Isadora estava atrasada.
De novo.
Ela correu pelos corredores do prédio com a bolsa escorregando do ombro, os saltos fazendo toc toc toc apressado no piso frio, o cabelo ainda úmido preso num coque torto e a chave do apartamento quase caindo da mão.
— Droga, droga, droga… — murmurava como um mantra.
O elevador demorava. Como sempre. Ela apertava o botão freneticamente como se isso fosse acelerar o processo mágico de descer do décimo andar ao térreo.
E foi aí que ele apareceu.
— Bom dia, vizinha apressada. — Davi.
Ele estava encostado na parede, um copo de café na mão, usando uma camiseta cinza que deixava claro que ele ou acordava com o cabelo perfeito ou não ligava de estar lindo logo cedo. O mais provável: os dois.
Isadora respirou fundo.
— Nem vem. Já acordei de mau humor.
— Tá usando aquele perfume de lavanda de novo?
Ele se aproximou um passo.
— Ou isso sou eu ficando viciado em você?
Ela o encarou.
— Davi, não começa.
— Só tô sendo educado. Você tem que parar de interpretar tudo como flerte.
— Quando você deixa bilhetes me convidando pra subir o tom com você, é difícil não interpretar.
Ele deu um gole no café e arqueou a sobrancelha.
— E aí? Vai subir?
Ela riu, sem humor.
— No dia que eu perder toda a sanidade.
— Ótimo, te dou uns dois dias.
Antes que ela retrucasse, o elevador finalmente chegou. As portas se abriram, revelando o pequeno cubículo prateado que, naquele momento, parecia apertado demais para dois corpos com tanta eletricidade pairando no ar.
Ela entrou. Ele veio logo atrás.
O silêncio era quase palpável.
Isadora tentou focar no número dos andares descendo, mas estava consciente demais da presença dele. Do calor. Do cheiro de café e algo mais… masculino. De como os ombros dele mal cabiam no canto do elevador.
Davi olhou pra ela de lado.
— Você sempre fica tensa perto de mim?
— Eu sempre fico tensa perto de homens convencidos que se acham irresistíveis.
— Mas você não disse que eu tô errado…
Ela girou o rosto lentamente, com um olhar afiado.
— Eu disse que você é convencido.
— E irresistível?
Ela hesitou. E esse segundo de silêncio foi mais barulhento que qualquer resposta.
As portas do elevador se abriram no térreo, salvando-a — por pouco.
— Bom dia, Davi — disse, tentando soar firme, saindo rápido como se o chão estivesse em chamas.
— Bom dia, Isa. E boa sorte com a sanidade. Sério, ela não dura muito perto de mim.
**
Na cafeteria da esquina, Isadora esperava pelo cappuccino com canela que era sua dose de vida toda manhã. Mas mesmo com o aroma quente subindo do copo, ela ainda pensava na maldita conversa do elevador. No bilhete. No jeito como ele sempre falava como se a conhecesse, como se estivesse apenas esperando o momento certo pra quebrar suas defesas.
E o pior: ele nem precisava tentar muito.
Ela odiava admitir, mas sim, Davi era atraente. E carismático. E irritantemente divertido.
O tipo de homem que sabe o efeito que tem — e usa isso como uma arma.
Quando chegou em casa naquela noite, encontrou outro bilhete.
“Sexta. 20h. Pizza, cerveja e talvez eu te deixe vencer no Uno. Se você tiver coragem. – Vizinho Ainda Barulhento”
Ela encostou-se à porta, bilhete nas mãos, coração acelerado.
Não era só sobre a pizza. Nem sobre o jogo.
Era sobre saber que ele queria mais.
E o mais assustador? Ela também queria.
Ela só não sabia se queria ceder... ou lutar um pouco antes.
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Atualizado até capítulo 52
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