Acordei era umas 21:00 com o som do morro começando a bater. Era pagodinho do vizinho misturado com funk do outro lado, aquele caos que só quem é cria entende. Tava lá, ainda de pijama, quando Mari chegou na minha porta batendo feito polícia.
— Ô, Camila! Acorda, doida! Hoje tem baile lá em cima caralho
— Baile? Hoje?
— Perguntei com a cara de sono ainda
— Baile, fia! E tu vai, sim. Já vou até separar tua roupa. Nada de ficar com essas roupinha de alemã aqui, não. Hoje é roupinha mostrando tudo
— Ela riu, abrindo meu guarda roupas e jogando tudo na cama
ela pegou meu menor vestido que eu tinha, nunca usei ele inclusive é bem curto. Daqueles que, se eu espirrasse, mostrava metade de tudo . Mas Mari jurou que tava “no grau”.
Enquanto a gente se arrumava, Ryan apareceu na porta do meu quarto com cara de quem viu um fantasma.
— Que porra é essa, Camila?
Camila- Roupa, ué. Vou no baile com a Mari.
— Baile o quê? Tu tá é maluca? Vai botar uma calça, pelo amor de Deus. Que isso, Mari, tu quer me matar?
Mari já soltou um logo:
— Ihh, relaxa, Terror. Tua irmã tá linda. Deixa ela viver, pô!
— Linda demais! É isso que me preocupa, cacete! Vai aparecer cheio de otário babando!
Ignorei. Me olhei no espelho, dei aquele confere no batom, e partiu.
Chegamos no baile e, meu irmão... O bagulho tava fervendo. Luz piscando, som estralando, e a quadra tremendo no batidão. O tipo de vibe que nem os melhores rolês da Alemanha imitavam. Ali era raiz.
Mari já foi logo me puxando pra dançar, e eu, meio sem jeito, entrei na onda. Tava dançando, rindo, me jogando, quando do nada...
— Camila, né?
Virei. Um cara com cabelo na régua, sorriso torto, tatuagem no pescoço e um copo na mão. O boné virado pra trás e o olhar de quem já sabe que é o dono do pedaço. Cabelinho.
— Depende... quem tá perguntando?
— respondi, com a sobrancelha arqueada.
Ele riu.
— Cabelinho pow. Mas cê já sabia, né?
— Ahhh, o famosinho. O povo fala tanto de tu que eu pensei que fosse lenda urbana.
Ele segurou a risada e me olhou como se não tivesse acostumado a ouvir um “não tô nem aí” na cara.
— Tu é diferente, né? As mina tudo querendo dançar colada e tu aí, me zoando.
— Ué, tu queria o quê? Que eu desmaiasse? Não sou fã, não... sou só a Camila.
— Tá. Só a Camila... que dançou mais que todo mundo aqui e fez até o DJ comentar.
— ele deu um gole no copo e se encostou, ainda me olhando.
Mari, do lado, já tava segurando a risada. E Ryan, lá longe, com cara de quem tava pronto pra arrancar os cabos do som e me arrastar pra casa.
Cabelinho chegou mais perto e disse, no meu ouvido:
— Tu vai dar trabalho, hein?
Virei de volta e respondi:
— Trabalho só pra quem não sabe lidar, meu querido.
Ele riu alto, daqueles que até o MC comentou no mic:
— Aí, Cabelinho! Já tomou toco?
A galera gargalhou, e eu aproveitei pra puxar Mari pra pista de novo.
— Bora dançar, que eu não vim aqui pra virar fã de ninguém.
E assim foi... primeira noite no baile e eu já tinha virado assunto. Mas meu foco era outro: curtir minha quebrada, reencontrar minhas raízes. O resto? Se for pra acontecer... vai acontecer.
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Atualizado até capítulo 53
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