Acordei com o sol enfiando o pé na porta, mó claridade na cara. A cabeça? Tava daquele jeitão... não era ressaca de bebida, era ressaca de vibe. O baile de ontem ainda tava dançando dentro de mim, parecia que o batidão ficou grudado no coração.
Mari já tava lá embaixo, gritando feito sirene:
— Camilaaaaa! Acorda, peste! Cê tá bombando no grupo da quebrada, fia!
Desci de shortinho e regata, com o olho ainda colado de sono e o cabelo parecendo ninho de passarinho. Mari tava na cozinha, café passado e celular na mão, rindo mais que fofoqueira com informação nova.
Camila- Tá rindo de quê, mermã?
— De tu! Olha isso aqui, ó
- me mostrou o Insta do DJ. Minha cara lá, printada, com a legenda: Cria voltou com moral, Camila chegou botando pressão.
Revirei os olhos, mas por dentro? Ri.
Camila- Ah, pronto. Tô famosa agora?
— Tá quase virando lenda igual o Cabelinho, viada. Inclusive...
— ela deu aquele sorrisinho de quem vai soltar bomba —
_ hoje vai ter resenha na laje dele. E adivinha quem tá na listinha VIP?
Camila- Ah não, Mari... já tá de caô.
— Caô nada, malandra! Ele mandou chamar, fi. Disse que tu é diferente. E tu vai sim, bora quebrar esse orgulho aí. Já até separei tua roupa.
Camila- Cê não cansa de me vestir igual boneca, não?
— Boneca nada, mulher! Cê é cria, tem que representar. Bota o shortinho e bora que o sol já tá se pondo.
Subi, coloquei o look
– top verde e uma saia branca e Nike no pé. Na moral? Me senti a própria. Passei um gloss, dei aquele tapa no cabelo e partiu.
Chegamos na laje com o morro já pintado de laranja, aquele céu sinistro que só favela tem. Cerveja gelada, churras rolando, som na moral. E ele lá... Cabelinho, de boné aba reta, corrente brilhando no pescoço e aquele olhar de quem já viu de tudo e ainda quer ver mais.
Quando me viu, deu aquele sorriso torto:
— Achei que tu ia dar perdido.
Camila- Eu? Jamais, né. Só não gosto de chegar pagando simpatia.
— Gosto assim. Tu é rajada.
Encostei na mureta, peguei uma latinha e fiquei de olho na vista. A favela respirando vida, gente rindo, criança jogando bola lá embaixo. Senti o peito esquentar. Era isso que eu tinha perdido.
Ele chegou do meu lado, olhando também.
— Tu é de onde mesmo?
Camila- Daqui, pô. Nascida e criada. Só dei um rolê fora... mas o coração ficou aqui.
— Deu pra ver. Tu anda, fala, respira quebrada. As mina de hoje em dia tão tudo querendo ser o que não é. Tu não. Tu é tu.
Camila- Eu sou só Camila, truta. Com meus corre, meus traumas... mas com os dois pés fincado no chão.
— E o olhar lá no topo, né?
Sorri, sem responder. Ele mandou aquela risada baixa e deu um gole na bebida.
— Tu vai dar trabalho, hein.
Camila- Já falei... trabalho só pra quem tenta me controlar. Quem anda do lado, voa junto.
Mari, lá de dentro, já tava dançando com uma galera, fazendo story e mandando beijo. E eu ali, trocando ideia com Cabelinho como se a laje fosse só nossa.
No fundo, sabia que ele não era só mais um. Mas também sabia que eu não era só mais uma. E se fosse pra rolar algo... que fosse na moral, sem caô.
E assim a noite foi virando... com cerveja gelada, risada solta e o tipo de conexão que não se explica, só se sente.
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Atualizado até capítulo 53
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