Isadora encarou o espelho do banheiro por longos minutos. Não era um encontro. Não oficialmente. Só uma noite entre vizinhos. Com pizza. E cerveja. E Davi.
Ou seja, um perigo.
Ela optou por um vestido curto — mas não curto demais. Vermelho vinho, de tecido leve, que deslizava sobre a pele. Cabelo solto, maquiagem leve. Só o suficiente para parecer que não estava se esforçando… embora estivesse. Muito.
Quando o relógio marcou 19h59, ela pegou a garrafa de vinho que comprara de última hora (“caso ele seja um chato com cerveja barata”, dissera para si mesma) e bateu à porta dele com três toques rápidos.
A porta abriu antes que ela pudesse respirar fundo.
Davi apareceu com uma camisa preta de botões — três abertos — e calça jeans escura. O sorriso preguiçoso estava no rosto, como sempre.
— Nossa, você leva “traje casual de vizinha” a um novo nível.
— É o meu pijama especial de sexta-feira. — Ela ergueu a garrafa. — Vim armada.
— E eu vim com fome. — Ele a convidou com um gesto e Isadora entrou.
O apartamento de Davi era exatamente como ela imaginava: organizado, mas com traços de desleixo charmoso. Livros empilhados, quadros tortos na parede, e uma luminária antiga sobre o sofá. O cheiro de pizza recém-saída do forno pairava no ar.
— Calabresa e quatro queijos. Pensei em honrar as tradições.
— Já ganhou pontos. — Isadora sorriu.
Sentaram-se na sala, com a caixa de pizza no centro da mesa de centro, cervejas abertas e a taça de vinho dela ao lado.
— Então, por que essa insistência em me provocar com bilhetes?
— Eu gosto de te ver desconfortável. Você fica adorável quando tenta fingir que não está interessada.
Ela engasgou na cerveja.
— Interessada?
— Isa, você bateu na minha porta com vinho. Eu sei ler sinais.
— Eu trouxe vinho porque não confio no seu gosto pra bebida.
— Mas confia no meu gosto pra pizza?
Ela riu, mordendo um pedaço.
— Estou aqui só pela comida.
— E pelo Uno.
Ele puxou uma caixa do jogo de dentro do armário com uma expressão vitoriosa.
— Eu sou competitivo, só avisando.
— E eu sou vingativa. Que comece a guerra.
**
Duas partidas depois, a sala já estava cheia de risadas, provocações e um pouco de gritaria.
— VOCÊ NÃO USOU +4 DE NOVO! — Isadora se levantou indignada, jogando as cartas no ar.
— Usei. Porque você merece. — Davi estava recostado no sofá, rindo.
— Você é insuportável.
— E irresistível, segundo fontes confiáveis.
— Quais fontes?
— Você mesma. Seus olhos entregam.
Ela cruzou os braços.
— Isso é ego inflado. Só isso.
Ele se aproximou. Um passo. Depois outro.
— Você sabe, Isa, tem uma linha muito tênue entre provocação e desejo.
Ela sentiu o corpo inteiro reagir. O vinho, o riso, o calor da noite… tudo conspirava contra sua sanidade.
— Você é meu vizinho, Davi. Isso já é confusão suficiente.
— E você é minha vizinha mais gostosa. Isso já é tentação demais.
Ele estava perto agora. Perto o suficiente para que ela sentisse a respiração dele. O olhar fixo nos lábios dela.
— A gente devia parar por aqui. — Ela sussurrou.
— Devia.
Mas nenhum dos dois se moveu.
Ele encostou a mão na cintura dela. Um toque leve. Um aviso.
Ela não recuou.
O beijo foi inevitável. E, quando aconteceu, foi tudo o que ela temia — e mais.
Quente. Firme. Provocador.
A boca de Davi encontrou a dela com uma mistura de urgência e controle. Ele não a dominava, apenas a puxava para o centro do caos. E ela foi.
As mãos dele exploravam as curvas dela como se tivessem sido feitas pra isso. Ela se segurava nos ombros largos, respondendo com fome, com vontade acumulada.
— Isso é péssima ideia — ela murmurou contra os lábios dele.
— Péssima. — Ele voltou a beijá-la. — Mas incrível.
Quando as coisas começaram a esquentar demais, Isadora recuou um passo, o coração disparado.
— Eu... eu preciso ir.
Davi ainda estava ofegante, com o cabelo bagunçado.
— Eu posso não querer que você vá.
— E eu posso não querer ficar. Mas se eu ficar agora… a gente não vai conseguir parar.
Ele assentiu, sério pela primeira vez.
— Justo. Mas só pra constar: você é bem-vinda aqui. Com ou sem vinho. Com ou sem roupa.
Ela riu, nervosa.
— Boa noite, vizinho.
— Boa noite, tentação.
**
Naquela noite, deitada na própria cama, Isadora revivia cada segundo do beijo. O gosto dele, o calor. A maldita forma como o mundo pareceu parar por alguns minutos.
Aquilo não era só química. Era confusão. Era desejo. Era… algo mais?
Ela não sabia.
Mas uma coisa era certa: depois daquela sexta-feira, nada seria como antes.
Nem ela.
Nem ele.
Nem a parede fina entre os dois.
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Atualizado até capítulo 52
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