Os dias que se seguiram àquela troca de palavras carregadas na sala de aula trouxeram uma nova dinâmica sutil, quase imperceptível para os outros alunos, mas intensamente sentida por Jenna e Margaret. Os olhares se cruzavam com mais frequência, carregando agora uma eletricidade velada. Um breve roçar de mãos ao pegar um livro, um sorriso nos lábios de Jenna que ia além da educação, um ligeiro tremor na voz de Margaret ao responder a uma pergunta específica da aluna – pequenos fragmentos que construíam uma tensão crescente.
Na sala dos professores, Margaret se pegava pensando em Jenna com uma frequência perturbadora. A inteligência afiada da garota era inegável, mas havia também uma ousadia nos seus olhos, uma sagacidade que parecia perscrutar além de sua fachada profissional. Ela se lembrava da pergunta sobre a intensidade nas relações humanas e daquela última frase sobre limites, proferida com uma sugestão mal disfarçada. Um arrepio percorria sua espinha ao reviver o momento.
Em casa, à noite, Margaret se surpreendia olhando seu reflexo no espelho por mais tempo que o habitual. Ela notava a forma como a luz destacava seus cabelos loiros, a curva de seus lábios. Pensamentos fugazes sobre a intensidade daquele olhar castanho a invadiam, perturbando seu sono tranquilo. Ela repreendia-se mentalmente, lembrando a impropriedade de tais pensamentos, a distância intransponível entre professora e aluna.
Jenna, por sua vez, sentia-se invigorada por aquela nova dinâmica. A reação de Margaret, mesmo que contida, era um sinal de que sua investida não havia passado despercebida. Ela gostava de desvendar enigmas, e Margaret Robert se apresentava como o mais intrigante de todos. Havia algo por trás daquela compostura impecável, ela sentia. Uma faísca que ela estava determinada a acender.
Em uma tarde de sexta-feira, a escola estava quase vazia. Jenna se ofereceu para ajudar Margaret a organizar alguns livros na biblioteca após o término da aula. Era uma oportunidade que ela havia arquitetado com cuidado, simulando um interesse repentino pela organização do acervo de poesia.
Enquanto moviam pilhas de livros empoeirados, seus corpos se roçaram brevemente em um corredor estreito. Um choque sutil, mas que pareceu carregar uma corrente elétrica para ambas. Jenna manteve o contato visual por um instante mais longo que o necessário, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. Margaret desviou o olhar rapidamente, com as bochechas levemente coradas sob a luz fraca da biblioteca.
"Desculpe," murmurou Jenna, sua voz rouca.
"Não há problema," respondeu Margaret, sua voz um pouco mais tensa do que o normal, voltando a atenção para os livros em suas mãos.
O silêncio que se seguiu foi carregado. O único som era o farfalhar das páginas enquanto elas organizavam os volumes nas estantes. Jenna observava Margaret de soslaio, a forma como seus dedos longos e delicados deslizavam pelas lombadas dos livros, a maneira como a luz da janela iluminava seus cabelos loiros, criando um halo dourado ao seu redor.
De repente, um livro escorregou das mãos de Margaret, caindo com um baque surdo no chão. Ambas se abaixaram para pegá-lo ao mesmo tempo, e suas mãos se tocaram sobre a capa de um volume de poemas eróticos de Anaïs Nin.
Por um instante que pareceu uma eternidade, seus dedos ficaram entrelaçados. O ar pareceu se adensar ao redor delas. Jenna ergueu os olhos, encontrando o olhar arregalado de Margaret. Havia uma mistura de surpresa e algo mais profundo, quase um reconhecimento, nos olhos azuis da professora.
O silêncio foi quebrado apenas pela respiração ligeiramente acelerada de ambas. Jenna sentiu um calor percorrer seu corpo, uma excitação crescente diante daquela proximidade inesperada. Margaret, por sua vez, sentia seu coração martelar no peito, a compostura profissional ameaçada por aquela simples troca de toque.
Lentamente, Margaret puxou a mão, o contato rompido deixando um vazio palpável no ar. Ela se levantou rapidamente, evitando o olhar de Jenna.
"Eu... eu preciso ir," disse Margaret, sua voz um fio. "Já está tarde."
Ela se afastou apressadamente, deixando Jenna sozinha na penumbra da biblioteca, o livro de Anaïs Nin ainda em suas mãos. Um sorriso lento e predador se espalhou pelos lábios de Jenna. O enigma Margaret Robert estava começando a ceder. A faísca havia sido acesa, e ela sabia que não demoraria muito para que se transformasse em chamas.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Dani
uma histórinha muito bem desenvolvida, gostei da forma na que se desenrola esse romance oculto entre as duas, espero as próximas atualizações
2025-05-12
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