Capítulo 03 • Gabriel Mallardo

Embrulho a camisa do Cícero na minha mão e puxo seu corpo vigorosamente até que nossos narizes quase se encontram. Estou furioso, a sorte dele é que eu consigo me controlar, pois se não, parte dos seus ossos já estariam partidos.

- Você vai me pagar por cada dia de trabalho que a funcionária que você agrediu perdeu. - O medo se alastra em seus olhos. - Ela está com o rosto todo machucado\, e levará pelo menos duas semanas para que a melhor maquiagem do mundo cubra os danos que causou. - Só de pensar que uma das minhas melhores atendentes\, a quem confio os clientes mais abastados\, foi agredida por esse filho da putaria\, tenho vontade de parti-lo em pedaços.

- Gabriel\, peço desculpas\, mas suas cobranças acabaram me irritando. Apenas demonstrei que ela deveria permanecer em silêncio e me obedecer.

- Que se dane! - desferi um soco nele\, fazendo-o cair para trás. Com uma técnica de Taekwondo\, acerto um chute na lateral do seu pescoço\, lançando-o ao chão sem chances de defesa. - Cícero\, você é um sortudo. - Toco em seu peito\, provocando um gemido. - Se você não tivesse mostrado tanta lealdade à Camorra desde que assumimos o poder\, eu te mataria por me causar tantas dores de cabeça na minha joalheria.

Estou mais firme com o pé em seu tórax, até que me distancio. Ao encarar seu rosto aterrorizado, arrumo meu terno. É agradável observar seu medo, ele precisa compreender que não haverá uma segunda chance se prejudicar algo que me é importante.

- Em breve\, você receberá o valor referente ao dia de trabalho da Rose que foi perdido. Ele começa a tossir. - Também vou cobrar o que estou desembolsando com medicamentos.

- Necessito de um período extenso\, não possuo tanto capital.

- Entregue o seu rabo aos velhos pervertidos de Nápoles\, se vire! Quando eu for cobrar\, preciso do meu dinheiro em mãos\, caso contrário\, não desperdiçarei mais tempo com você. Cesar virá até você.

Hoje estou concedendo uma exceção a ele por seus relevantes serviços à Camorra. No entanto, isso não me impedirá de matá-lo. Um passo para trás e pronto.

Estou extremamente irritado ao sair da sala dele, batendo a porta com força. Percorro o corredor, ignorando os olhares desconfiados dos colaboradores. Não possuo assuntos com eles, já tive uma reunião com o proprietário do bar e deixei a mensagem que me levou até aqui.

Saio pela entrada dos fundos do local, evitando me misturar com os frequentadores que geralmente estão sob efeito de drogas. Respiro profundamente ao sair do beco, sentindo um vento gelado no rosto. Agora estou indo para casa, saboreando uma refeição saborosa, antes de relaxar na minha cama.

O dia foi intenso, estou realmente exausto.

- Por gentileza\, não. Eu suplico - escuto o pedido carregado de desespero.

Direciono minha atenção para um ponto do beco perto das lixeiras. Inicialmente, reconheço dois homens. Com a movimentação de um deles, noto a pequena mulher que despertou meu interesse com sua súplica.

- Não temos piedade - afirma um dos rapazes ao iniciar a abertura da calça da moça.

A situação é absurda, acho cômico homens que forçam o sexo. Gosto de ver as mulheres suplicando pelo meu pau, meu prazer reside no desejo que percebo em seus olhares. No entanto, cada um faz suas próprias decisões.

Acabo desconsiderando a situação, já que não estou envolvido, mas o som do choro da menina me perturba de uma maneira surpreendente. Quando começo a caminhar para a confusão, solto um grito interno, sem compreender o que estou fazendo.

- Afastem-se dela - grito irritado. Não com eles\, mas comigo mesmo por me envolver em um assunto que não é meu. - Não vou pedir mais uma vez - Os tolos olham para o lado\, reconhecendo-me imediatamente. - Ainda vejo as mãos na moça\, isso não me agrada.

- Senhor Mallardo\, é uma questão nossa - um deles diz com a voz oscilante.

