Ecos do coração

Os dias que se seguiram ao ensaio na sala de prática pareciam diferentes para Song. Como se algo dentro dele tivesse sido acordado, como se uma melodia que vivia trancada em seu peito finalmente tivesse encontrado sua letra. Ele continuava cumprindo suas rotinas — aulas, estudos, treinos no piano — mas agora havia uma expectativa constante: a próxima vez que veria Jun.

E essa expectativa foi saciada mais rápido do que ele imaginava.

Naquela quinta-feira, enquanto revia partituras no pátio da universidade, uma sombra caiu sobre a mesa.

— Esperando por mim? — perguntou Jun, com seu sorriso torto e aquele brilho nos olhos que parecia carregar alguma travessura.

— Estava trabalhando — Song respondeu, tentando parecer sério. Mas o coração denunciava outra coisa. — E você?

— Passei aqui pra sequestrar você. Que tal uma tarde fora da rotina? Você vive muito preso nesse mundo de partitura.

Song arqueou uma sobrancelha. — E vai me levar pra onde?

— Segredo. Mas prometo que não envolve música clássica.

Apesar da hesitação inicial, Song foi. Pegaram o metrô juntos, Jun animado, falando sem parar sobre lugares, comidas de rua e filmes antigos. Song ouvia mais do que falava, mas gostava disso. Jun preenchia os silêncios com naturalidade, como se o vazio entre as palavras fosse tão valioso quanto elas.

Desceram numa estação que Song raramente usava. Caminharam por becos estreitos e calçadas cheias até pararem em frente a uma porta de madeira desgastada, com uma plaquinha quase apagada: “Estúdio Paralelo.”

— É aqui — disse Jun. — Eu ensaio com uns amigos aqui às vezes. Pensei que podia te mostrar meu mundo agora.

Dentro do estúdio, o ambiente era completamente diferente do conservatório de música que Song frequentava. Era cru, quase improvisado. Um sofá velho, garrafas vazias no canto, posters rasgados nas paredes. Mas havia alma ali. Havia vida. E no centro, uma bateria, um baixo, guitarras, e um microfone ligado a caixas de som que vibravam com o grave mesmo desligadas.

— Sobe ali — disse Jun, apontando para o tablado. — Quero ouvir de novo aquela melodia. Só que agora... com liberdade.

Song hesitou, mas se aproximou do piano elétrico. Tocou o primeiro acorde. Jun pegou o microfone. E ali estavam de novo: só os dois e a música. Mas dessa vez, era diferente. Não estavam mais apenas explorando notas e tons — estavam se conhecendo por meio deles.

Jun improvisava letras sobre um amor que ainda não começou, sobre promessas não feitas, sobre o medo de se abrir e a vontade de tentar mesmo assim. E Song respondia com arranjos que ora acolhiam, ora desafiavam, como se dissesse: “estou ouvindo... e quero entender.”

Quando a última nota ecoou e o silêncio caiu, os dois permaneceram imóveis.

Jun largou o microfone e caminhou até Song. Estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro.

— Sabe — começou Jun, com a voz mais baixa — eu nunca mostrei esse lugar pra ninguém. E também nunca cantei daquele jeito com ninguém. Você faz parecer fácil.

Song respondeu sem pensar muito:

— É porque... você também faz parecer fácil. Ser eu mesmo, quero dizer.

Os dois se entreolharam. Havia uma tensão no ar — não aquela que antecede uma briga, mas aquela que precede um passo importante, um toque, talvez até um beijo. Mas nenhum dos dois se moveu. Ainda não.

Jun desviou o olhar, rindo de si mesmo.

— Acho que estou ficando mole demais. Me avisa se eu estiver assustando você.

— Não está. — Song respondeu de imediato. — Só... me dá tempo.

Jun assentiu. — Eu posso esperar. Mas não muito devagar, lembra?

Song sorriu.

Na saída do estúdio, caminharam em silêncio por um tempo, até Jun estender um fone de ouvido para Song.

— Escuta isso.

Era uma gravação que haviam acabado de fazer. A voz de Jun, a melodia de Song. Uma harmonia improvisada, mas sincera. E naquela simplicidade, havia algo mais poderoso do que qualquer ensaio técnico. Havia sentimento.

Enquanto o som preenchia seus ouvidos, Song olhou para Jun, e pensou — talvez esse seja o começo de algo novo

Algo verdadeiro.

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