Ecos do vazio

O sábado amanheceu com uma chuva fina, o tipo que não molha de verdade, mas transforma a cidade em um retrato melancólico. Song acordou mais tarde do que o habitual, ainda com o gosto do soju na boca e a lembrança da conversa com Jun pairando como uma nota sustentada.

Ele se levantou devagar, abriu a janela e deixou o ar fresco entrar. As ruas estavam vazias, e a névoa fazia os postes parecerem fantasmas imóveis. Song se sentou à frente do piano, mas os dedos hesitavam nas teclas. Era como se a música, por ora, estivesse calada dentro dele.

Recebeu uma mensagem.

Jun: Bom dia, dorminhoco. Espero que sua cabeça esteja bem. Quer almoçar comigo hoje? Minha mãe vai fazer bulgogi.

Song sorriu. A simplicidade com que Jun falava da vida era como um bálsamo. Mas... “minha mãe”? Aquilo o pegou desprevenido.

Song: Sua mãe? Tipo… conhecer mesmo?

Jun: Sim. Ela tá curiosa. Disse que você deve ser muito especial, porque faz tempo que não falo tanto de alguém.

Song sentiu um frio no estômago. Era cedo demais? Mas ele já sabia a resposta antes mesmo de terminar o pensamento.

Song: Ok. Só me diz o horário e o endereço.

Jun mandou um áudio rindo, cheio de felicidade:

— Você vai gostar dela. Ela é baixinha, dramática e fala com o gato como se fosse gente. Mas ela vai te amar.

---

Às 13h em ponto, Song desceu na estação mais próxima da casa de Jun. O bairro era tranquilo, com casas pequenas e jardins bem cuidados. Jun o esperava na calçada, com um guarda-chuva azul e um sorriso ansioso.

— Nervoso? — perguntou ele, entregando o guarda-chuva.

— Um pouco. E se ela não gostar de mim?

— Song… minha mãe adorou meu último namorado mesmo ele sendo um desastre. Você vai ser moleza.

Song não teve tempo de reagir ao “último namorado” porque a porta já se abria, revelando uma mulher de cabelo curto e expressão vivaz.

— Então você é o famoso Song! Entre, entre! Você é ainda mais bonito do que o Jun descreveu! — disse a mãe, já puxando o rapaz pela mão.

Song não sabia onde enfiar a cara.

A tarde foi surpreendentemente agradável. A mãe de Jun era um furacão de palavras, mas tinha um jeito afetuoso de envolver qualquer um na conversa. Perguntou sobre os estudos de Song, elogiou sua postura, e até comentou:

— Músico, hein? Sempre achei que o Jun devia namorar alguém que fizesse arte.

Song tossiu, engasgando com o chá.

— Mãe! — Jun reclamou, meio vermelho.

— Que foi? Tô mentindo?

Depois do almoço, Jun e Song se retiraram para o pequeno quarto de Jun, onde as paredes eram cobertas por pôsteres de bandas indie coreanas e luzes de LED azul. Jun ligou uma playlist baixa e se deitou no chão.

Song sentou-se na beirada da cama.

— Isso foi mais tranquilo do que eu imaginava.

— Eu disse. Você é fácil de gostar. Só precisa acreditar nisso.

O silêncio se instalou por alguns minutos, só interrompido por uma música suave.

Jun então falou, olhando o teto:

— Você já pensou em como seria… se isso aqui fosse algo real?

Song o olhou. O coração deu um salto.

— Você acha que não é?

— Quero que seja. Mas só se você também quiser.

Song desceu da cama, deitou-se ao lado dele e respondeu, com a voz firme:

— Eu quero.

E ficaram ali. Dois corpos lado a lado, dois corações batendo em compasso, dois mundos se tocando no meio de uma tarde chuvosa.

Era só o começo. Mas começava a soar como uma melodia que, uma vez ouvida, nunca mais se esquece.

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