- Você é surdo? - Coloco a mão no coldre. - Não se aproximem dela. - Aponto minha arma para eles. - Esta cidade é minha\, não há assunto aqui que eu não possa me envolver. - A mulher cai no chão\, fechando os olhos ao ver o infeliz que a segurava se distanciar.

- Ela é apenas uma puta que se faz de difícil\, vamos nos divertir logo\, podemos deixá-la viva para evitar a presença da polícia e prejudicar os negócios.

- Venha cá\, jovem - faço um gesto com a mão\, destacando minha solicitação.

O temor que ele transmite faz meu sangue pulsar mais intensamente. Aprecio quando as pessoas expressam esse sentimento quando estão diante de mim.

Assim que ele entra no meu perímetro, dou um soco em seu rosto que o arremessa ao chão, batendo violentamente o corpo contra uma das lixeiras. Encosto-me a ele, segurando seu pescoço antes de pronunciar:

- Não me diga o que fazer\, filho de uma puta.

Movo a mão rapidamente até agarrar seu pescoço e bater algumas vezes no metal da lata de lixo. Escuto um ruído a tempo de observar o outro infeliz correndo em desespero. Posso deter sua fuga com apenas um disparo, mas não o farei. Ele não me insultou, portanto, não há razão para me desgastar com sua imagem desonesta.

Os meus olhos se fixam na menina aconchegada contra a parede. Ela está cobrindo os joelhos com as mãos, ocultando sua seminudez. Um dos seus agressores rasgou sua blusa, quase deixando-a totalmente nua.

- Por favor\, não me cause danos - ela implora antes de soltar um soluço profundo.

Fico imóvel apenas observando seus ombros se contraírem. Não consigo sentir compaixão por lágrimas femininas. Há muito tempo, a única mulher com quem me importava já se foi.

- Não pretendo te ferir - afirmo com sinceridade - No entanto\, poderia - escondo a arma no coldre. - Preste atenção em mim - peço\, ao perceber que não acatou minha ordem.

Gradualmente, ela levanta o rosto e toda a minha respiração se agarra aos meus pulmões ao observar seus expressivos olhos castanhos me encarando com receio. O seu nariz é suave, o lábio inferior possui um volume sensual, alguns fios de cabelo estão agarrados ao seu rosto e uma das bochechas exibe uma tonalidade vermelha, possivelmente devido a algum golpe.

Inocência.

Esta palavra invade o meu pensamento ao traçar cada detalhe do seu rosto lesionado. Ela é atraente, distinta das mulheres que já conheci, e posso garantir que não é desta cidade, nem é uma puta, como o homem disse.

Que mal ela está causando em um bairro extremamente perigoso de Nápoles?

- Você está aqui sozinha? – questiono\, intrigado.

- Sim. - Percebo que está suando.

- O seu veículo está próximo? - Retiro o meu traje social. Ela não pode deixar este local com essa camiseta rasgada.

- Eu não possuo carro. - Ela coloca a palma da mão no nariz. - Estava solicitando um transporte por aplicativo quando fui abordada.

- Vista isso - Aponto a peça para você - Estavam juntos? - Sua cabeça oscila de um lado para o outro\, negando minha pergunta ao vestir a roupa.

- Nunca os encontrei\, estava no bar e um deles tentou seduzir-me\, mas eu recusei. Quando parti\, fui atacado.

Respiro profundamente. Homens inaptos não têm a habilidade de seduzir suas próprias mulheres.

- Erga-se. – Estendo o braço para te auxiliar.

Ela olha com hesitação para a minha mão e isso me incomoda. Se ela soubesse que minha atitude é completamente desproporcional ao meu comportamento, aceitaria prontamente a minha ajuda.

Por fim, a garota se move e entrelaça sua mão macia na minha. Um calor incomum me invade, mas logo descarto a sensação incomum.

