No silêncio do escritório antigo, Alessio girava lentamente uma caneta entre os dedos. Diante dele, sobre a mesa de madeira maciça, estavam os papéis que encontrou escondidos no carro de Marco — resgatados da cena do tiroteio antes que a polícia, ou qualquer Ricci, pudesse tocá-los.
Ele ainda não havia mostrado nada a Elena.
Não por desconfiança... mas por estratégia. Queria ter certeza do que estava lidando antes de abrir as portas do inferno.
Cada página que lia parecia corroer um pouco mais suas convicções. Transferências bancárias com valores absurdos, contas em paraísos fiscais, contratos com nomes de empresas fantasmas — e em muitas delas, o nome de Lorenzo Ricci aparecia como beneficiário direto.
Mas havia algo pior: o nome de membros da própria Família Mancini em algumas transações.
— Maldito filho da mãe... — murmurou, passando a mão pelos cabelos.
Ele tinha um problema muito maior do que Elena Ricci em sua casa. Tinha uma conspiração cruzando duas famílias que, supostamente, se odiavam há décadas.
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Elena apareceu à porta, vestida com roupas limpas que ele deixara para ela. Uma camisa branca larga, calça preta e cabelos soltos. A simplicidade apenas realçava sua força.
— Você sumiu desde o café — disse ela.
— Estava trabalhando.
— Em mim?
Alessio ergueu os olhos, sério.
— Em algo que pode salvar a sua vida. Ou condenar a minha.
Ela entrou, os passos leves, mas decididos. Parou do outro lado da mesa e observou os papéis abertos.
— Você achou algo?
Ele hesitou. Depois apontou para um banco. Ela se sentou, curiosa. Com cuidado, ele entregou uma pasta.
Ela abriu e começou a ler. A cada folha, sua expressão mudava. Medo. Raiva. Tristeza. E, por fim, uma estranha calma.
— Eu sabia — sussurrou. — Sabia que tinha algo errado... Mas isso... isso é monstruoso.
— Não contei antes porque precisava confirmar. Não é só seu pai. Há nomes Mancini nessas páginas. Traidores dentro da minha casa.
Ela levantou os olhos, marejados.
— Então não é só uma guerra entre famílias. É um jogo de máscaras.
Alessio assentiu, tenso.
— E alguém matou Marco por isso.
Ela encostou-se à cadeira, respirando fundo.
— O que vamos fazer?
Alessio a observou por um longo momento.
— A primeira coisa: você vai continuar morta para o mundo.
— Isso quer dizer...
— Sim. A notícia já circulou. “Filha de Lorenzo Ricci desaparecida em atentado.” Seu pai não moveu um dedo para desmentir.
Ela engoliu seco. A dor no peito era mais afiada que qualquer faca.
— Então eu realmente não tenho mais ninguém.
Alessio se levantou e caminhou até ela. Ajoelhou-se diante da cadeira e a olhou nos olhos.
— Tem a mim.
Ela arregalou os olhos, surpresa. Mas ele não sorriu. Era uma promessa crua, sem poesia. Dita por alguém que cresceu sem saber o que era confiar em alguém.
— Eu não confio fácil — ela sussurrou.
— Eu não confio em ninguém — ele respondeu.
— Então estamos ferrados.
— Talvez — disse ele, se levantando. — Mas pelo menos não estamos sozinhos.
Ela o seguiu com os olhos. E, pela primeira vez, não viu apenas um mafioso... viu o homem por trás do sangue e do silêncio.
Alessio Mancini era um lobo. Mas talvez, só talvez, também fosse capaz de proteger o que importava.
Mesmo que isso custasse sua própria alma.
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Naquela noite, Elena voltou para o quarto mais tarde. E, ao abrir a porta, encontrou sobre a cama uma carta simples, escrita à mão:
"O passado queima, mas o futuro ainda é feito de escolhas."
– A.
Ela guardou a carta no bolso do coração.
Sabia que aquela história só estava começando.
E o fogo que os cercava... não era apenas de guerra.
Era também de desejo.
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Atualizado até capítulo 41
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