O sábado amanheceu calmo, mas a cabeça de Isadora estava longe disso.
Ela acordou antes das oito, coisa que só acontecia em dias de crise existencial ou quando havia cometido um erro tão delicioso que nem o travesseiro conseguia confortar.
E o beijo da noite anterior?
Erro, tentação ou apenas o começo do fim da sua sanidade.
Ela estava na cozinha, com uma xícara de café em mãos e um pão na torradeira, encarando o vazio como se ele tivesse respostas.
“Não foi nada. Foi só um beijo.”
“Um beijo excelente, com um homem irritantemente sexy e perigoso emocionalmente.”
“Simples.”
Seu celular vibrou.
Davi (08:14)
“Sonhou comigo ou com a pizza que sobrou?”
Isadora fechou os olhos e respirou fundo.
Isadora (08:15)
“Com a vergonha de ter quase feito sexo com meu vizinho.”
Davi (08:16)
“‘Quase’ é a parte triste da frase.”
Ela mordeu o lábio.
Não ia responder. Era melhor fingir que aquilo nunca aconteceu. Jogar tudo no buraco da memória seletiva. Foco. Lavanderia. Limpeza. Qualquer coisa menos ele.
**
O problema era que, no terceiro andar, não havia lavanderia. E, como se o destino estivesse rindo dela, o único horário livre na lavanderia do prédio era logo depois das 10h — e o apartamento de Davi era passagem obrigatória no trajeto.
Isadora pegou o cesto com as roupas, colocou o fone de ouvido, óculos escuros e saiu como uma espiã tentando não ser notada.
Claro que ele estava lá.
Encostado na porta, tomando café de novo. Sem camisa.
Sem. Camisa.
— Bom dia, vizinha.
Ela tentou ignorar. Olhos no elevador. Foco. Mas ele a seguiu com o olhar, um sorriso meio torto no canto da boca.
— Ignorar não vai apagar o beijo, Isa.
Ela entrou no elevador e apertou o botão com mais força do que o necessário.
Ele gritou antes da porta fechar:
— Você esqueceu seu vinho!
**
Na lavanderia, enquanto colocava as roupas para lavar, Isadora se perguntou: desde quando a vida tinha virado uma comédia romântica mal escrita?
Um vizinho insuportavelmente bonito. Um beijo roubado. E agora… piadas matinais sem camisa. Era quase um roteiro.
Ela pegou o celular e digitou, hesitante.
Isadora (10:41)
“Você sempre age assim com suas vizinhas?”
Davi (10:42)
“Sempre que elas me beijam como se quisessem me devorar.”
Isadora (10:43)
“Foi só um momento.”
Davi (10:43)
“Um ótimo momento. Que podemos repetir.”
Ela soltou um suspiro longo e encostou-se na parede. A pior parte? Uma parte dela queria. Muito.
**
Mais tarde, já em casa, ela ouviu uma batida leve na porta.
Ao abrir, encontrou uma sacola com a garrafa de vinho que esquecera e um post-it preso:
“A qualquer momento que quiser continuar de onde paramos.”
Ela mordeu o lábio.
Desgraçado encantador.
Guardou o vinho no armário, prometendo a si mesma:
“Hoje, nada de Davi.”
Cinco minutos depois, nova mensagem.
Davi (14:02)
“Tô fazendo risoto. Sobrou muito. Quer um prato?”
Isadora (14:03)
“Você tá tentando me seduzir pela comida?”
Davi (14:03)
“Se a tática funciona, por que mudar?”
Ela demorou a responder. E dessa vez, respondeu batendo na porta dele.
Ele abriu com a mesma cara de “eu sabia que você não resistiria”.
Ela levantou a mão com um aviso:
— Só comida. Nada mais.
— Prometo. Sem beijos. Só garfadas.
E assim, Isadora entrou no apartamento de novo.
Não porque confiava em Davi.
Mas porque estava começando a duvidar da própria capacidade de resistir a ele.
E o mais perigoso: estava começando a não querer resistir.
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Atualizado até capítulo 52
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