Ele me tocou.
Mesmo que por um instante, mesmo que com raiva, os dedos frios de Sora Kim estiveram no meu queixo. Firme, ameaçador... e absurdamente excitante.
A maioria das pessoas teria recuado diante daquele olhar cortante. Mas eu não. Porque o que ele não entende — o que ele nunca vai admitir — é que eu o conheço. Mais do que ele gostaria. Mais do que é seguro.
Sora não me odeia. Ele se odeia por querer alguém como eu.
Voltei para minha sala no fim da tarde, ainda com o cheiro dele preso na memória. Amadeirado. Preciso. Como tudo nele. E por mais que tentasse focar nos relatórios, na maldita reunião do dia seguinte, minha mente insistia em repetir o momento em que ele me encarou com fúria e... desejo. Porque estava lá. Eu vi.
Ele quer me destruir. Mas também quer me tocar.
E a linha entre esses dois impulsos é cada vez mais fina.
Conhecer Sora Kim foi como entrar num campo minado com os olhos vendados. Quando cheguei à empresa, ele já era uma lenda: o prodígio intocável. Discreto. Eficiente. Temido. Mas não foi isso que me atraiu. Foi o jeito como ele tentava apagar qualquer traço de emoção. Como se amar fosse uma fraqueza. Como se desejar fosse uma falha de caráter.
Eu quis quebrar isso.
Desde o início.
Na primeira vez que nos encaramos em uma reunião, entendi que aquilo era pessoal. Não era só sobre trabalho. Ele via em mim algo que incomodava. Algo que ameaçava o equilíbrio rígido que ele criou pra sobreviver nesse mundo.
E talvez ele tenha razão.
Porque eu não sou confiável.
E não pretendo ser.
O bar do lobby estava quase vazio quando desci, já passava das dez da noite. Pedi uísque puro e encostei no balcão, observando os reflexos dourados dançarem no vidro. O terno ainda colado ao corpo, a gravata no bolso.
Então senti.
Ele.
Antes mesmo de olhar, eu sabia. O cheiro. A presença. A tensão no ar. Sora tinha esse poder: tornava o ambiente mais denso só com o silêncio dele.
Ele parou a poucos metros. Pediu uma bebida. Fingiu que não me viu. E eu fiz o mesmo. Porque o jogo entre nós era esse. Um jogo lento, cruel, delicioso.
— Ainda tentando esquecer o que aconteceu hoje? — perguntei, sem virar o rosto.
Ele não respondeu de imediato. Apenas bebeu. Lento.
— Não há nada a esquecer — disse, por fim.
— Claro que não — sorri, girando o gelo no copo. — Só foi um toque. Um deslize. Um momento sem importância.
Dessa vez, ele virou para mim. Olhos escuros, ameaçadores.
— Está tentando me provocar?
— Sempre.
Ele se aproximou, e o mundo pareceu encolher. Havia um brilho diferente em seus olhos. Algo perigoso. Algo que, por um segundo, me fez prender a respiração.
— Cuidado, Min Jae — ele murmurou, perto demais. — Eu não sou o tipo de homem com quem se brinca.
Inclinei a cabeça, os lábios quase roçando os dele.
— Não estou brincando, Sora. Estou apostando tudo.
Quando ele saiu do bar, a tensão ainda grudava em mim como suor.
Eu o quero.
Mas o que me assusta não é o desejo.
É o quanto eu estou disposto a me perder para tê-lo.
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Atualizado até capítulo 50
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