavam o notebook com aquela precisão irritante.

Aqueles dedos.

— Sr. Kim?

Demorei um pouco pra voltar à sala. Pisquei, ajeitei a postura.

— Sim. — Respirei fundo. — O projeto vai ser reavaliado com os dados mais recentes. A gente tem margem pra expandir, desde que o ajuste na comunicação aconteça logo no ponto de entrada.

Min Jae soltou um meio sorriso, daquele tipo que não avisa o estrago que vai causar.

— Então... vamos fazer exatamente o que eu sugeri na semana passada.

Alguns riram. Gente sem graça achando graça.

Virei o rosto pra ele, seco.

— Se tiver algo útil pra acrescentar, manda por e-mail. Isso aqui é uma reunião, não um palco de stand-up.

— Entendido, senhor. — E ele piscou. Piscou.

No final, a reunião terminou com palmas, cronogramas e tapinhas nas costas. Mas eu não ouvi nada daquilo. Só conseguia pensar nele. No jeito como me olhava. No jeito como sorria. Como se soubesse.

Como se dissesse: você lembra.

E eu lembrava.

Lembrava demais.

Esperei todo mundo sair. Fingi estar ocupado. Vi quando ele ficou juntando os papéis devagar, com aquela calma provocadora que ele usava sempre que queria me tirar do sério.

— Você tá brincando com fogo — falei baixo, sem nem olhar.

— Eu tô contando com isso — ele disse, no mesmo tom.

Levantei os olhos. Ele estava na porta, me observando. Tranquilo demais.

— O que você quer de mim, Min Jae?

Ele deu um passo. Só um. Mas pareceu o suficiente pra encurtar o mundo entre nós.

— Quero saber o que tem por baixo do terno, Sora.

— E não tô falando da sua pele.

E saiu.

Me deixou ali, sozinho, com o ar preso no peito e a cabeça a mil.

Com uma raiva que não era dele — era minha.

Porque ele tava certo.

Porque eu tava cedendo.

Porque, por mais que eu lutasse…

Eu queria mais.

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