A semana seguinte trouxe consigo a notícia de um sarau literário organizado pelo clube de poesia da escola. Margaret, como professora de literatura e supervisora do clube, estava particularmente envolvida na organização do evento. Para Jenna, era mais uma oportunidade de se aproximar de seu objeto de fascínio. Ela se inscreveu para recitar um poema de Sylvia Plath, escolhendo um texto carregado de intensidade e desejo reprimido.
Os ensaios para o sarau aconteciam no final da tarde, na sala de teatro da escola, geralmente com poucos alunos presentes. Jenna fazia questão de comparecer a todos, observando Margaret enquanto ela orientava os outros participantes. Seus olhares se cruzavam ocasionalmente, cada um carregando uma mensagem silenciosa que apenas as duas compreendiam.
Em um desses ensaios, a maioria dos alunos já havia ido embora, restando apenas Jenna e mais um colega que ensaiava um poema mais longo. Margaret pediu a Jenna que recitasse seu poema mais uma vez. A sala de teatro estava quase às escuras, com apenas algumas luzes de palco fracas iluminando o centro.
Jenna se posicionou sob a luz tênue, seu olhar fixo em Margaret, que estava sentada na primeira fila da plateia vazia. Ela começou a recitar os versos de Plath com uma intensidade que surpreendeu até a si mesma. Sua voz carregava uma urgência, um anseio que parecia transcender as palavras da poeta.
"E então eu queria apenas morrer, e o vento sussurrava meu nome."
Seus olhos não deixavam os de Margaret, que a observava com uma expressão indecifrável. Havia algo na entrega de Jenna, na forma como ela carregava cada palavra com emoção, que a atingia em um nível visceral.
"Eu era uma folha seca à mercê do céu que decide quem deve viver e quem deve queimar."
A voz de Jenna ficou mais baixa, quase um sussurro, carregada de uma sensualidade implícita. Margaret sentiu um calor se espalhar pelo seu corpo, um nó se formando em seu baixo ventre. Aquele poema, recitado com aquela intensidade, parecia direcionado a ela, uma confissão velada de um desejo proibido.
Quando Jenna terminou, o silêncio preencheu o teatro escuro. O único som era a respiração suave de ambas. Margaret pigarreou, tentando recompor sua postura profissional.
"Muito bem, Srta. Ortega," disse Margaret, sua voz um pouco rouca. "Você capturou a intensidade do poema de forma impressionante."
"Eu senti a intensidade," respondeu Jenna, seus olhos ainda fixos nos de Margaret. "É um sentimento poderoso, não acha?"
Margaret desviou o olhar, sentindo-se desconcertada pela franqueza da aluna. "Certos sentimentos precisam ser mantidos sob controle, Srta. Ortega. Principalmente no ambiente escolar."
"Controlar sentimentos pode ser sufocante, professora," retrucou Jenna, aproximando-se da beira do palco. "Às vezes, a intensidade é o que torna algo... real."
Houve um momento de silêncio tenso. O colega de Jenna, que estava ensaiando no canto do palco, tossiu levemente, percebendo a atmosfera carregada entre as duas.
Margaret se levantou, caminhando lentamente em direção ao palco. A pouca luz a envolvia em uma aura misteriosa. Ela parou a poucos metros de Jenna, seus olhares finalmente se encontrando novamente.
"Realidade nem sempre é o que desejamos, Srta. Ortega," disse Margaret, sua voz baixa e carregada de um aviso implícito. "Às vezes, a realidade pode ser... perigosa."
"Perigo pode ser excitante," sussurrou Jenna, um sorriso provocador dançando em seus lábios.
Naquele instante, a porta do teatro se abriu, e a coordenadora da escola entrou, procurando por Margaret. A tensão palpável entre as duas se dissipou, substituída por uma formalidade repentina.
"Professora Robert, desculpe interromper, mas precisamos discutir alguns detalhes do sarau," disse a coordenadora, alheia à troca intensa que acabara de ocorrer.
Margaret se afastou de Jenna, recompondo sua postura. "Claro, Sra. Davis. Com licença, Srta. Ortega."
