A sala de reuniões estava cheia. A tensão no ar era quase palpável. Cada funcionário parecia mais preocupado com a própria aparência do que com a ideia que trazia. E lá estava eu: sentada no canto, com meus slides prontos e o coração na garganta.
“Você vai apresentar, sim”, sussurrou Jada, com um empurrãozinho no meu ombro.
“E vai arrasar”, completou Harper, determinada.
Lorenzo entrou. Gravata solta, blazer impecável, o sorriso de sempre. Ele lançou um olhar geral e disse com aquele tom encantador que fazia até a cafeteira suspirar:
— Quero ideias ousadas, sinceras. Nada enlatado. Me surpreendam.
Uma a uma, as apresentações começaram. Slides brilhantes, gráficos vazios, muito barulho e pouco conteúdo. Lorenzo assentia, mas não parecia realmente impressionado.
E então... chegou minha vez.
Levantei com as mãos suando, sentindo o peso de todos os olhares. A maioria já esperava o fracasso. Eu era "a Bea do fundo da sala", afinal. A garota da blusa bege.
— Minha proposta se chama Beleza Sem Rosto — comecei, com a voz trêmula, mas firme. — É sobre devolver a narrativa para as pessoas reais. Vamos esconder o rosto dos participantes e focar em suas histórias, habilidades, ideias. Sem filtros. Sem retoques.
Por um segundo, o silêncio foi absoluto. E então Lorenzo... inclinou-se para frente.
— Continue.
Aquilo me deu coragem.
— A beleza está em tudo que a gente é, e não só no que os outros veem. Se nossa marca quer ser inovadora, precisa parar de vender apenas imagem. Precisa contar histórias.
Quando terminei, a sala não aplaudiu. Mas ninguém riu. Ninguém me interrompeu. Pela primeira vez... me ouviram.
Lorenzo ficou em silêncio por um momento. Olhou para mim, depois para os slides.
— Interessante. Autêntico. Diferente — disse ele, como se estivesse processando tudo. — Ramirez... certo?
Meu coração deu um pulo. Ele sabia meu sobrenome?
— Sim, senhor.
Ele assentiu. Sorriu, mas foi um sorriso quase... confuso. Como se estivesse vendo algo que não entendia muito bem.
— Vamos conversar mais sobre isso depois. Pode deixar os slides comigo.
Voltei para o meu lugar sem conseguir conter o sorriso. As meninas estavam quase chorando de orgulho.
Eu sabia que, por fora, ainda era a mesma Bea. Mas, naquele momento, Lorenzo não viu só a aparência. Ele viu a ideia. Viu a mente por trás.
E isso... era o começo de tudo.
Recebi o e-mail às 13h42.
Assunto: “Slide da proposta — reunião às 15h, sala 12A. Lorenzo King.”
Meu cérebro leu “reunião” e meu estômago respondeu com um salto triplo mortal. Era sério mesmo. Ele queria conversar comigo. Sozinhos.
As meninas surtaram, obviamente.
— Gata! Você conseguiu! — gritou Harper, jogando o casaco para o alto.
— Com calma, ela vai desmaiar! — avisou Jada, abanando minha cara com uma revista da Vogue.
Não desmaiei, mas quase.
Às 14h59, bati na porta da sala 12A com os nós dos dedos mais gelados do que café esquecido.
— Entra — disse a voz firme.
Lorenzo estava encostado na mesa, mexendo no relógio, sem blazer. Quando me viu, sorriu de lado. Mas era um sorriso curioso, como se ainda estivesse tentando decifrar quem eu era.
— Ramirez, né? Bea... Bea Ramirez.
— Isso mesmo — respondi, tentando parecer mais confiante do que me sentia.
Ele apontou para a cadeira e se sentou de frente.
— Eu gostei muito da sua proposta. Ela é... honesta. Sem firulas. E diferente de tudo que recebi hoje.
— Fico feliz que tenha gostado. Achei que ninguém fosse levar a sério.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Por quê?
Hesitei. Poderia dizer mil coisas. Que ninguém me ouve. Que acham que eu sou invisível. Mas só disse:
— Porque normalmente não me enxergam como alguém... ousada.
Ele apoiou os cotovelos na mesa, com os dedos entrelaçados.
— Engraçado. Você passou despercebida por meses. Mas, hoje, não consegui parar de prestar atenção em você.
Meu coração deu um pulo. Mas ele logo desviou o olhar, desconfortável. Como se tivesse dito algo que não devia.
— Quero que você continue desenvolvendo a campanha. Quero ver mais.
— Eu topo — falei, sem pensar duas vezes. — Pode deixar.
Ele assentiu. Mas havia algo no olhar dele... como se lutasse contra uma ideia que não se encaixava no mundo que ele conhecia. E, por um momento, senti pena. Dele.
Lorenzo King estava acostumado a mulheres de capa de revista. E eu era nota de rodapé de catálogo técnico.
Mas agora... ele começava a ler até as notas.
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Atualizado até capítulo 65
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