- Vou te retirar deste lugar com segurança - pronuncio ao recuar após tê-la em pé - Apenas siga-me - Inicio a caminhada\, mas noto que ela não me segue. Estou completamente expirado. Era só o que me faltava\, ter que lidar com esse tipo de coisa no fim da noite. – Qual é o problema\, moça? – pergunto\, olhando por cima do ombro\, ao perceber que está imóvel\, abraçando o próprio corpo.

- Peço desculpas\, mas minhas pernas estão tremendo muito. – Passo a mão pelo rosto antes de me virar e me dirigir a ela.

Sem expressar nada, coloco seu corpo sobre o meu ombro. Ela exclama surpresa com a minha ação.

- O que está fazendo? – questiona\, segurando minha camisa com força.

- Não disseste que não conseguia caminhar? Estou te auxiliando\, caralho! – Não vou ser gentil\, já estou fazendo concessões demais por uma mera estranha.

Estou à espera de algum tipo de manifestação, mas felizmente ela mantém a boca fechada. Decidindo curtir a noite inteira, destranco as portas do meu carro e abro a do passageiro.

Não tenho nenhuma delicadeza ao jogar a garota no banco. Dou a volta no carro sem ligar para os olhares curiosos, todos sabem que devem fingir que não me notaram.

- Para onde devo te levar? – Ligo o carro.

- Por que está me ajudando? – A encaro irritado.

- Não obtive minha resposta. - Minha atenção está focada quando sua língua molha os lábios.

Não há intenção alguma de ser sedutora, porém, sem querer, ela faz meu corpo esquentar. Ela acaba determinando o local. Trata-se de um bairro do subúrbio, inadequado para uma jovem claramente em situação de vulnerabilidade.

Realizo uma manobra irregular na rua para alcançar a sua residência. Mesmo que eu possuísse um veículo policial, ninguém seria capaz de me censurar por infringir as normas de trânsito.

Embora esteja intrigado com sua aparência, percorro o trajeto até o seu endereço em silêncio total, ouvindo apenas ela tentando conter as lágrimas. É preferível não revelar muito, já ultrapassei os limites hoje.

- É aquele edifício. - Ela indica uma estrutura insegura. - Não consigo expressar minha gratidão pelo que você fez. Se você não estivesse aqui\, eu teria sido... - sua voz embarga.

- Não desejo agradecimentos - inclino-me sobre o seu corpo\, abrindo a porta ao seu lado ao estacionar - Evite transitar em áreas com o Centro Histórico para evitar confusões. Claramente não é nativa de Nápoles\, portanto desconhece as normas locais. - Envolvo seus olhos nos meus. - Se se envolver com drogas\, saiba que não será tolerada por ser mulher. Neste lugar\, as situações são mais severas.

- Posso ter atuado como seu anjo protetor hoje\, porém\, se ela tiver dívidas com a Camorra\, terá que arcar com as consequências.

- Não consumo drogas.

- Bom para você. - Espero que você se vá\, mas isso não ocorre. - Se puder\, deixe este bairro\, é perigoso.

- Não tenho como pagar por outra área.

- Portanto\, providencie a compra de uma arma.

- Poderia me aguardar um instante? Eu vou colocar uma camiseta e devolver o seu terno.

- Acompanhe-o\, tenho outros como ele. – Faço um sinal para que desça do veículo.

- Obrigada novamente - ela diz ao se despedir.

- Tome cuidado\, você teve a sorte de me encontrar hoje\, isso não se repetirá mais. – Pela última vez\, encaro seu rosto. Ela é muito bonita e esse seu jeito delicado me desperta um desejo inusitado de protegê-la.

Encerro a porta para encerrar definitivamente nossa comunicação. Ela já provocou em mim comportamentos incomuns, desde que cruzou meu caminho, é hora de abandonar a minha rotina. Com firmeza, seguro o volante e acabo abrindo a janela do passageiro.

- Entre no prédio agora\, pare de se meter em apuros. - Estou com ira por me preocupar com uma pessoa desconhecida.

Estou contente quando ninguém discute e entra no prédio. Espero que ela se mude daqui, já que uma mulher como ela deveria circular apenas em bairros de luxo, e não na sujeira de um bairro sujo, repleto de indivíduos com problemas legais.