Enquanto Margaret se afastava para conversar com a coordenadora, Jenna permaneceu parada no palco escuro, o eco das palavras trocadas reverberando em sua mente. O jogo havia se tornado mais perigoso, mas a excitação de Jenna só aumentava. Ela sentia que estava cada vez mais perto de desvendar os segredos por trás dos olhos azuis de Margaret Robert.
A presença da Sra. Davis trouxe uma onda de formalidade forçada ao ambiente. Margaret se virou completamente para a coordenadora, adotando um semblante profissional impecável. Jenna observava a mudança em sua professora, a maneira como a tensão em seus ombros parecia se dissipar sob o peso da autoridade escolar. Era como se uma máscara tivesse sido recolocada, escondendo por trás dela a mulher que trocara olhares carregados e palavras sussurradas momentos antes.
"Sra. Davis, tudo bem?" perguntou Margaret, a voz agora firme e controlada. "Já estávamos quase finalizando o ensaio."
"Sim, professora. Mas surgiu uma questão sobre a iluminação do palco para o número de encerramento. Podemos dar uma olhada agora?"
Enquanto Margaret se afastava com a coordenadora para discutir detalhes técnicos, Jenna permaneceu no palco, sentindo o resquício da eletricidade que pairara no ar. Ela levou os dedos aos lábios, relembrando o sussurro de Margaret: "Às vezes, a realidade pode ser... perigosa." Um sorriso divertido curvou seus lábios. Perigo nunca a intimidara; na verdade, tinha um certo fascínio para ela.
A luz fraca do palco lançava sombras alongadas pela sala vazia. Jenna desceu lentamente, seus olhos seguindo os movimentos de Margaret enquanto ela gesticulava e conversava com a coordenadora. Mesmo à distância, ela podia sentir a aura de compostura da professora, a forma como ela se movia com uma elegância natural.
Quando a Sra. Davis finalmente se despediu e saiu do teatro, Margaret suspirou levemente, virando-se para encontrar Jenna ainda parada perto do palco. Havia uma hesitação em seus olhos, como se ela estivesse ponderando se deveria abordar o que acabara de acontecer.
"Srta. Ortega," começou Margaret, sua voz um pouco mais suave agora. "Eu... agradeço seu empenho com o sarau. Sua interpretação do poema foi realmente tocante."
"Obrigada, professora," respondeu Jenna, aproximando-se lentamente. "Mas eu senti que a intensidade do poema ressoou de uma forma... pessoal."
Seus olhos castanhos encontraram os azuis de Margaret novamente, e a tensão retornou, palpável como uma corrente invisível entre elas.
"A poesia tem essa capacidade de nos conectar com emoções profundas," disse Margaret, mantendo uma distância segura. "Mas é importante distinguir entre a arte e a realidade, Srta. Ortega."
"E se a arte estiver apenas refletindo uma realidade que ainda não ousamos admitir?" questionou Jenna, dando mais um passo em direção à professora.
Margaret recuou ligeiramente, sentindo o calor do olhar de Jenna queimar em sua pele. Seus cabelos loiros brilhavam sob a luz solitária do palco, emoldurando um rosto que lutava para manter a serenidade.
"Não avance por caminhos perigosos, Jenna," disse Margaret, o tom de sua voz agora carregado de um aviso mais urgente. "Certos desejos... certas atrações... podem levar a lugares sombrios."
"Mas e se a escuridão for onde encontramos a verdadeira luz?" sussurrou Jenna, parando a poucos centímetros de Margaret. Ela ergueu a mão lentamente, quase hesitante, e roçou de leve a manga da blusa de Margaret. O tecido de seda era macio sob seus dedos.
Margaret prendeu a respiração, sentindo o toque sutil incendiar seus nervos. Ela olhou para a mão de Jenna em seu braço por um instante que pareceu durar uma eternidade, antes de erguer os olhos novamente para encontrar o rosto da aluna. Havia uma intensidade selvagem no olhar de Jenna, uma determinação que a assustava e, paradoxalmente, a atraía.
Naquele breve momento de silêncio, o ar ao redor delas parecia vibrar com uma energia inegável. A linha entre professora e aluna, entre o proibido e o desejado, tornava-se cada vez mais tênue, ameaçando se romper a qualquer instante.
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Atualizado até capítulo 23
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