Capítulo 02 • Amanda Fainelle

Pela janela do pequeno apartamento que reservei desde que cheguei a Nápoles, observo o exterior. Esta cidade é desagradável. Mesmo com o vento marítimo, o tempo está quente e seco. Isso sem mencionar a ausência de sensibilidade dos indivíduos.

Sou uma garota do interior e não estou habituada à insanidade presente neste lugar. Cheguei até aqui porque não consigo aceitar a perda do meu irmão para o vício em drogas. Ele representa o que sobrou da minha família e, até que todas as minhas oportunidades se esgotem, lutarei por ele.

- Onde estás\, meu irmão? – questiono\, fixando o olhar no horizonte.

Diogo abandonou a reabilitação pela quarta vez. Esta é a segunda vez que você desiste desde que perdemos sua mãe. Durante a vida do nosso pai, ele se esforçava ao máximo para controlar seu vício, já que o papai era extremamente rigoroso e vivia vigiando-o.

No entanto, para minha tristeza, ele faleceu repentinamente de um ataque cardíaco enquanto trabalhava na marcenaria onde passou parte da sua vida. Desde aquele dia, Diogo perdeu o controle e tanto a nossa mãe quanto eu batalhamos bravamente para que ele abandonasse o vício em drogas.

Lamentavelmente, não obtivemos êxito, ele não resistiu às internações. Tudo se agravou após a morte da nossa mãe. Neste instante, ele se perdeu completamente nas substâncias ilícitas.

Tentei ao máximo salvá-lo dessa existência, utilizando boa parte do que meus pais me deixaram para auxiliá-lo. No entanto, Diogo roubou tudo o que podia. Por sorte, a mamãe reservou uma parte do nosso dinheiro para mim, e eu consegui guardar essa quantia. Por isso, estou aqui, pois, caso contrário, não teria como ir atrás do meu irmão.

Afasto-me da janela e caminho até a cozinha para pegar um café. Como conheço o movimento dos dependentes, só sairei à noite na tentativa de encontrar meu irmão. Agora, tudo o que eu desejava era voltar à faculdade e levar uma vida normal, como uma jovem criada em uma família carinhosa em Sorrento. No entanto, não posso tomar essa decisão ao saber que meu irmão está se matando todos os dias.

Diogo representa a minha única família, e lutarei para salvá-lo até o meu último resquício de esperança.

Peço com esperança: - Mãe, não cesse de me fornecer forças, um dia o encontrarei e, desta vez, ele não vai mais desistir. Estou confiante de que retornarei à minha cidade natal para uma nova existência, ao lado do meu irmão.

Após uma semana nesta cidade, descobri alguns locais onde os dependentes costumam se encontrar. Com minha habilidade de comunicação eficaz, consegui me comunicar com algumas pessoas no desagradável bairro onde estou hospedada.

Isso me indicou um caminho para encontrar Diogo, espero ter a sorte de encontrá-lo esta noite.

- Apenas uma cerveja - solicito à mulher que se encontra no bar.

Ela afirma: - Já estou trazendo, linda, ao pegar uma caneca e enchê-la até que se forme uma espuma densa no topo antes de transbordar.

Ao pegar a bebida, agradeço e procuro meu irmão entre os presentes, mas até onde minha visão alcança, não há sinal dele. Esta cidade não pode ser tão extensa a ponto de impedir o cruzamento de nossos caminhos.

Ele está em algum lugar, pois descobri através dos meus contatos que tomou um ônibus para Nápoles. Isso faz todo o sentido, pois Diogo sempre teve o sonho de visitar a cidade. Continuo observando o salão, na expectativa de ter perdido algum pormenor e não ter percebido meu irmão.

Diogo já alterou sua aparência várias vezes, com o intuito de enganar a família. No entanto, como já o vi em diversos perfis, acredito que nenhuma alteração que faça me impedirá de identificá-lo.

- Você está à procura de alguém\, gatinha? – a funcionária que me serviu questiona. Reflito um instante antes de responder a ela.

- Estou - decido ser honesto\, ela pode me auxiliar\, mas se eu não interagir\, minha procura se tornará mais complexa. - Meu irmão está na cidade\, vim procurar por ele.

- Ele não informou onde se encontrava? - Suas sobrancelhas se levantam.

- Não. - Respiro profundamente - Meu irmão enfrenta problemas com... - Encerro os olhos sem conseguir concluir a frase.

- Entendo. - A mulher inicia a arrumação de alguns copos - Esta cidade é perigosa para indivíduos como ele - ela me encara - Na verdade\, Nápoles é um lugar perigoso em todos os aspectos\, projetado para arruinar a vida de qualquer pessoa.

- Lamentavelmente\, meu irmão teria problemas em qualquer lugar\, ele está completamente desorientado\, não sei mais o que fazer - desabafo\, já não tenho mais ninguém para compartilhar minhas dificuldades. Desde a morte da minha mãe\, estou completamente só.