Capítulos
1 Introdução
2 Prólogo • Gabriel Mallardo
3 Capítulo 01 • Gabriel Mallardo
4 Capítulo 02 • Amanda Fainelle
5 Capítulo 03 • Gabriel Mallardo
6 Capítulo 04 • Amanda Fainelle
7 Capítulo 05 • Gabriel Mallardo
8 Capítulo 06 • Amanda Fainelle
9 Capítulo 07 • Gabriel Mallardo
10 Capítulo 08 • Gabriel Mallardo
11 Capítulo 09 • Amanda Fainelle
12 Capítulo 10 • Gabriel Mallardo
13 Capítulo 11 • Gabriel Mallardo
14 Capítulo 12 • Amanda Fainelle
15 Capítulo 13 • Gabriel Mallardo
16 Capítulo 14 • Gabriel Mallardo
17 Capítulo 15 • Amanda Fainelle
18 Capítulo 16 • Gabriel Mallardo
19 Capítulo 17 • Amanda Fainelle
20 Capítulo 18 • Gabriel Mallardo
21 Capítulo 19 • Amanda Fainelle
22 Capítulo 20 • Gabriel Mallardo
23 Capítulo 21 • Gabriel Mallardo
24 Capítulo 22 • Gabriel Mallardo
25 Capítulo 23 • Gabriel Mallardo
26 Capítulo 24 • Gabriel Mallardo
27 Capítulo 25 • Amanda Fainelle
28 Capítulo 26 • Gabriel Mallardo
29 Capítulo 27 • Gabriel Mallardo
30 Capítulo 28 • Gabriel Mallardo
31 Capítulo 29 • Amanda Fainelle
32 Capítulo 30 • Gabriel Mallardo
33 Capítulo 31 • Amanda Fainelle
34 Capítulo 32 • Gabriel Mallardo
35 Capítulo 33 • Amanda Fainelle
36 Capítulo 34 • Gabriel Mallardo
37 Capítulo 35 • Gabriel Mallardo
38 ​​Capítulo 36 • Gabriel Mallardo
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
Introdução
2
Prólogo • Gabriel Mallardo
3
Capítulo 01 • Gabriel Mallardo
4
Capítulo 02 • Amanda Fainelle
5
Capítulo 03 • Gabriel Mallardo
6
Capítulo 04 • Amanda Fainelle
7
Capítulo 05 • Gabriel Mallardo
8
Capítulo 06 • Amanda Fainelle
9
Capítulo 07 • Gabriel Mallardo
10
Capítulo 08 • Gabriel Mallardo
11
Capítulo 09 • Amanda Fainelle
12
Capítulo 10 • Gabriel Mallardo
13
Capítulo 11 • Gabriel Mallardo
14
Capítulo 12 • Amanda Fainelle
15
Capítulo 13 • Gabriel Mallardo
16
Capítulo 14 • Gabriel Mallardo
17
Capítulo 15 • Amanda Fainelle
18
Capítulo 16 • Gabriel Mallardo
19
Capítulo 17 • Amanda Fainelle
20
Capítulo 18 • Gabriel Mallardo
21
Capítulo 19 • Amanda Fainelle
22
Capítulo 20 • Gabriel Mallardo
23
Capítulo 21 • Gabriel Mallardo
24
Capítulo 22 • Gabriel Mallardo
25
Capítulo 23 • Gabriel Mallardo
26
Capítulo 24 • Gabriel Mallardo
27
Capítulo 25 • Amanda Fainelle
28
Capítulo 26 • Gabriel Mallardo
29
Capítulo 27 • Gabriel Mallardo
30
Capítulo 28 • Gabriel Mallardo
31
Capítulo 29 • Amanda Fainelle
32
Capítulo 30 • Gabriel Mallardo
33
Capítulo 31 • Amanda Fainelle
34
Capítulo 32 • Gabriel Mallardo
35
Capítulo 33 • Amanda Fainelle
36
Capítulo 34 • Gabriel Mallardo
37
Capítulo 35 • Gabriel Mallardo
38
​​Capítulo 36 • Gabriel Mallardo

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!