O amanhecer rasgava o céu em tons acinzentados, pintando as janelas do casarão com uma luz fria e indiferente. Elena acordou com o som de pássaros que pareciam cantar um lamento antigo entre as oliveiras. Havia dormido mal, com o corpo dolorido e a mente em turbulência.
Ela se sentou na cama e encarou o espelho antigo à sua frente. Seu reflexo devolveu uma imagem despenteada, pálida, mas ainda assim forte. Os olhos dela não haviam perdido o fogo.
Elena Ricci não era uma prisioneira comum. E sabia que estava chegando a hora de contar a verdade.
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Na cozinha, Alessio preparava café forte quando ela desceu. O ambiente cheirava a pão quente e madeira queimada da lareira.
— Bom dia — ela disse, cruzando os braços.
Ele a olhou rapidamente.
— Dormiu?
— Um pouco. E você?
— Não durmo direito desde os dezessete — respondeu, sem rodeios.
Elena se aproximou devagar, como se ensaiasse mentalmente cada palavra.
— Eu devia agradecer por ter me salvado.
— Você não parece muito grata.
Ela suspirou. Depois puxou uma cadeira e se sentou.
— Então me escuta. E não me interrompe.
Alessio parou, curioso. Sentou-se também.
— Estou ouvindo.
Ela cruzou os braços sobre a mesa.
— Eu estava no beco porque segui Marco, o contador. Ele me ligou no meio da tarde, desesperado. Disse que tinha documentos que podiam destruir meu pai. Disse que se eu não fosse encontrá-lo, ele entregaria tudo para vocês.
Alessio franziu a testa.
— E você acreditou nele?
— Não no início. Mas eu precisava saber o que ele tinha. Não só por lealdade ao meu pai... mas porque parte de mim queria saber a verdade. Eu sempre desconfiei de que o que meu pai esconde vai muito além da máfia. Eu queria provas.
— Provas de quê?
Ela hesitou. Depois, com a voz mais baixa:
— De que ele mandou matar a minha mãe.
O silêncio foi absoluto.
Alessio a encarava como se estivesse vendo uma versão dela que não conhecia. E de fato, era.
— Sua mãe morreu num acidente. Pelo menos, foi o que se noticiou.
Elena assentiu devagar.
— Essa foi a versão oficial. Mas o carro dela explodiu. E ela não era envolvida com nada. Só queria sair daquela vida. E começou a fazer perguntas demais. Assim como eu estou fazendo agora.
— Então você... foi lá atrás de respostas?
— Sim. Mas quando cheguei, Marco já estava apavorado. Ele não queria me dar os documentos, só me usar como moeda. Eu tentei fugir quando ouvi os primeiros tiros. Me escondi atrás das caixas... e o resto você sabe.
Alessio ficou em silêncio por longos segundos. O rosto sério, mas não frio.
— Então você não é só uma herdeira perdida.
— E você não é só um assassino de aluguel — ela rebateu com um meio sorriso.
Ele inclinou a cabeça, interessado.
— Se o que você diz é verdade, você está mais em perigo do que imagina. Não só da minha família... mas da sua.
— Eu sei.
— E mesmo assim está jogando esse jogo?
— Não é um jogo. É a única chance que tenho de limpar o nome da minha mãe. E talvez... o meu também.
Alessio se levantou devagar e foi até a janela. Observou o campo silencioso por um instante.
— Se eu te ajudar a descobrir a verdade... e ela for pior do que você imagina, o que vai fazer?
Elena respirou fundo.
— Então eu vou queimar tudo. Do lado de dentro pra fora.
Ele se virou para encará-la. E, pela primeira vez, a viu como alguém que poderia mudar o curso daquela guerra.
Não como uma refém. Não como uma Ricci.
Mas como uma aliada perigosa.
E talvez, com o tempo, algo mais.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Tōshirō Hitsugaya
Não para por aí! 🤩
2025-05-08
1