- Talvez seja mais vantajoso você seguir sua vida\, algumas pessoas não justificam nosso esforço - Ela sugere.

- Apenas o tenho como família\, não o deixarei ir.

- Compreendo. – Seus olhos se encontram com os meus. - Há um bar próximo\, localizado no Centro Histórico da cidade. É possível que você encontre vestígios dele por lá. É um local bastante conhecido para a compra de todos os tipos de drogas ilícitas - seu semblante se endurece - Mas tenha cuidado\, este não é um local adequado para garotas bonitas como você - o elogio dela me surpreende.

Não sou habilidosa em receber elogios, fico envergonhada, até porque ninguém me considera bonita. Desejava ter o charme de Paulina, minha colega de classe. Ela é bela, encantadora e extremamente extrovertida.

- Agradeço pela sugestão\, irei imediatamente até lá - me levanto.

- Não vai acabar a sua cerveja?

- Deixo para uma próxima oportunidade. - Pago o que devo.

- Desejo-lhe sorte e cuidado. – Digo antes de deixar o bar.

Espero ter sorte desta vez, pois preciso encontrar Diogo e deixar esta cidade para nunca mais voltar.

O ambiente é dominado pela música alta, juntamente com a fumaça de cigarro e outras coisas que não quero refletir agora. Estou aqui com um propósito específico, o resto não tem relevância.

Direciono-me ao bar, este é o local ideal para observar as pessoas sem chamar muita atenção. Peço novamente uma cerveja, mesmo que não tenha vontade de beber.

Preciso aparentar ser uma visitante habitual, chamar a atenção nunca é uma boa estratégia. Presto atenção ao meu entorno, este bar é consideravelmente pior do que o anterior em que eu estava. Os frequentadores são evidentemente viciados, mesmo estando em um bairro bastante distinto do anterior.

Evito refletir sobre os perigos que estou enfrentando, apenas preciso encontrar meu irmão e deixar essa cidade o mais rápido possível. Nápoles não é para mim, prefiro a tranquilidade, tudo aqui é muito inusitado.

Diogo, apareça, estou cansado de esperar aqui. Faço essa solicitação mentalmente, preciso localizá-lo antes do pior ocorrer.

Estou explorando todo o ambiente com o olhar, buscando encontrar alguém que pelo menos se pareça com ele, contudo, nesse momento inicial, não consigo obter sucesso. Estou tão exausta, só desejava voltar para a minha casa e seguir com a minha vida tranquila.

Estudo cada indivíduo que entra no bar durante vinte minutos. Durante esse período, tenho a sorte de parecer invisível, já que a maioria das pessoas não está suficientemente sóbria para se importar comigo.

Dois rapazes param ao meu lado e solicitam suas bebidas. Finjo não notar sua presença, mas observando de lado, percebo que estão me observando. Espero que não prestem atenção em mim, não estou pronta para um estresse.

- Está esperando alguém? – questiona um deles.

A minha felicidade terminou, estava tudo tão agradável.

- Estou apenas observando.

- Se não há ninguém em particular\, podemos conversar? – meu corpo se contrai ao olhar lascivo que ele me lança.

- Não quero conversa - exclamo ao segurar meu copo de cerveja. - Desculpe - me afasto\, para evitar um contato desnecessário.

Vou em direção à outra extremidade do balcão do bar, mas de onde estou, posso perceber o olhar desconfiado do homem que tentou seduzir-me. Ele comenta algo com o amigo, que eleva o olhar até mim.

Sinto um calafrio percorrer meu corpo ao olhar para você, desvio o olhar imediatamente, não quero que preste atenção em mim. Tento desconsiderar ambos e voltar a focar nos frequentadores do local, não posso perder o foco. Qualquer descuido meu pode resultar na possibilidade de perder a presença de Diogo.

À medida que o tempo avança e não encontro vestígios do meu irmão, a desmotivação me domina, terei mais uma noite de desapontamento para a minha infelicidade. Quando o cansaço me domina, estou com fome, e preciso ir para casa para comprar algo antes de tentar adormecer.

Saio do bar com um sentimento de derrota, não quero pensar que Diogo perdeu definitivamente. Tenho que manter a esperança ou vou entrar em colapso. Utilizo o telefone para procurar um carro por aplicativo. Estou afastado do meu apartamento, é inviável caminhar até lá.

Iniciei a digitação do endereço, porém antes que eu conseguisse confirmar a rota, uma mão se aperta em minha boca. Quando me ajoelho na tentativa de me soltar, meu celular cai quando um braço forte me segura, levantando meus pés do chão.

Tento gritar, mas a mão que me prende a boca só me permite soltar murmúrios. Estou completamente incapaz de evitar quando sou levada para um beco. Os meus olhos se enchem de lágrimas, pois tenho plena consciência do que está por vir.

