O restaurante era francês, elegante e silencioso — exatamente o oposto de como Lorenzo se sentia naquela noite.
Sentado à mesa com Verônica, sua noiva, ele mexia no vinho sem muito entusiasmo, enquanto ela reclamava, mais uma vez, do “absurdo” que era ele trabalhar tanto com aquela equipe “cheia de mulheres sem postura”.
— Aquela menina... como é mesmo o nome? A apagada? — perguntou ela, empurrando a salada como se estivesse tentando derrubar alguém com o garfo. — Ramona? Bianca?
— Bea — corrigiu Lorenzo, sem pensar.
Amélie ergueu uma sobrancelha afiada.
— Isso. Ramirez. A que falou na reunião. Você achou aquilo bom? Achei ela meio sonsa, pra ser honesta. Desajeitada.
Lorenzo segurou o guardanapo com mais força do que deveria. Respirou fundo antes de responder:
— A ideia dela é uma das melhores que a agência teve nos últimos tempos.
— Engraçado. Justo ela. Você sempre disse que a imagem é tudo.
Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, lembrou do olhar firme de Bea na reunião. Da forma como defendeu a própria ideia. Da inteligência calma, quase silenciosa, que ela carregava.
— Às vezes a imagem engana — murmurou, quase para si mesmo.
Verônica revirou os olhos.
— Só espero que você não esteja se deixando influenciar por esse papo de “beleza interior”. Isso pode acabar com a reputação da marca.
Lorenzo sorriu, mas sem humor.
— Ou pode salvá-la.
O jantar seguiu entre silêncios e farpas. E quando ele finalmente voltou para casa, largou a chave no balcão da cozinha e sentou no sofá com os pensamentos em desordem.
Ele ainda não sabia o que era aquela sensação quando Bea falava — não era desejo, nem paixão. Era algo mais raro: respeito. E talvez... admiração.
Mas Lorenzo King não era o tipo de homem que sabia lidar com sentimentos que não pudesse controlar.
E Bea... era impossível de prever.
A taça de vinho estava quase vazia quando o celular de Lorenzo vibrou discretamente sobre a mesa.
Ele olhou de relance: “Daphne”. Um nome salvo apenas com um coração ao lado.
Verônica também viu.
— Quem é Daphne? — perguntou com a voz calma demais para ser real.
— Uma redatora freelance. Já trabalhou com a agência — respondeu ele, rápido demais.
— A essa hora?
Ele não respondeu. Tocou novamente. Amélie arqueou uma sobrancelha, cruzou os braços e esperou. Ele finalmente atendeu, virando o rosto para o lado, mas ainda audível:
— Daphne, não posso falar agora.
A voz do outro lado era doce e sedutora. Amélie ouviu o suficiente para entender.
— Ah, então é uma redatora que te chama de “Lô” e pergunta se você vai dormir sozinho hoje?
Ele desligou.
— Verônica não começa. Eu não...
— Não começa? Você me expõe no meio de um restaurante com uma das suas aventuras me ligando?! Você me faz de idiota!
Algumas cabeças se viraram discretamente nas mesas ao lado. Amélie não se importou.
— Quer saber? Fica com suas redatoras apaixonadas por campanhas sem rosto e amantes com nomes de perfume francês. Eu não sou mulher pra ficar dividindo atenção.
Ela se levantou, pegou a bolsa e saiu sem olhar para trás.
Lorenzo continuou sentado. Não correu atrás, não disse nada. Apenas olhou para o celular e depois para a taça de vinho, como se ambos dissessem algo que ele ainda não queria escutar.
Porque, no fundo, ele sabia: a vida que ele levava estava começando a perder o gosto. E certas mulheres... não podiam ser encaixadas em noites vazias.
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Atualizado até capítulo 65
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