- Você poderia ter evitado isso - uma voz suave sussurra ao meu ouvido - No entanto\, optou por ser uma vadia difícil. Ao olhar para o homem à minha frente\, percebo que é o mesmo que tentou conversar comigo no bar. - Então\, teremos que usar a abordagem mais difícil.

- Fuja de mim - ainda peço que o medo ocupe cada parte de mim.

- Ela é corajosa. - Escuto uma voz distinta e reconheço o outro homem que estava ao lado do meu agressor. - Vai ser divertido. - Ele lança o cigarro que carregava no chão e pisa nele.

- Já estou me divertindo - tento correr\, mas sou impedida violentamente. - Não resista\, sua piranha - exclamo quando ele aperta minhas costas contra a parede. - Vamos te foder até essa boceta sangrar e depois vamos ponderar se te deixamos viver.

- Ela não vai resistir\, farei questão de rasgar completamente seu interior - afirma o outro ao se aproximar. Não desisto e me debato\, clamando por ajuda\, lutarei até esgotar minhas forças.

- Cala a boca\, porcaria! – O homem me dá um soco tão forte no rosto que fico tonta - Você vai ficar calada enquanto nos fodemos - Ele continua me agredindo\, mas desta vez acabo mordendo o lábio\, fazendo o sangue jorrar do local.

Embora saiba que não posso escapar, me debato, não posso me entregar facilmente. Eles podem me estuprar, mas o farão lutando contra mim. Lágrimas rolam pelo meu rosto ao rasgarem minha blusa, o ar gelado da noite toca a minha pele, a vontade de vomitar me invade quando uma mão forte pressiona meu seio a ponto de me fazer gritar de dor.

Risos rasgam o ar, eles se divertem com o meu desespero, o que aumenta ainda mais a minha sensação de nojo.

- Não\, por favor\, eu suplico - ele chorando\, tentando manter um resquício de esperança de que me escutem.

- Não temos piedade - afirma o homem ao iniciar a abertura da minha calça.

- Afastem-se dela. - uma voz grave se aproxima de nós - Não vou solicitar mais uma vez. - o ar parece paralisar quando meus estupradores olham para o lado\, mesmo tremendo de medo\, percebo que eles paralisam - Ainda consigo ver as mãos na menina\, isso não me agrada.

- Senhor Mallardo\, é um tema nosso - um deles expressa claramente temor.

- Você é surdo? - tento identificar quem é o meu salvador\, mas seu rosto está oculto pelas sombras. - Afastem-se dela. - Meu coração acelera ao ver o brilho prateado de uma arma. - Esta cidade é minha\, não há assunto aqui que eu não possa me envolver. - Caio ao chão quando o homem que me segurava se afasta.

Fecho os olhos e peço a Deus que me liberte desta situação, mesmo que pareça inalcançável.

Capítulos
1 Introdução
2 Prólogo • Gabriel Mallardo
3 Capítulo 01 • Gabriel Mallardo
4 Capítulo 02 • Amanda Fainelle
5 Capítulo 03 • Gabriel Mallardo
6 Capítulo 04 • Amanda Fainelle
7 Capítulo 05 • Gabriel Mallardo
8 Capítulo 06 • Amanda Fainelle
9 Capítulo 07 • Gabriel Mallardo
10 Capítulo 08 • Gabriel Mallardo
11 Capítulo 09 • Amanda Fainelle
12 Capítulo 10 • Gabriel Mallardo
13 Capítulo 11 • Gabriel Mallardo
14 Capítulo 12 • Amanda Fainelle
15 Capítulo 13 • Gabriel Mallardo
16 Capítulo 14 • Gabriel Mallardo
17 Capítulo 15 • Amanda Fainelle
18 Capítulo 16 • Gabriel Mallardo
19 Capítulo 17 • Amanda Fainelle
20 Capítulo 18 • Gabriel Mallardo
21 Capítulo 19 • Amanda Fainelle
22 Capítulo 20 • Gabriel Mallardo
23 Capítulo 21 • Gabriel Mallardo
24 Capítulo 22 • Gabriel Mallardo
25 Capítulo 23 • Gabriel Mallardo
26 Capítulo 24 • Gabriel Mallardo
27 Capítulo 25 • Amanda Fainelle
28 Capítulo 26 • Gabriel Mallardo
29 Capítulo 27 • Gabriel Mallardo
30 Capítulo 28 • Gabriel Mallardo
31 Capítulo 29 • Amanda Fainelle
32 Capítulo 30 • Gabriel Mallardo
33 Capítulo 31 • Amanda Fainelle
34 Capítulo 32 • Gabriel Mallardo
35 Capítulo 33 • Amanda Fainelle
36 Capítulo 34 • Gabriel Mallardo
37 Capítulo 35 • Gabriel Mallardo
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Atualizado até capítulo 38

1
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2
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3
Capítulo 01 • Gabriel Mallardo
4
Capítulo 02 • Amanda Fainelle
5
Capítulo 03 • Gabriel Mallardo
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